Texto e fotos: Fernando Martinez
A cobertura de quarta-feira no Campeonato Paulista da Segunda Divisão foi uma verdadeira volta ao passado. Depois de 14 anos sem assistir uma equipe da casa em ação, fui ao Estádio Carlos Ferracini em Caieiras conferir de perto o insólito duelo entre Colorado e Paulista de Jundiaí pela segunda rodada do Grupo 4.
Então com pouco mais de duzentos jogos na lista, eu fui pela primeira vez no principal palco futebolístico da cidade da Grande São Paulo há pouco mais de 20 anos, em 6 de maio de 2001. Naquele domingo a Série B3, a sexta divisão, teve a sua rodada inaugural e eu tive o prazer de acompanhar a estreia do falecido Paulista contra o Ginásio Pinhalense, que voltava à ativa após 24 anos com uma camisa vermelha e faixa transversal branca, igual o uniforme 2 da seleção peruana.
O Paulista ficou ali até 2002 e de 2003 a 2009 foi a vez do Força atuar como mandante no Carlos Ferracini. O local se tornou um habitué nas páginas do Jogos Perdidos com inúmeras coberturas desde nosso início em novembro de 2004. Acompanhamos o acesso do time laranja para a A3 em 2008 e eles jogaram lá nos dois primeiros anos na terceirona. Em 2010 tudo mudou e, por falta de laudos, o campo não foi mais utilizado. O Força perambulou por vários estádios e, rebaixado, abandonou o futebol profissional.
O complexo esportivo sediou apenas algumas partidas da base palmeirense em 2011 e 2012. E só. Foram anos sem nenhuma movimentação até a fundação do Colorado Caieiras Futebol Clube Ltda em setembro de 2019. Ano passado ficaram de fora da Segundona por falta de laudos e por conta da pandemia, adiando assim os planos para 2021.
Assim como fiz dezenas de vezes no começo do século, fui até Caieiras pelos trilhos da antiga Santos-Jundiaí. A simpática estação da CPTM permanece igual desde que o prédio atual foi construído em 1897 (!). Da plataforma até o portão de entrada do Carlos Ferracini andei um pouco mais de um quilômetro. O caminho não sofreu muitas mudanças e com o calor que estava fazendo, tive tempo de fazer um pit stop e bater um almoço maroto.
Cheguei na cancha e, em virtude dos protocolos de segurança, fui obrigado a dar a volta em todo o complexo, com direito a subir uma escadaria que faria inveja ao Led Zeppelin com sua Stairway to Heaven. Como a minha forma atual não é das melhores e a temperatura era de 34 graus, sofri igual um condenado. Alcancei o portão quase me arrastando e me credenciei.
Fachada do Estádio Municipal Carlos Ferracini, habitué do JP de 2004 a 2007 e a casa principal do futebol na cidade
Detalhes do Carlos Ferracini para o primeiro jogo profissional em mais de dez anos
Sem poder entrar no estádio, a rapaziada se fixou na rua de cima do local e viu o duelo entre Colorado e Paulista dali mesmo. No ápice do movimento mais de 50 pessoas ficaram por ali
Quando entrei notei alguns detalhes diferentes: A cabine de imprensa que atrapalhava todo mundo na beira do gramado foi reconstruída no alto da arquibancada. Agora ela não atrapalha mais a visão de ninguém. A arquibancada oposta foi esticada e as árvores que ficavam em cima dos degraus não existem mais. Aliás, essa foi a maior mudança: do outro lado existia apenas um grande barranco e agora abriram uma rua (!) por ali, a Rua Brasil. Existem casas em construção e a visão para o gramado é completa. Não à toa cerca de 50 pessoas viram o jogo sem crise.
Aqui as fotos oficiais antes do apito inicial. Foi a estreia do Colorado no futebol profissional atuando em casa
Apesar do calor, a partida foi boa, principalmente pela atuação dos donos da casa. O Colorado começou melhor do que o Paulista e a enorme diferença de históricos não entrou em campo. Demorou para os visitantes se encontrarem e quando a ficha caiu perdiam por 1x0. Luiz Henrique recebeu passe da direita e arriscou de muito longe. A pelota quicou na frente de Gabriel Affonso e morreu no fundo da rede aos 21 minutos.
O campeão da Copa do Brasil de 2005 acordou e dominou as ações até o intervalo chegar. Só que tudo ficou apenas no quase. Nos minutos finais, foram três os momentos de perigo. Gustavo fez brilhante defesa em cabeçada de Toninho aos 35 e a bola encontrou a trave duas vezes: aos 37 em conclusão de Bressan e aos 50 em voleio espetacular de Toninho. O Colorado estava nas cordas e agradeceu imensamente a chegada no intervalo.
Dois ataques do Paulista no começo do duelo
Luiz Henrique arriscou de longe e marcou o primeiro gol do Caieiras no Carlos Ferracini
Nos minutos finais o Paulista por pouco não empatou. No último lance, a bola encobriu o goleiro e bateu na trave após ataque pela direita
O técnico Fernando da Silva ajeitou as coisas no vestiário e os locais voltaram para o tempo final de novo tomando conta da peleja. Aos oito Gabriel Affonso desviou belo tiro de Chaves e aos dez o marcador foi ampliado. Chaves cobrou escanteio, o arqueiro deu rebote e a sobra ficou com Poti. O camisa 6 driblou o zagueiro e anotou 2x0. Golpe forte nas pretensões do Galo do Japi.
O escrete jundiaiense não foi capaz de assustar a zaga do Colorado, que ficou cozinhando a peleja em banho-maria, segurando a boa vantagem que conseguiu. Somente aos 43 minutos o Paulista diminuiu com o gol de cabeça de Henry completando escanteio batido pelo camisa 13 Cursino. Nos acréscimos tentaram emplacar uma blitz, porém não tiveram capacidade de igualar a contagem.
O Colorado começou o segundo tempo mais ligado, tanto que estufou as redes do onze visitante com Poti aos nove minutos
O Galo da Japi pressionou o Colorado em busca de melhor sorte. Na segunda foto, o gol de honra marcado por Henry de cabeça aos 43 minutos
O placar oficial do Carlos Ferracini mostrando a primeira vitória do Colorado Caieiras na história
O Colorado 2-1 Paulista foi a primeira vitória do onze de Caieiras na história do profissionalismo. Foi o triunfo de um time com menos de um ano de vida contra outro centenário e repleto de história e tradição. A equipe de Jundiaí vai precisar fazer um balanço urgente após dois rodadas sem vitória. Um clube com a importância que tem não pode estar nessa situação.
O caminho de volta, ainda debaixo de uma temperatura altíssima, foi sem pressa e de boa. Muito legal poder ter retornado a um local tão marcante dos primórdios do JP. Voltei à ativa no dia seguinte com jogo bem mais perto, agora pelo Paulista sub-20.
Até lá!
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Ficha Técnica: Colorado 2x1 Paulista
Local: Estádio Carlos Ferracini (Caieiras); Árbitro: Luiz Renato Cafundó Soares; Público e renda: Portões fechados; Cartões amarelos: Kauã, Poti, Vitinho, Alex; Cartões vermelhos: Chaves e Bruninho 40 do 2º; Gols: Luiz Henrique 21 do 1º, Poti 9 e Henry 43 do 2º.
Colorado: Gustavo; Luciano, Maicon, Miranda e Poti; Luiz Henrique, Léo, Kauã (Silas) e Chaves; Leonardo (Alex) e Juan Borel (Félix). Técnico: Fernando da Silva.
Paulista: Gabriel Affonso; Marquinhos, Bressan, Alex (Nenê) e Daniel (Davi); Cruz (Cursino), Xavi, Vitinho (Bruninho) e Carioca (Miqueas); Henry e Toninho. Técnico: Ricardo Chuva.
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