Texto e fotos: Fernando Martinez
O final de outubro chegou e com ele começou a 18ª edição da Copa do Mundo sub-17. O Peru seria sede da competição, mas em fevereiro ela caiu no colo do Brasil e, claro, eu não poderia ficar de fora. Conforme expliquei aqui no post que abriu a histórica cobertura do blog, fui credenciado para cobrir o certame, um verdadeiro presente pensando nos meus três mil jogos vistos in loco e também pelos 15 anos de Jogos Perdidos, completados hoje, 1º de novembro.
Desbravei o céu aberto na manhã de 26 de outubro com destino à Goiânia levando na bagagem a missão de iniciar os trabalhos em grande estilo. Na programação do sábado, as quatro primeiras seleções do total de 24 que veria de perto nos seis dias seguintes. Sem exagero algum tenho certeza que poucos, isso se teve alguém (além dos amigos da caravana, lógico), que foram em todas as sedes, todos os estádios e acompanharam pelo menos uma apresentação de todas as participantes. Um orgulho enorme em saber que fiz parte de um seletíssimo e restrito grupo.
Detalhe do aeroporto de Goiânia na manhã do sábado, o dia que começou a Copa do Mundo sub-17 do Brasil
O voo entre a capital bandeirante e a capital goiana foi feito sem percalços. No aeroporto tomei aquele café da manhã maroto aguardando a chegada do alvinegro Bruno, este vindo no voo seguinte. Dali, com a providencial carona de Caio Buchala, o mago das Copas, o trio se juntou, começando a Magical Mystery Tour mais sensacional dos últimos tempos. Na primeira parte da viagem ficamos num hotel a dois quarteirões do Estádio Olímpico Pedro Ludovico, palco da primeira parada.
Antes de começar o mundial em si, fomos dar uma voltinha pela cidade. Passamos na frente do OBA, campo do Vila Nova, e também do Serra Dourada. Além disso, fomos numa grande loja de camisas no centro e lá eu adquiri a gloriosa vestimenta do Monte Cristo Esporte Clube, uma das equipes mais geniais do estado. Debaixo de um sol absurdo, não demoramos muito pois estava na hora da brincadeira começar.
Detalhe da fachada principal do Estádio Olímpico Pedro Ludovico Teixeira, um dos palcos da Copa do Mundo sub-17 e também de um dos outros portões
O Estádio Olímpico recebia um pequeno público quando chegamos. Enquanto os amigos foram buscar seus lugares na arquibancada, eu fui pegar meu colete verde que me acompanhou por todo o certame, além da preciosa credencial. O acesso ao gramado era próximo e quando cheguei no relvado fiquei apenas assimilando todo o significado daquilo. A sensação de estar ali foi indescritível.
Abrindo a cobertura gloriosa do JP na Copa do Mundo sub-17, o duelo da maior campeã da categoria contra uma das seleções que sempre quis ver desde que me conheço por gente: Nigéria x Hungria. Foi o primeiro time a entrar na famosa Lista do total de oito inéditos (contando que tinha acabado de ver o Tadjiquistão jogando em Osasco dias antes). Tirando a Copinha todos os anos e o que vivi na Copa do Mundo de 2014, não é toda hora que a gente consegue ver tanto time novo num curto espaço de tempo.
Particularmente eu acho as Super Águias uma das seleções mais sem graça de todo o planeta. Muito pela bronca que tenho por terem me tirado o direito de ver Burkina Faso in loco na Copa das Confederações de 2013... não os perdoarei nunca por isso. Vi a apresentação deles contra o Taiti naquele torneio e outras três vezes após: uma na Copa sub-17 do Chile em 2015 e duas na Olimpíada de 2016.
O selecionado africano foi um dos oito participantes da Copa das Nações sub-17 da CAF. Na primeira fase, ficaram à frente de Uganda e Tanzânia - a capacidade deles eliminarem seleções legais é absurda - e conquistaram o direito de jogar a Copa do Mundo pela 12ª vez. Nem o quarto lugar tirou a favoritismo para buscarem o sexto caneco aqui no Brasil.
Já a seleção magiar - sempre quis falar isso numa matéria - voltou a jogar a competição após 34 anos. A única participação anterior tinha acontecido no longínquo 1985, na China, como convidados. A primeira classificação dentro de campo foi em grande estilo, com a boa campanha na Euro sub-17 realizada na Irlanda. Os húngaros foram líderes do Grupo C à frente de Portugal, Islândia e Rússia. Nas quartas foram derrotados pela Espanha, porém se garantiram na repescagem que definiu a quinta vaga. Na peleja decisiva contra a Bélgica, 1x1 e vitória nos pênaltis.
Pouco menos de mil pessoas marcaram presença nesse encontro. Vale lembrar que foi a primeira incursão do JP em Goiás e minha primeira visita ao estado. Além disso, o belíssimo Estádio Olímpico Pedro Ludovico foi o 200º em que vi um cotejo na minha vida. Chegar a essa marca dentro de todo o contexto foi genial. Aliás, a beleza do complexo foi um dos grandes destaques da jornada.
A cancha original foi inaugurada em 1941 e se tornou no principal palco do futebol local até a construção do Serra Dourada em 1975. Ainda assim foi bastante usado pelos times da capital até 2005. No ano seguinte, o velho palco foi demolido e então começou uma reconstrução cheia de problemas, atrasos e dor de cabeça para a população. Somente em 2016 ele foi reinaugurado, completamente remodelado. Hoje a capacidade é de 13.500 torcedores.
Antes do apito inicial eu confirmava na pele que o calor de Goiânia realmente não é fichinha. O que me salvou, tanto sábado quanto domingo, foi uma ventania que não parou por um momento sequer. Conforme o horário do pontapé inicial ia se aproximando, a minha ansiedade apertava. Quando a música tema da FIFA começou, as crianças entraram com as bandeiras dos países e os selecionados surgiram, foi difícil segurar a emoção.
Após a execução dos respectivos hinos nacionais, consegui fazer a foto posada das duas seleções, algo impensável até poucas semanas antes do certame. Nem preciso dizer como foi genial ver a Hungria posando para uma foto quase exclusiva... quase, pois na hora que fiz a imagem, um dos fotógrafos da FIFA aproveitou a carona e captou a pose da molecada de carona comigo. Depois de tudo, fui até o meu lugar meio anestesiado, meio em êxtase.
As seleções da Hungria e da Nigéria posando para as fotos oficiais. Depois de tantos anos fazendo imagem de campeonatos locais, foi espetacular fazer isso num torneio da FIFA
Em torneios grandes como esse os fotógrafos não podem trocar de lugar a não ser nos intervalos. Por motivos óbvios, somos obrigados a seguir várias regras, tudo pensando em não atrapalhar o espetáculo para que não vire bagunça. No tempo inicial acompanhei o ataque húngaro e, por sorte, o meu primeiro gol saiu bem ali. David Laszlo cruzou da esquerda e Komaromi completou, abrindo o marcador. Sem dúvida o 1x0 a favor da Hungria surpreendeu boa parte dos presentes,
A Nigéria não se abalou e emplacou uma porção de bons momentos ofensivos em série. A Hungria se defendeu bem até os 18 minutos, quando Donat Orosz derrubou Ubani dentro da área e foi marcado pênalti. O capitão Samson Tijani bateu bem e empatou. Quando achávamos que os Super Águias iriam engrenar, a Hungria fez o segundo. Orosz e Nemeth trocaram passes com estilo e a bola sobrou para Samuel Major chutar de primeira da entrada da área e colocar no canto esquerdo de Jinadu.
Gyorgy Komaromi comemorando seu gol, o primeiro da Hungria contra a Nigéria e o primeiro da Copa do Mundo sub-17 2019
Samson Tijani deixando tudo igual de pênalti aos 20 minutos
Andras Nemeth (9) atacando pela esquerda com Ferdinard Ikenna (5) na marcação
Donat Orosz (3) de olho na troca de passes da zaga nigeriana
A primeira etapa terminou com o 2x1 a favor dos europeus. Até pensei em mudar de lado para poder fazer fotos num ângulo diferente, só que permaneci no mesmo lugar pois imaginei que o escrete africano voltaria com tudo pensando na virada. Acertei em cheio. A Nigéria não deu a menor chance aos magiares. O problema foi que os vice-campeões mundiais de 1934 e 1954 absorveram a pressão durante a maior parte do tempo e conforme o relógio andava a vitória estava cada vez mais próxima.
Até os 33, os rapazes do leste europeu estavam bem. O grande problema foi que o sonho da boa estreia desmoronou num espaço de apenas seis minutos. Entre os 34 e os 40 os nigerianos marcaram três vezes e liquidaram a fatura de forma implacável. O empate saiu dos pés de Ibrahim escorando escanteio da esquerda, aproveitando falha do goleiro Hegyi. Aos 36 Adeniyi virou o marcador com gol de cabeça em nova falha do setor defensivo. Fechando a goleada, Tijani cobrou falta, a bola resvalou na barreira enganou o camisa 1.
Aqui Gergo Ominger (16) tentando fazer o desarme
Ferdinard Ikenna (5) e Gergo Ominger (16) quando a Nigéria era melhor em campo
Ibrahim Said (20) se esticando todo para dominar a pelota. Na marcação o camisa 11 húngaro Gyorgy Komaromi
Mark Kosznovszky (10), Ibrahim Said (20), Mihaly Kata (6) e David Laszlo (21) no gramado no Estádio Olímpico de Goiânia
O goleiro da Hungria Krisztian Hegyi saindo mal do gol e Usman Ibrahim (6) virando a partida para a Nigéria
Placar final da estreia do JP na Copa do Mundo sub-17
O placar final de Nigéria 4-2 Hungria premiou a insistência africana e mostrou que eles chegaram na Copa do Mundo sub-17 firmes e fortes na busca pelo hexa. Aos húngaros ficou aquela sensação que poderiam ter tido melhor sorte nos detalhes. Da minha parte, os seis gols mostraram que o início da cobertura do JP não poderia ter sido melhor.
A noite já tinha pintado quando chegou a hora do confronto que fechou a rodada. Teve estreia de seleção sul-americana na pauta.
Até lá!
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Ficha Técnica: Nigéria 4x2 Hungria
Local: Estádio Olímpico Pedro Ludovico (Goiânia/GO); Árbitro: Diego Haro (Per); Público: 944 pagantes; Cartões amarelos: Mark Kosznovszky, Gyorgy Komaromi, Milan Horvath; Gols: Gyorgy Komaromi 3, Samson Tijani (pen) 20 e Samuel Major 28 do 1º, Usman Ibrahim 34, Oluwatimilehin Adeniyi 36 e Samson Tijani 40 do 2º.
Nigéria: Daniel Jinadu; Charles Etim, Ferdinard Ikenna e Usman Ibrahim; Samson Tijani, Hamzat Ojediran, Monsuru Opeyemi (Akinkunmi Amoo) e Ibrahim Said (Daniel Francis); Oluwatimilehin Adeniyi, Olakunle Olusegun e Wisdom Ubani (Ibraheem Jabaar). Técnico: Manu Garba.
Hungria: Krisztian Hegyi; Donat Orosz, Botond Balogh e Milan Horvath; Mihaly Kata, Samuel Major (Peter Barath), Mark Kosznovszky (Akos Zuigeber), Gyorgy Komaromi, Gergo Ominger (Patrik Posztobanyi) e David Laszlo; Andras Nemeth. Técnico: Sandor Preisinger.
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