Texto e fotos: Fernando Martinez
Na tarde de sábado, como aconteceu várias vezes em 2020, peguei a estrada mais uma vez, a última por enquanto, para uma cobertura do Jogos Perdidos. Na pauta, um genial duelo que não acontecia desde 1991 em Santa Bárbara D'Oeste. Mas não era o onze local em atividade, e sim o confronto de campo neutro entre Capivariano e Nacional pela 11ª rodada da primeira fase do Campeonato Paulista da Série A3 no Estádio Antônio Guimarães.
Tirando o Noroeste, a disputa da A3 está bastante equilibrada. Do quarto ao 14º lugar são apenas quatro pontos de diferença. O Nacional derrotou o Marília em casa no sábado retrasado em jogo que não contou com minha presença após três anos e meio e subiu para a 10ª colocação. Mesmo sem atuar em Capivari, jogar contra o Leão da Sorocabana, atual quarto colocado, seria uma dureza.
Falando um pouco de história, Capivariano e Nacional não jogavam há 29 anos. Em todos os tempos somente oito encontros, todos concentrados pela segundona entre 1987 e 1991. Neles, o escrete paulistano venceu cinco vezes e aconteceram três empates. Sim, o alvirrubro nunca tinha derrotado o centenário clube da Zona Oeste da capital na história. Ainda.
A caravana ao interior foi composta pela dupla Caio e Bruno, os dois que me acompanharam na insana cobertura do blog na primeira fase da Copa do Mundo sub-17. Já na gloriosa casa do União Barbarense encontramos o casal 20 Mário e Monique. Por conta um sutil atraso no almoço, cheguei na cancha na base do desespero com o Hino Nacional já tocando e os times perfilados. Só deu tempo de correr igual doido. Nem sei como consegui as fotos oficiais. Fui acompanhar o ataque nacionalista praticamente me arrastando.
Capivariano Futebol Clube - Capivari/SP
Nacional Atlético Clube - São Paulo/SP
O árbitro Alysson Fernandes Matias, os assistentes Diogo Correia dos Santos e Diogo Cruz Freire, o quarto árbitro João Batista Avelino e os capitães das equipes posam de forma exclusiva para o JP
Falar sobre o que aconteceu durante os 90 minutos é a coisa mais fácil: o Nacional nada fez e o Capivariano, mesmo sem se apresentar de forma primorosa, soube cozinhar o galo e vencer sem sustos. Foi irritante acompanhar outra apresentação ferroviária longe da capital tão abaixo da crítica. Incrível como os comandados de Tuca Guimarães não conseguem fazer o mínimo. Se em casa não perdem, longe da Comendador Souza pouco fazem. Não é à toa que não derrotam ninguém longe de São Paulo no estadual desde 2018.
Enquanto eu derretia espremido na única sombra possível fora os bancos de reservas, o Capivariano criou duas boas oportunidades na etapa inicial, aos 14 e aos 38 minutos, ambos com boa defesa de Luís Henrique em conclusão de Arthur e Douglas Netto. Aos 43, quando parecia que o intervalo chegaria com o marcador em branco, a bola foi alçada da esquerda dentro da área visitante. Veloso subiu mais alto e cabeceou contra o próprio gol, deixando os mandantes em vantagem.
Gustavo Índio (9), o artilheiro nacionalista que não conseguiu fazer muito contra a bem postada defesa do Capivariano
Ataque nacionalista pela esquerda debaixo de um fortíssimo calor em Santa Bárbara D'Oeste
Gustavo Índio, sempre ele, disputando bola pelo alto
Zagueiro do alvirrubro de Capivari se preparando para sair com a bola
Detalhe do primeiro gol no Antônio Guimarães, marcado por Veloso contra as próprias redes
Como tinha cumprido minha missão no gramado, fui curtir o tempo final na numerada perto dos amigos naquele bate-papo sempre animado. O Naça fez uma mini-pressão sem importância nos primeiros minutos só que logo o Capivariano voltou a ser melhor. Não demorou muito para que o alvirrubro ampliasse a vantagem com o gol de Léo aos 18 minutos.
Com o 2x0 a favor do clube de Capivari, a peleja caiu completamente de produção e o que valeu foi a conversa. Eu já imaginava, porém no fundo não queria acreditar que estava vivendo os últimos momentos num estádio de futebol num prazo a perder de vista. Preferi rir e continuar planejando coberturas que não acontecerão. Se vocês soubessem o cronograma que estava montado para a Segundona, Série D e afins... infelizmente nenhum deles vai virar realidade.
Conchal (11) num dos primeiros ataques do Leão da Sorocabana no segundo tempo
Os ataques do Nacional foram tímidos, como esses em lançamento na área e pela esquerda
Dois contra seis dentro da área... o Nacional não tinha como conseguir melhor sorte mesmo
O placar final de Capivariano 2-0 Nacional manteve o Leão da Sorocabana na 4ª colocação, agora com 18 pontos, e o escrete ferroviário na 10ª somando 13 pontos, dois acima da zona de rebaixamento. Com quatro rodadas a serem disputadas, o certame foi paralisado na segunda-feira junto com A1, A2 e a suspensão de todas as competições que teriam o pontapé inicial em abril. Tudo por conta da pandemia. Por mais triste que seja, a decisão da FPF foi 100% certa.
O futebol é menos importante do que o problema sério e inédito que assola o mundo neste momento, claro. Ainda assim é complicado pensar que não teremos a melhor válvula de escape possível para segurar a onda nos dias sombrios que nos esperam. Resta ter fé, fazer nossa parte e esperar que essa absurda e surreal situação passe de uma vez. Sim, vai demorar, vai ser sofrido e bem difícil. Temos que manter a sanidade a todo custo e torcer para que no final de tudo a gente possa olhar em retrospectiva e lamentar o menos possível.
É isso. Pela primeira vez nos 15 anos de JP eu escrevo uma matéria sem ter a menor noção de qual será a próxima. Que estejamos todos aqui no futuro bem de saúde para contarmos as histórias de sempre quando a bola voltar a rolar nos nossos gramados.
Até a próxima e se cuidem!
_________________________
Ficha Técnica: Capivariano 2-0 Nacional
Local: Estádio Antônio Guimarães (Santa Bárbara d'Oeste); Árbitro: Alysson Fernandes Matias; Público: 99 pagantes; Renda: R$ 790,00; Cartões amarelos: James Dean, Guilherme Lobo; Gols: Veloso (contra) 43 do 1º, Léo 18 do 2º.
Capivariano: Christopher; Gutierrez, Oliveira, Denis e Artur; Léo, Radsley (Walace), Brendon e Douglas Neto (Pablo); Lucas Lima (Jaburu) e Conchal. Técnico: Ricardo Costa.
Nacional: Luís Henrique; Veloso, Gabriel, Bahia e Ricardinho; André Rocha, Guilherme Noé, Matheus Teta (PH) e Guilherme Lobo (Emerson Mi); Gustavo Índio e James Dean (Vinícius). Técnico: Tuca Guimarães.
_____________