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segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Noite de terror em Barueri no "jogo da faca" entre São Paulo e Palmeiras

Texto e fotos: Fernando Martinez


A Copa São Paulo de Futebol Júnior chegou na sua fase semifinal e as duas partidas foram realizadas na região. Como não fui na sexta-feira no ABC assistir Santos x América/MG, resolvi marcar presença na sessão noturna na Arena Barueri entre São Paulo e Palmeiras. Poucas vezes me arrependi tanto de estar em um jogo de futebol.

Minha lista de jogos vistos em estádios conta com quase 3.300 partidas desde 1983. Já passei perrengues de todos os tipos. Tomei paulada de PM, derreti sob temperaturas altíssimas, me molhei até a alma com dilúvios dignos de Noé, dormi em rodoviária, aeroporto e afins e até ameaçado de morte fui. Dito isso, não me recordo de um ambiente tão ruim quanto o que cercou o clássico de sábado.

Tinha dúvidas se ia ou não e decidi de última hora. No caminho o clima já estava esquisito. O trem estava repleto de são-paulinos (só eles, claro, graças à aberração de torcida única até na base atestando a incompetência da PM em lidar com o problema) mas no ar a tensão era evidente. Cheguei na Estação Jardim Belval junto com vários integrantes de organizadas. Uma multidão seguiu a pé até a Arena.

As ruas próximas estavam fechadas e várias filas espalhadas por todos os cantos ocupavam a região do estádio. Me dirigi ao portão de imprensa e logo estava no gramado. Boa parte do pessoal ainda estava do lado de fora, porém algo me dizia que as coisas não iam bem. Poucas vezes a expressão "barril de pólvora" caiu como uma luva quanto no sábado.




Times posados e o quarteto de arbitragem e capitães do grande clássico entre São Paulo e Palmeiras na Copa São Paulo.

Bom, vamos falar um pouco do clássico: O tricolor vinha de sete partidas e sete vitórias. Os 100% de aproveitamento colocaram a equipe com o direito de ter a torcida a favor. O Palmeiras, que pese o fato de ser o melhor time do torneio, empatou com o Água Santa na fase inicial e, mesmo tendo vencido seus seis encontros restantes, perdeu o direito de ter torcedores seus acompanhando de perto. Apesar disso, eu considerava o time favorito.

A ação começou e a blitz alviverde, vista em praticamente todas as suas apresentações, deu resultado novamente. Logo aos quatro minutos Giovani roubou a bola de Pablo, entrou na área e chutou, abrindo o marcador. O São Paulo respondeu aos 12 com tiro de Vitinho na trave. Dois minutos depois Maioli assustou e Mateus, arqueiro verde, defendeu.

Após esse lance o São Paulo sossegou o facho e a peleja caiu de produção. O Palmeiras não assustava como no início e os "donos da casa" pecavam na troca de passes. Foi assim que o primeiro tempo chegou ao fim. Eu fiquei do lado direito das câmeras e permaneci lá na etapa final. Acabei vendo o grande momento da noite de longe, sem ter a exata noção do que estava acontecendo.





Lances do primeiro tempo do clássico em Barueri

Antes disso acompanhei o São Paulo retornar ao gramado disposto a lutar pelo empate. O alviverde se defendeu e poucas vezes chegou no campo de ataque. Nem a entrada da joia Endrick fez o time melhorar. Conforme a partida foi chegando perto do fim, o tricolor intensificou a pressão. Das arquibancadas, uma mistura de apoio com cobrança além da conta. Tinha muita gente infeliz com o resultado e a atuação da molecada.

Quando o tempo regulamentar chegou ao fim, o árbitro deu sete minutos de acréscimo. Sete minutos de esperança para o São Paulo. O relógio marcava 48 quando Talles finalizou com o pé direito e mandou a bola na trave. Faltando quatro, era hora de pressão total... isso se a torcida não estragasse tudo.

Aos 50, alguns animais invadiram o campo e partiram em direção aos atletas palmeirenses. Enquanto jogadores são-paulinos seguravam os invasores, o árbitro Matheus Candançan surgiu com uma faca, que teoricamente estava na posse de algum dos marginais, e levou ao quarto árbitro. Uma falha lamentável do policiamento em tantos níveis que falar sobre deixaria esse texto muito maior. Vale dizer apenas que frasco de alcool em gel é barrado pelos policiais, mas pelo visto entrar com uma arma branca não tem problema.

Demorou para que os seguranças tirassem as criaturas que pularam a grade do campo. Ali ficou claro que não tinha nenhum clima para que a partida continuasse. Só que depois da enorme confusão, a peleja recomeçou. Nos dois minutos restantes o São Paulo quase empatou. Não sei o que teria sido se o gol tivesse saído.






No segundo tempo, o Palmeiras se segurou bem e chegou na final do torneio



Duas imagens da grande confusão proporcionada por "torcedores" do São Paulo na Arena

No fim, o São Paulo 0-1 Palmeiras colocou o alviverde na decisão contra o Santos. Foi a pior apresentação da equipe na Copinha e duvido que eles repitam a dose na decisão. Eles entram como francos favoritos para a conquista da primeira taça na competição. O Peixe vai como azarão.

Da minha parte, ficou o gosto ruim de um clima péssimo, de uma situação que nunca tinha presenciado em estádios e a certeza que ver jogo grande não dá. Fiquei um bom tempo dentro da Arena esperando a massa ir embora. Mal sabia que a noite ainda estava longe de terminar.

O caminho até a Estação Jardim Belval foi tenso, com brigas no meio do caminho e uma atmosfera bélica. O trem estava estacionado na plataforma e eu, ingênuo, imaginei que ele não demoraria a sair. Ledo engano. Ficamos ali por uma hora e meia (!) esperando toda a organizada chegar. Dane-se quem precisa chegar logo em casa, dane-se quem mora longe, dane-se quem nem estava na Arena e vinha de um dia de trabalho. Pior: quando ele saiu, seguiu direto até a Barra Funda sem nenhuma parada. Eu levo geralmente menos de duas horas para chegar em casa e dessa vez levei mais de quatro. Uma vergonha e um dos maiores absurdos que já passei envolvendo um jogo de futebol.

Enfim, foi uma experiência bem ruim. Mas retornei à Barueri no domingo em um cenário completamente diferente na abertura oficial da Série A2 Paulista. Foram 90 minutos com outro clima.

Até lá!

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Ficha Técnica: São Paulo 0x1 Palmeiras

Em breve
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