Texto e fotos: Fernando Martinez
Depois de iniciar os trabalhos na Copa do Mundo sub-17 no sábado, dia 26, a madrugada foi de pouquíssimo sono já que temos que pagar os boletos. Por volta da uma da tarde já estava de pé e 100% alerta pois o certame pedia passagem novamente. A pedida do domingo foi ver de perto a rodada dupla que abriu o Grupo C. O primeiro jogo foi bastante especial pois finalmente eu coloquei a França na Lista, fechando com louvor o grupo de oito campeãs mundiais. O adversário dos azuis era o Chile. Os "rojos" agora são a segunda seleção sul-americana que mais vi.
Goiânia foi a única sede da Copa com duas canchas, então, diferente do sábado, quando fomos a pé até o Olímpico, seguimos de carro até o bairro de Santa Bela Vista, área nobre da cidade que hospeda a sede social do Goiás EC e por consequência o belo Estádio Hailé Pinheiro. As ruas da Capital do Cerrado estavam vazias e o trajeto de quatro quilômetros foi percorrido rapidinho. Destaque para o calor, bem mais intenso do que no dia anterior.
A sede do Goiás EC na Serrinha. O Hailé Pinheiro é acanhado mas absolutamente genial
Estávamos em busca de um lugar para fazer aquela boquinha esperta e na base da surpresa encontramos uma lanchonete fast food bem ao lado do estádio. Melhor impossível, pois aproveitamos a deixa e deixamos o possante ali mesmo. Enquanto aguardávamos - eu, Caio e Bruno, o trio oficial da Copa do Mundo sub-17 - os sanduíches naturais ficarem prontos, o amigo-abelha Renato Rocha deu o ar da graça sempre com a cuca ligada no 220. Vindo de Brasília, ele fez uma participação especial no nosso cronograma.
Após enchermos o bucho, só atravessamos a rua e logo estávamos na frente do complexo esportivo do onze esmeraldino. Enquanto os amigos foram ao portão de entrada, eu segui até o espaço reservado à imprensa. Os voluntários foram muito simpáticos e prestativos, um dos pontos altos de Goiânia. Peguei as escalações oficiais, uma caneta e um pin com o logo da Copa (aliás, bola fora a falta total de lojas oficiais nas sedes, um vacilo enorme do comitê organizador) e fui ao gramado.
Quando pisei no tapete verde tive uma impressão melhor do estádio e ela foi a melhor possível. O local é um caldeirão, todo ajeitado e com instalações aconchegantes. A Serrinha, como é popularmente conhecida, foi construída em 1995 e remodelada em três oportunidades. A capacidade atual é de pouco menos de dez mil pessoas. Entre as adaptações feitas para os oito jogos da Copa, o alambrado foi totalmente retirado, deixando a atmosfera espetacular. Nunca tinha visto o público tão perto dos atletas num jogo de futebol.
Detalhe das duas partes cobertas da Serrinha
Falando da partida em si, podemos dizer que França e Chile não são habitués do torneio, afinal, foi apenas a sétima e quinta participações de cada um, respectivamente. Se os sul-americanos tem o terceiro lugar de 1993 como melhor colocação na história, os europeus conquistaram o título em 2001 após derrotarem a toda poderosa Nigéria na decisão do certame realizado em Trinidad & Tobago.
Os atuais campeões do mundo se garantiram no mundial sem dificuldades. Eles ficaram em primeiro lugar no Grupo B da Euro sub-17, eliminando de tabela a Inglaterra, última campeã. Decidiram a vaga contra a República Tcheca e a goleada de 6x1 os trouxe ao Brasil. Na sequência, foram derrotados pela Itália na semi. Já a presença chilena foi garantida sem sustos com o vice no sul-americano sub-17 da Conmebol em abril.
Teve um pessoal que viu alguns treinos da rapaziada da terra da Torre Eiffel e ficou bem animado com o que presenciou. Garantiram que a França era a maior candidata ao título. Vários atletas se destacaram, e o principal deles foi o camisa 10 Adil Aouchiche, jogador mais novo a atuar com a camisa do Paris Saint-Germain num jogo da Ligue 1. Ele foi o artilheiro da Euro sub-17 marcando nove dos 14 gols azuis. Claro que o fato de ter nascido num 15 de julho (de 2002) ajuda, já que é o melhor dia do ano, mas não é só isso.
Chile e França antes do duelo que abriu as disputas do Grupo C da Copa do Mundo sub-17
Foi difícil fazer foto do trio de arbitragem no Mundial, essa aqui foi uma das duas que consegui. O árbitro Ivan Barton e o primeiro assistente David Santos eram de El Salvador, o segundo assistente Juan Gabriel Calderon da Costa Rica e o quarto árbitro Armando Villareal dos Estados Unidos
Enquanto assimilava o clima do ambiente, conversei com os voluntários presentes, o pessoal da FIFA e até com os amigos na arquibancada já que apenas um muro na altura da cintura nos separavam. Logo a cerimônia oficial começou e foi muito legal ouvir pela segunda vez (a primeira foi na Olimpíada) a Marselhesa ao vivo. Outro detalhe que valeu a pena foi ver a França com sua combinação tradicional e não toda de azul como aconteceu em alguns torneios recentes. Captei as fotos posadas dos dois e logo fui ao meu lugar. Como ainda não tinha aprendido o esquema que a FIFA faz nos seus torneios - contarei sobre isso nos posts dos jogos de Brasília - infelizmente fiquei perto dos avantes sul-americanos. Nada contra, claro, é que eu pensava que o selecionado europeu seria mais perigoso.
Não sei se por ser a estreia, por estar calor ou por algum motivo alheio aos olhos mais críticos, o fato é que o primeiro tempo foi bem ruim e decepcionante. As duas seleções mostraram muitas falhas e poucos momentos dignos de registro aconteceram. A animação das arquibancadas - a galera estava no esquema de aplaudir até cobrança de lateral - não foi transmitida aos jogadores e os 45 minutos demoraram duas horas e meia para passar.
Para não dizer que não rolou nada, teve um bom lance de cada lado. Aos dez minutos o camisa 9 Alexander Aravena recebeu bom passe no meio, avançou entre os zagueiros, viu o goleiro Zina sair desesperado e chutou forte de fora da área. A bola caprichosamente bateu na trave. Um pecado. A França teve mais posse, porém perigo mesmo levou somente aos 36 minutos, quando Aouchiche bateu a carteira de um adversário no meio-campo, avançou e emendou um tiro maravilhoso que entraria no ângulo esquerdo. Julio Fierro fez sensacional defesa.
Kennan Sepulveda (18) em bom ataque do Chile no começo do jogo
Brandon Soppy (19) mandando a bola longe da área da França
Luis Rojas (20) pelo meio, perto dele a marcação de Chrislain Matsima (4)
Novamente Kennan Sepulveda (18) investido pela esquerda encarando Brandon Soppy (19)
Cristian Riquelme (4) e Isaac Lihadji (18) em lance próximo da linha lateral
O magnífico entardecer de Goiânia. Um presente a todos os que compareceram na Serrinha
Foi com o 0x0 que a etapa inicial chegou ao fim. Aproveitei, fui tomar uma água e também um cafezinho maroto na área de imprensa. Pensei em ficar próximo do ataque francês no segundo tempo pois acreditava numa atuação mais eficiente dos atletas da frente. Só que eu dei uma moscada monstra e, maravilhado pelo belíssimo entardecer de Goiânia, mudei de lado junto com os avantes chilenos. Resultado, a França melhorou e eu fiquei acompanhando de longe. Vacilo imperdoável da minha parte.
Aos 14 minutos, Aouchiche, quase sempre comandando as ações ofensivas, finalizou da intermediária e acertou a trave esquerda. Na sequência, Vicente Pizarro derrubou Brandon Soppy dentro da área. Pênalti que Lucien Agoume bateu milimetricamente no canto direito, abrindo o marcador. No minuto seguinte o camisa 10 fez boa tabelinha com Isaac Lihadji e a troca de passes terminou com a precisa finalização do camisa 16. O goleiro Fierro falhou e deixou a pelota passar debaixo dele.
Melhor no gramado, Mbuku quase fez o terceiro aos 33 quando invadiu sozinho a área e chutou pela linha de fundo. Rutter aos 36 e Aouchiche aos 38 também quase marcaram. O Chile não conseguiu emplacar uma mísera chance com perigo durante a segunda etapa. Nas arquibancadas os torcedores do selecionado andino não estavam nem aí e cantaram a plenos pulmões, sem se importar com o que rolava no gramado.
Alexander Oroz (11) dividindo com Timothee Pembele (3) no começo do segundo tempo
Lucien Agoume (6) abriu o marcador para a França aos 18 da etapa final
Bola alçada na área europeia. Só que o Chile não foi capaz de assustar de verdade durante os últimos 45 minutos
Brandon Soppy (19), superlativo na defesa francesa, sob o olhar de Kennan Sepulveda (18)
Georginio Rutter (9) em lance no círculo central. Vicente Pizarro (6) e Adil Aouchiche (10) observam, cada um de um lado
Outro lance com a presença de Brandon Soppy (19) e Kennan Sepulveda (18) no ataque sul-americano
O placar final de França x Chile mostrou que o selecionado europeu é um dos favoritos do certame
No fim, o resultado de França 2x0 Chile ficou até barato por conta dos 45 minutos finais dos azuis. Não cheguei a ver um poderio absurdo como o que tinha ouvido falar, mas acredito que a rapaziada tem plenas condições de emplacar uma bela campanha. O Chile também tem grande possibilidade, já que os outros dois adversários são bem mais fracos. Falando nisso, o duelo de fundo foi um daqueles absolutamente geniais que só uma Copa do Mundo pode proporcionar.
Até lá!
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Ficha Técnica: França 2x0 Chile
Local: Estádio Hailé Pinheiro (Goiânia/GO); Árbitro: Ivan Barton (Esl); Público: 1.469 pagantes; Cartões amarelos: Nathanael Mbuku, Vicente Pizarro; Gols: Lucien Agoume (pen) 18 e Isaac Lihadji 19 do 2º.
França: Melvin Zinga; Timothee Pembele, Chrislain Matsima, Nianzou Kouassi e Brandon Soppy; Lucien Agoume, Adil Aouchiche, Naouirou Ahamada (Enzo Millot); Arnaud Kalimuendo-Muinga (Georginio Rutter), Nathanael Mbuku e Isaac Lihadji (Haissem Hassan). Técnico: Jean-Claude Giuntini.
Chile: Julio Fierro; Cristian Riquelme, Daniel Gonzalez, Bruno Gutierrez e Daniel Gutierrez; Vicente Pizarro, Cesar Perez (Joan Cruz) e Luis Rojas; Alexander Aravena (Lucas Assadi), Alexander Oroz (Gonzalo Tapia) e Kennan Sepulveda. Técnico: Cristian Leiva.
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