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sexta-feira, 1 de novembro de 2019

JP na Copa do Mundo sub-17 (parte 5): Ilhas Salomão na Lista!

Texto: Fernando Martinez. Fotos: Fernando Martinez (exceto a indicada)


Depois de curtirmos as duas primeiras rodadas da Copa do Mundo sub-17 em Goiânia, na manhã do dia 28 coloquei o pé na estrada com destino a Brasília. Na capital federal o cronograma reservava mais quatro partidas e quatro seleções novas, começando com o insólito e genial encontro entre Ilhas Salomão - uma daquelas equipes que provavelmente verei apenas uma vez na vida - e Itália na abertura do Grupo F do certame. 

Percorri os 200 quilômetros que separam a capital de Goiás do Distrito Federal em cerca de três horas. No caminho, tive o prazer de passar em frente ao Jonas Duarte, em Anápolis, e também do Serejão, em Taguatinga (esse devidamente incluído na lista com um Brasiliense x Sobradinho em 2012). Por volta das 14 horas cheguei, junto com o amigo Bruno, ao destino final. Dali, já com a presença de Caio Buchala, o terceiro integrante da Magical Mystery Tour, nos dirigimos ao glorioso Hotel Nacional, sede dos dois dias seguintes.


O terceiro dia de coberturas da Copa do Mundo sub-17 começou cedo. O percurso de Goiânia a Brasília foi percorrido nesse ônibus

Inaugurado nos anos 60, o local recebeu nomes ilustres na sua história, inclusive a Rainha Elizabeth quando a sua majestade visitou a cidade em 1968. Fiquei rico de repente para poder pagar um hotel desse quilate? Longe disso. Eu apenas aproveitei um descontaço monstro na estadia e paguei menos do que a diária de um Íbis qualquer na capital paulista. Apesar de antigo e um pouco abandonado, o lugar ainda respira o glamour do passado. Minha dupla com o Bruno foi marcante, uma espécie de Dean Martin e Frank Sinatra do Século XXI.

Não tivemos muito tempo de descansar, já que partimos para a terceira rodada da viagem às três da tarde. O destino era o Estádio Walmir Campelo Bezerra, o Bezerrão, casa da Sociedade Esportiva do Gama. Essa foi a minha primeira vez na cancha e o meu glorioso retorno à capital do país após cinco anos. Meu último jogo na cidade tinha sido a lamentável decisão de terceiro lugar da Copa do Mundo de 2014, o horrendo Brasil 0x3 Holanda. Foi minha última partida em Copas do Mundo, pelo menos até agora.

Pouco antes das quatro da tarde chegamos próximos ao magistral estádio e descobrimos um fast-food providencial na região. Além da refeição ser boa, conseguimos estacionar o possante a 300 metros do portão principal. Chegando próximo da entrada pude notar com propriedade a grandiosidade da construção e fiquei bem impressionado. Inaugurado em 1977, o campo passou por reforma no meio dos anos 2000 e foi reinaugurado com o famoso Brasil 6x2 Portugal em novembro de 2008. A capacidade atual é de cerca de 20 mil pessoas.


Detalhe da belíssima fachada do Bezerrão, na cidade-satélite do Gama

Logo me dirigi ao setor de imprensa e, por ser o principal palco do mundial, o espaço reservado era bem maior. Embora fosse a segunda rodada disputada no local (a abertura oficial foi realizada no sábado) alguns voluntários da FIFA estavam bem perdidos e não sabiam dar informações, fora que alguns ganharam nota baixa no quesito simpatia, o que me fez sentir falta do staff de Goiânia. Já no gramado vi que o local é realmente incrível. A parte coberta é um show à parte.

Foi somente durante os 90 minutos que entendi os comandos da máquina fotográfica - antes tarde do que nunca - e também que o árbitro não sorteava lado na moeda, somente definia quem começava jogando. O mandante sempre atacaria à direita das câmeras de televisão na primeira etapa. Com isso, já sabia que ficando do lado esquerdo eu acompanharia os avantes italianos em ação. Tudo claro, tudo cristalino.

O grande problema da jornada aconteceu na hora em que as seleções foram ao gramado. Por causa de uma lambança sem tamanho dos engravatados e dos voluntários da FIFA, eu perdi a foto posada da Squadra Azzurra. Foi a única que faltou no meu álbum pessoal dos 24 participantes. Fui obrigado a rogar uma leve praga até a sexta geração dos familiares dos envolvidos.



As duas seleções posadas antes do apito inicial. Por conta de uma bagunça feita pela organização, a foto da Itália é do site da FIFA, pois como eles só quiseram atrapalhar ao invés de ajudar, tive que escolher uma das duas

Falando nos rapazes da terra da pizza, apenas pela oitava vez eles garantiram o direito de disputar a competição. O retrospecto é tímido e tem como melhor participação o quarto lugar no longínquo mundial do Canadá em 1987. Na Euro sub-17 eles superaram Alemanha e Áustria na primeira fase e decidiram a vaga com Portugal. O 1x0 os garantiu aqui no Brasil. Depois derrotaram a França na semi e perderam o título que não conquistam desde 1982 no revés diante da Holanda.

Agora, é fato que uma das seleções que mais queria ver na Copa era Ilhas Salomão. Mesmo que não tivesse conseguido emplacar a viagem monstra, eu teria dado um jeito de ver os oceânicos, independente da cidade em que eles fossem atuar. A nação, independente desde 1978, tem cerca de 600 mil habitantes e como o próprio nome já diz, é composta por várias ilhas. Um detalhe diferente sobre eles é que 10% da população tem cabelos loiros. Jogos Perdidos também é cultura.

A vinda do sensacional selecionado se consolidou na disputa do Campeonato sub-17 da OFC, realizado no ano passado. Na primeira fase, venceram Nova Zelândia, Papua Nova Guiné e Vanuatu. Na semi-final, derrotaram Ilhas Fiji (devidamente incluída na Lista desde 2016) e conquistaram uma vaga para um torneio de campo da FIFA pela primeira vez na história (já tinham conseguido disputar torneio de Beach Soccer e Futsal anteriormente). Na final, foram derrotados pelos neozelandeses nos penais.

É, só que depois do torneio, a OFC tirou todos os pontos ganhos por Ilhas Salomão e com isso perderam a vaga. Tudo porque chegaram à conclusão que o atleta Chris Salu foi utilizado de forma irregular deliberadamente durante todo o certame. A confederação local apelou da decisão e, em 3 de maio de 2019, os pontos foram restabelecidos e o lugar no mundial foi confirmado. Uma enorme alegria pessoal, já que provavelmente seria o Taiti, seleção que vi duas vezes na Copa das Confederações, que viria no lugar deles. Ufa!

Dito isso tudo, chegou a hora da pelota rolar. Desde o primeiro trilar do apito do árbitro, e confirmando 100% das expectativas, a Itália foi senhora absoluta da peleja. Wles criaram várias chances se aproveitando do futebol ingênuo e pouco combativo dos salomonenses, mas ao mesmo tempo mostraram um empáfia que deu raiva. A molecada meteu aquele salto alto safado e deu para perceber de longe que estavam jogando praticamente por osmose.

Tanto foi assim que o primeiro grande lance, para mim o maior erro de arbitragem da rodada inicial, foi de Ilhas Salomão aos 11 minutos. O goleiro Marco Molla cortou mal um cruzamento da esquerda e Philip Ropa abriu o marcador. O juizão marroquino Redouane Jiyed acabou enxergando uma falta no arqueiro italiano, a meu ver de forma incorreta. Revi o lance depois e fiquei com a mesma impressão. O susto foi sentido pelos italianos e aos 16 quase saiu o primeiro da Azzurra em cabeçada de Simone Panada.

A pressão seguinte foi intensa e um novo bom momento surgiu aos 20 com Degnand Gnonto, atacante de origem marfinense. O camisa 7 acabou abrindo o placar três minutos depois com chute cruzado na direita. Na comemoração, ele veio direto na lente do que vos escreve, numa foto digna de primeira página do Corriere della Sera. Aos 29 saiu o segundo em boa jogada de Gnonto que terminou com o gol de Nicolo Cudrig. Aos 33, Brentan tocou de calcanhar para o camisa 7 e ele, após driblar dois zagueiros, chutou firme e fez o terceiro tento europeu.


Lorenzo Pirola (6) e Christian Dalle Mura (5) subindo alto para tentar cabecear a pelota após escanteio


O goleiro Davidson Malam sofrendo um dos vários sustos no primeiro tempo, aqui em uma bola que bateu na trave


Aqui Matteo Ruggeri (3) também tentando de cabeça



Degnand Gnonto (7) inaugurando o placar aos 24 do primeiro em chute cruzado na direita e depois mandando aquele coração maroto para as lentes do JP



Degnand Gnonto (7) infernizou durante todo o primeiro tempo o setor defensivo de Ilhas Salomão. Na segunda foto, a marcação é de Simone Panada (4)


O bonito entardecer no Bezerrão durante Ilhas Salomão x Itália

O primeira etapa ficou em 3x0. Se eles apertassem um pouquinho só a defesa adversária, era evidente que poderiam chegar a um triunfo maiúsculo. Só que ao invés de uma injeção de ânimo nos vestiários, eles retornaram ao relvado com uma má vontade ainda maior. Foi irritante ver a displicência italiana. Por isso tudo torci demais para que Raphael Leai marcasse o gol de honra de Ilhas Salomão aos 17 quando ele acertou um belo tiro de longe. Pena que Molla fez boa defesa.

Nos minutos finais a resistência da defesa oceânica arriou de vez e o modorrento setor ofensivo da terra da bota conseguiu a proeza de marcar outras duas vezes. Primeiro foi Franco Tongya que fez o quarto aos 30 minutos quando entrou livre na área e tocou na saída de Davidson Malam. Aos 36, Andrea Capone recebeu bom passe da esquerda, deu um bonito drible no defensor e chutou no canto. O mesmo Capone fez o sexto na sequência, porém o gol foi anulado por impedimento.


Simone Panada (4) dando aquela bicuda e mandando a bola longe


No segundo tempo o ritmo italiano diminuiu, mas ainda assim a seleção europeia criou bons momentos


Nicolo Cudrig (11) em lance pela esquerda. Na cola, Simone Panada (4)


Franco Tongya (10) finalizando e marcando o quarto gol da Itália


Andrea Capone (19) fechando a goleada italiana aos 36 do segundo tempo


Zaga de Ilhas Salomão cortando cruzamento na área


Placar final da preguiçosa estreia italiana no Mundial sub-17

O placar final de Ilhas Salomão 0-5 Itália foi merecido pela superioridade técnica do onze europeu e só. Eles precisam jogar sério caso queiram ir longe na Copa do Mundo sub-17. Quanto aos salomônicos, eles vão perder os dois jogos seguintes, não há nenhuma dúvida disso, mas o grande título deles é estar disputando um mundial da FIFA. O verdadeiro troféu da rapaziada do outro lado do mundo já foi conquistado quando pegaram o avião para o Brasil.

Se eu reclamei bastante da falta de vontade italiana na preliminar, no duelo de fundo o cenário conseguiu piorar. Não foi fácil acompanhar duas seleções maltratando tanto a bola durante 90 minutos. Deu dó.

Até lá!

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Ficha Técnica: Ilhas Salomão 0x5 Itália

Local: Estádio Walmir Campelo Bezerra (Brasília/DF); Árbitro: Redouane Jiyed (Mar); Público: 859 pagantes; Cartão amarelo: Christian Dalle Mura; Gols: Degnand Gnonto 24, Nicolo Cudrig 29 e Degnand Gnonto 34 do 1º, Franco Tongya 30 e Andrea Capone 36 do 2º.
Ilhas Salomão: Davidson Malam; Derrick Taebo (Stanford Fakasori), Leon Kofana, Javin Alick (Zani Sale) e Pateson Tongaka; Richie Kwaimamani e Philip Ropa; Bradley Irosaea (Densly Geseni), Charles Mani, Raphael Leai e Alford Kanahanimae. Técnico: Stanley Waita.
Itália: Marco Molla; Francesco Lamanna, Matteo Ruggeri, Christian Dalle Mura, Lorenzo Pirola e Iyenoma Udogie (Samuel Giovane); Simone Panada, Michael Brentan e Franco Tongya; Degnand Gnonto (Andrea Capone) e Nicolo Cudrig (Riccardo Boscolo). Técnico: Carmine Nunziata.
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