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quinta-feira, 31 de outubro de 2019

JP na Copa do Mundo sub-17 (parte 4): Festa haitiana em triunfo sul-coreano

Texto e fotos: Fernando Martinez


A segunda sessão futebolística realizada no Estádio Hailé Pinheiro no domingo, 27 de outubro, fechou a rodada inicial do Grupo C da Copa do Mundo sub-17. Depois do triunfo francês em cima dos chilenos, tivemos a chance de acompanhar de perto o genial duelo entre Coreia do Sul e Haiti no gramado da Serrinha. Sendo fã de um belo jogo perdido posso afirmar que esse é o tipo de confronto que dá mais graça a um mundial.

Apesar de ser figurinha carimbada nas Copas do Mundo, tendo participado das últimas nove edições do maior torneio do planeta, a Coreia do Sul está somente na sua sexta participação no sub-17. Após ficarem de fora em 2017, retornaram ao campeonato ao alcançarem a semifinal do sub-16 da AFC. O cotejo decisivo foi contra a Índia e o triunfo foi pela contagem mínima. Não fiquei tão feliz não, já que a rapaziada da terra do k-pop já estava na minha Lista desde 2014. Além disso, também os vi na Olimpíada e num amistoso genial pré-Jogos no Pacaembu contra a Suécia. Seria bem mais interessante se os indianos tivessem vindo ao Brasil.

Já o Haiti... bom, eles fazem parte da Lista desde o ano 2000. Em janeiro daquele ano vi eles serem derrotados pelo Avaí no Morumbi (!) por 3x2. Poder voltar a vê-los em ação quase 20 anos depois foi muito legal. Jogando o certame sub-17 da CONCACAF eles ficaram em primeiro num grupo com El Salvador, Honduras e Guiana, eliminaram a República Dominicana nas oitavas e definiram a vaga em novo desafio contra os hondurenhos nas quartas. O 1x1 levou a decisão aos pênaltis e então venceram heroicamente por 4x3. Apenas pela terceira vez na história a primeira nação independente da América Latina se classificou para um campeonato da FIFA. A primeira tinha sido na Copa de 1974 e a segunda no mundial sub-17 de 2007.

Falando no Haiti, o maior destaque ficou por conta da enorme presença de torcedores centro-americanos no campo do Goiás. Durante o segundo tempo da preliminar eles começaram a tomar conta do estádio e boa parte deles acabou se postando no gol à direita da TV. A animação da rapaziada foi sensacional, dando ao encontro um clima de decisão mesmo sendo a estreia. Nem com a atuação limitada e nada surpreendente dos meninos da Pérola das Antilhas eles deixaram de cantar.



As seleções sub-17 de Coreia do Sul e Haiti antes da estreia de ambas na Copa do Mundo

Se eu passei um calor monstro por ter ficado debaixo do sol na preliminar, nesta peleja não teria erro, já que a noite tinha chegado em Goiânia. Se não tinha tanto vento como no sábado, pelo menos o astro-rei tinha ido embora. Ainda não tinha entendido direito os comandos da câmera que levei na viagem - fui aprender apenas no dia seguinte - e só consegui captar fotos mais ou menos. Escolhi acompanhar o ataque sul-coreano por crer que eles se sairiam melhores. Bingo.

A rapaziada foi bem, principalmente durante o primeiro tempo. Aos 17 minutos Eom Ji-Sung, camisa 16, chutou de longe e Stephner Paul fez boa defesa. Aos 21, a primeira e única chance haitiana quando Maudwindo Germain cabeceou bem na pequena área e Songhoon fez brilhante defesa. Aos 26 o marcador foi inaugurado com uma lambança do goleiro centro-americano. Jisung cobrou falta da direita e a bola foi em caminho ao gol. O arqueiro estava adiantado, tentou voltar e, atrasado, viu a pelota o encobrir. O camisa 1 ainda tocou na gorduchinha de leve, porém não teve como impedir o tento que tirou o zero do placar.

O Haiti sentiu o golpe e aos 40 minutos sofreu o segundo. Num roubo de bola na intermediária, Jaehyeok foi lançado e cruzou para Minseo no meio da área. O camisa 9 tocou sem marcação e colocou no canto esquerdo num daqueles gols que vemos no video game. Dois fotógrafos da Coreia do Sul que estavam do meu lado estavam animadíssimos, sorrindo à toa. Aliás, encontrar pessoal da imprensa de tudo que é canto do mundo foi um dos destaques durante a viagem. Pena que, como sempre, os profissionais locais deram pouca importância ao certame.

Agora, não há como negar que o momento mais genial da peleja foi off-futebol. Por volta dos 30 minutos um emocionado torcedor haitiano resolveu cruzar o campo com uma bandeira do seu país. O maluco engatou a quinta marcha e não teve como os fiscais da FIFA notarem o intruso. A velocidade foi tão grande que eu só consegui perceber a presença do intrépido moço quando ele estava já quase do outro lado. Por sorte, consegui captar a criança pulando a mureta que separa o campo da arquibancada. Aliás, ele foi devidamente detido pouco depois, quando já estava com uma camisa diferente entre os torcedores tentando confundir os injuriados engravatados.


Eom Jisung (16) e Stanley Guirand (5) em lance no ataque sul-coreano


Maudwindo Germain (13) observando a escapada de Eom Jisung (16) pela direita


Stephner Paul, goleiro do Haiti, e a caçada de borboleta monstro que resultou no primeiro gol da Coreia do Sul


A feliz comemoração dos asiáticos no primeiro tento na Serrinha


Kurowskybob Pierre (4) afastando o perigo que rondava a meta haitiana


O intrépido torcedor do Haiti que passeou pelo gramado da Serrinha. Ele foi tão rápido que só consegui tirar a foto dele saindo do campo


Choi Minseo (9) chutando para fazer o segundo gol da Coreia do Sul. Kurowskybob Pierre (4) se jogou mas não evitou o tento

Voltando para a vaca fria, quando a segunda etapa começou lá estava eu vendo de perto o ataque sul-coreanos novamente. Os asiáticos chegaram com perigo várias vezes, bem mais do que nos primeiros 45 minutos. Mas assim como o Equador diante da Austrália no sábado, os avantes meteram um salto alto monstro e desperdiçaram chances tão claras que até eu na minha forma física atual faria. Eles pensaram certamente que ampliariam a vantagem na hora que quisessem.

É, só que o terceiro gol não saiu e a cada momento perdido o Haiti ficava com um pouquinho mais de esperança. Esperança que cresceu aos 34 minutos quando Lee Taeseok tomou o segundo amarelo e foi expulso. Os centro-americanos então ocuparam o setor defensivo adversário e diminuíram aos 43. Herard cruzou da direita, a zaga afastou mal e Carl Sainte acertou um belo chute de fora da área, fazendo o primeiro. Os minutos finais foram emocionantes. A Coreia quase fez o terceiro aos 46 num contra-ataque que terminou com o chute de Jeong Sang-Bin. Aos 46 e 47, duas grandes oportunidades haitianas que não foram convertidas.


Zaga sul-coreana neutralizando chegada do Haiti no começo do tempo final


Escanteio dentro da área centro-americana e corte de Kervens Jolicoeur (9)


Carl Sainte (18) e bom ataque do Haiti


Yoon Sukju (6) e a marcação de Carl Sainte (18)


Samuel Jeanty (3) protegendo a pelota de atacante Moon Junho (18), conhecido como Lua Junho no Brasil

No fim, o placar de Coreia do Sul 2-1 Haiti acabou sendo justo por conta da seleção que teve melhor aproveitamento ofensivo. Boa estreia coreana na busca de pelo menos igualarem as melhores campanhas na história da competição, as quartas de 1987 e 2009. Já os centro-americanos seguem sem triunfos na história do mundial. O único ponto conquistado foi, incrível, um empate com a França na solitária participação em 2007. Eles são os mais fracos do grupo e dificilmente conseguirão forças para passar de fase.

Essa foi a minha despedida pessoal da cidade de Goiânia na Copa do Mundo sub-17. Por conta disso, saí junto com os três amigos presentes em busca de um lugar para encerrarmos a primeira fase da viagem com chave de ouro. Já era tarde e conseguimos no laço achar uma pizzaria ótima não tão longe dali. Enchemos o bucho comemorando o sucesso da empreitada e que o primeiro terço da programação foi finalizado de forma perfeita.

Chegamos no hotel com tempo de arrumar as coisas antes de emplacar uma noite de sono boa, porém curta. Na segunda-feira de manhã já estava de pé para, junto com o amigo Bruno, pegar a estrada e percorrer os 200 quilômetros até a capital federal de ônibus. É, tinha chegado a hora de voltar a ver futebol em Brasília após cinco anos de ausência.

Até lá!

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Ficha Técnica: Coreia do Sul 2x1 Haiti

Local: Estádio Hailé Pinheiro (Goiânia/GO); Árbitro: Victor Gomes (AFS); Público: 1.433 pagantes; Cartões amarelos: Lee Taeseok, Kim Ryunseong, Moon Junho, Stanley Guirand; Cartão vermelho: Lee Taeseok 34 do 2º; Gols: Eom Jisung 26 e Choi Minseo 41 do 1º, Carl Sainte 43 do 2º.
Coreia do Sul: Shin Songhoon; Lee Taeseok, Son Hojun, Lee Hanbeom, Hong Sungwook e Kim Ryunseong (Moon Junho); Yoon Sukju, Oh Jaehyeok e Paik Sanghoon (Kim Yonghak); Choi Minseo e Eom Jisung (Jeong Sangbin). Técnico: Kim Jung Soo.
Haiti: Stephner Paul; Jean Geffrard, Samuel Jeanty, Kurowskybob Pierre (Woodbens Ceneus) e Stanley Guirand; Corlens Etienne, Maudwindo Germain (Frantzety Herard) e Carl Sainte; Olsen Aluc (Kervens Jolicoeur), Dany Jean e Fredler Christophe. Técnico: Miguel Perdomo. 
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