Texto e fotos: Fernando Martinez
Nem bem a preliminar tinha acabado - vitória chilena em cima da Costa Rica - e o jogo de fundo que fechou a rodada de abertura do Torneio Uber Internacional de Futebol Feminino pediu passagem. No histórico gramado do Estádio Paulo Machado de Carvalho, a seleção do Brasil enfrentou a seleção da Argentina em busca da vaga na final da competição. Além disso, a peleja marcou a esperadíssima estreia de Pia Sundhage no banco de reservas tupiniquim.
Depois que Vadão, o comandante das meninas brasileiras na Copa do Mundo, ganhou o bilhete azul a expectativa era que a CBF contratasse alguém melhor preparado para o cargo. A escolha foi a melhor possível pois a sueca é o grande nome da atualidade. Bi-campeã olímpica em 2008 e 2012 - ano em que foi eleita como a melhor técnica do ano pela FIFA - e vice mundial em 2010 com os Estados Unidos, ela também foi medalha de prata no Rio em 2016 com seu país natal.
A presença dela é importantíssima, só que não há como ser encarada como "salvadora da pátria". A treinadora vai precisar que a CBF e as federações estaduais também façam sua parte e tratem o futebol feminino com respeito. Isso sem falar da imprensa, né? Que saiam das redes sociais e comecem a acompanhar de verdade a categoria, algo que hoje não existe. Pode ser pouco, mas o JP vai continuar cobrindo a categoria como fazemos desde 2004.
As duas seleções perfiladas antes do apito inicial
De novo na base da carona, Brasil e Argentina posados
Direto da numerada descoberta - o credenciamento foi uma bagunça e não conseguimos ficar no gramado, como disse na matéria da preliminar - acompanhei uma partida em que o Brasil foi amplamente superior. As argentinas, embora animadas com a campanha heroica da Copa do Mundo, não foram páreo para as donas da casa, que atuaram sem Marta e Cristiane, uma dupla que sempre fará falta em qualquer time do mundo.
As locais criaram quatro bons momentos antes de Ludmilla abrir o marcador aos 17 minutos. A vantagem não diminuiu o ímpeto local e a veterana Formiga, no alto dos seus 41 anos, ampliou aos 41. Vale lembrar que ela se tornou a recordista de participações em Copas do Mundo na França. De 1995 a 2019, sete edições seguidas, ela esteve em todas, isso sem contar a presença em todas as edições dos Jogos Olímpicos até hoje. Um monstro.
Aos 35, Debinha fez o terceiro para delírio dos mais de 13 mil presentes no Pacaembu. Bia quase faz o quarto aos 41 e no intervalo a vantagem parcial de 3x0 praticamente já definiu a sorte do cotejo, restando saber de quanto seria o triunfo verde e amarelo. Vale lembrar que, se no masculino a rivalidade com a Argentina é enorme, no feminino isso não acontece. Em quinze duelos realizados até então, o Brasil tinha vencido doze, empatado um e perdido apenas dois. A diferença entre as meninas dos países vizinhos é enorme.
Na etapa final as locais voltaram mais de boa e a pressão não foi tão grande. Jogando na boa, o placar voltou a ser alterado aos 13 minutos em gol de cabeça da zagueira Erika escorando escanteio da direita. Várias alterações foram feitas e a partida caiu bastante de produção. Enquanto a bola rolava no relvado, o clima na arquibancada era sensacional. Defendo a tese que público do futebol feminino é diferente e a mistura com a torcida "tradicional" não seria nada saudável. Nada melhor do que ver famílias inteiras, crianças e meninas que se espelham nas atletas tupiniquins ocupando o estádio. No campo, ainda deu tempo de pintar o quinto tento local numa cabeçada contra de Juncos aos 37 minutos.
Bola perigosamente zanzando dentro da área argentina
No feminino, a rivalidade dos dois países é quase nula, bem diferente do masculino
Atletas locais na comemoração de um dos gols no primeiro tempo
Brasil atacando pela direita já na segunda etapa
Lance do quarto gol, marcado de cabeça pela zagueira Érika
Visão geral da velha cancha com um bom público na quinta à noite. Mais um capítulo da série "vá ao estádio antes que ele acabe"... pena que o fim está próximo
O resultado final de Brasil 5-0 Argentina colocou a seleção tupiniquim na decisão do Torneio Internacional contra o Chile. Já as portenhas disputarão o terceiro lugar contra a Costa Rica. Agora, é fato que a estreia de Pia Sundhage foi promissora. Se deixarem a simpática sueca trabalhar, podemos ter resultados mais dignos.
Antes de marcar presença na grande decisão na manhã/tarde de domingo, a agenda futebolística reservou a estreia do Nacional na segunda fase da Copa Paulista na tarde de sábado. Pena que, assim como vem acontecendo em toda a temporada, a apresentação tenha sido sofrível.
Até lá!
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Ficha Técnica: Brasil 5-0 Argentina
Competição: Torneio Uber Internacional de Futebol Feminino; Local: Estádio Paulo Machado de Carvalho (São Paulo); Árbitra: Edina Alves Batista (Bra); Público: 11.962 pagantes; Renda: R$ 132.402,00; Cartão amarelo: Chávez (Arg); Gols: Ludmila 18, Formiga 34 e Debinha 35 do 1º, Érika 14 e Juncos (contra) 37 do 2º.
Brasil: Bárbara; Letícia Santos, Kethellen, Érika e Tamires; Luana, Formiga (Aline Milene), Debinha (Millene) e Andressa Alves (Chu); Ludmila (Geisy) e Bia Zaneratto (Raquel). Técnica: Pia Sundhage
Argentina: Correa; Chávez (Gómez), Barroso, Sachs e Stabile; Santana, Mayorga, Benítez (Sole Jaimes) e Larroquete (Cabrera); Rodríguez e Oviedo (Juncos). Técnico: Carlos Borrello.
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