Texto e fotos: Fernando Martinez
Continuei com a marcante cobertura da Copa América no Jogos Perdidos na noite do domingo com a realização de um velho sonho. Desde moleque tinha vontade de ver a seleção bicampeã olímpica de 1924 e 1928 e a bicampeã mundial de 1930 e 1950 em campo. Contando com uma boa dose de sorte e uma organização peculiar, fui ao Mineirão assistir o duelo entre Uruguai e Equador na primeira rodada do Grupo C do certame.
De todas as filiadas da Conmebol, sem dúvida a Celeste Olímpica era a maior pedra no meu sapato. Alguns exemplos: em novembro de 2007 ela jogou no Morumbi e todo mundo conseguiu ingresso, menos eu. Em 2013 disputaram a fase inicial da Copa das Confederações no Nordeste e eu não tinha cacife para viajar até lá. Em 2014 cheguei a colocar no carrinho o ingresso da apresentação deles contra a Inglaterra na Arena Corinthians durante a Copa do Mundo e não consegui finalizar a compra.
Depositei minha última esperança na Copa América deste ano. Se por ventura eles não jogassem perto de casa, eu fatalmente ficaria mais um bom tempo sem colocá-los na Lista. Quando pintou o sorteio a Lei de Murphy atuou e, como não poderia ser diferente, obviamente eles jogaram em todo lugar menos em São Paulo. fazendo parte da minha trinca de objetivos junto com a dupla Venezuela e Catar, então fui obrigado a planejar uma missão fora do estado.
A minha sorte foi encontrar uma passagem aérea com preço em conta e que a procura por ingressos, tirando os compromissos do Brasil e a grande decisão, não tiveram grande procura. Saí de Porto Alegre – estive no Venezuela 0x0 Peru na tarde de sábado - na manhã do domingo no mesmo voo do amigo Raul, o maior anfitrião do Distrito Federal, e fizemos uma escala em Congonhas antes de chegar em BH. Detalhe: eu não sabia onde ficaria na capital mineira. A estadia programada por semanas deu errado e fui obrigado a contar com uma preciosa ajuda entre os dois voos. Enquanto eu estava no ar, uma alma boa reservou um lugar ao lado do hotel em que o amigo candango se hospedaria.
Saímos de Confins com destino ao centro da cidade e meia hora depois eu estava no meu nababesco quarto de seis estrelas que lembrou o Waldorf-Astoria em Nova Iorque com tempo suficiente de descansar um pouco e bater aquela soneca marota antes da sessão noturna. Devidamente descansado, fui de táxi com o alvinegro Raul e chegamos rapidinho no Mineirão. Tudo estava tranquilo e com um movimento bem diferente do que vi ali nas minhas visitas em 2013 e 2014.
A bela fachada do Mineirão recebendo um público legal para Uruguai x Equador
A grandiosa visão do Mineirão. Não visitava o estádio desde a Copa do Mundo
Estive no principal palco futebolístico de Minas Gerais cinco vezes na saudosa Copa das Confederações e na inesquecível Copa do Mundo. Em 2013 foram dois: o magnífico Taiti 1x6 Nigéria e o triunfo do México contra o Japão por 2x1. No Mundial, três: os 3x0 da Colômbia em cima da Grécia, a vitória da Bélgica contra a Argélia por 2x1 e o empate sem gols entre Costa Rica e Inglaterra. Que saudade!
No primeiro duelo citado acima foram 20 mil pagantes, nos quatro restantes, cerca de 50 mil em cada um. No domingo somente 13 mil pessoas deixaram no mínimo 120 reais cada no bolso da Conmebol. Um valor insano pensando que, infelizmente, a Copa América não tem um apelo tão grande na maior parte dos torcedores. Aliás, essa foi uma bola fora (apenas uma delas) da entidade sul-americana na organização da edição 2019 da competição.
Não é sempre que temos a chance de ver Cavani e Suárez ao vivo, né? Nada mais justo do que mostrá-los por aqui
Tudo bem, é de lado... mas aqui estão as duas seleções posadas para as fotos oficiais
Como estava tudo tranquilo, não tivemos problemas e logo estávamos nas dependências do belo estádio. Lá dentro encontramos o atibaiense Mário e como o que mais tinha era um monte de lugar vazio, fomos ficar próximos do gramado. Demorou tanto tempo para colocar o Uruguai na Lista que eu precisava vê-los de perto. Se a Celeste era inédita, o Equador era um velho conhecido. Desde que os vi pela em 2000 (a derrota de 3x2 contra o Brasil pelas Eliminatórias), assisti mais quatro confrontos, dois na Copa de 2014 e um pela Copa do Mundo sub-17 de 2015 no Chile.
O retrospecto sempre foi favorável aos uruguaios: treze vitórias em 17 partidas, três derrotas e um empate. Apesar do amplo domínio, nos últimos sete encontros, total equilíbrio com três triunfos para cada lado. No domingo o que se viu foi uma atuação avassaladora dos comandados de Óscar Tabárez. O Equador foi atropelado e deu sorte de não sair de campo com uma goleada ainda maior nas costas. Os primeiros 45 minutos do Uruguai foram sensacionais.
O marcador foi inaugurado aos cinco minutos com um golaço de Lodeiro. Ele recebeu na entrada da área, dominou com classe, tirou de Quintero e mandou no canto de Domínguez. Aos nove Nández ampliou, porém o gol foi anulado por impedimento. A Celeste permaneceu atacando e aos 23 teve a missão facilitada quando Quintero foi expulso. Cavani quase fez o segundo aos 26, Lodeiro atacou com perigo aos 27 e Cavani de novo assustou aos 31 em chute de letra. O atacante do PSG insistiu tanto que marcou o seu aos 32 num belíssimo voleio.
O Uruguai seguiu atacando e Nández teve bom lance aos 34. O outro grande nome do ataque, Luis Suárez, apareceu aos 43 e fez o terceiro. Lodeiro cruzou, Cáceres desviou de cabeça e o avante do Barcelona anotou. Antes do intervalo, a peleja já estava resolvida. Nas arquibancadas, muita festa e um clima delicioso. Os equatorianos presentes, mesmo tristes pelo resultado, estavam levando tudo de boa. Os uruguaios achavam graça e riam à toa.
O Equador tentou emplacar uma pressão no começo da partida, só que foi por pouco tempo
Nández marcou pela primeira vez na noite, mas o tento foi anulado por impedimento
Mais uma chance perigosa a favor da Celeste, agora pelo alto
Mais uma participação do VAR na Copa América
Na etapa final o panorama pouco mudou e os maiores campeões do torneio com seus 15 títulos permaneceram atacando com afinco. Cavani, o mais agudo dos atletas de frente, fez outro gol e novamente a arbitragem anulou. Suárez criou boa oportunidade aos 24 e Domínguez afastou. Aos 34, Mina deu uma forcinha ao adversário e marcou contra após cruzamento de Pereiro. O companheiro de Messi na Espanha jogou fora a chance do quinto aos 39 minutos.
O placar final de Uruguai 4-0 Equador foi pouco pelo domínio que a Celeste teve durante os 90 minutos. Desde 1959 eles não derrotavam os tricolores por essa margem de gols na Copa. A estreia deixou uma ótima impressão e temos como dizer com propriedade que estão entre os maiores favoritos ao título. Da minha parte, finalmente posso dizer que as dez seleções que fazem parte da Conmebol estão na minha Lista. Demorou, mas consegui!
No segundo tempo o Uruguai diminuiu o ritmo mas continuou em cima da zaga equatoriana
Ataque dos bicampeões mundiais pela direita
Mesmo com o 4x0 o Uruguai não parou de atacar. A vitória era para ter sido por maior margem de gols
Ficamos zanzando pelas arquibancadas e demoramos para sair do Mineirão. Procedimento padrão em campeonatos internacionais de grande porte. Na parte de fora andamos bastante até encontrarmos um táxi e, junto com o Raul, retornamos ao centro de Belo Horizonte. Fizemos uma janta de luxo num fast-food que encontramos aberto perto do hotel e depois cada um se recolheu aos seus aposentos. Foi uma noite super bem dormida antes de uma segunda-feira que novamente teve correria.
Antes de retornar à capital paulista, dei uma bela passeada no centro de BH, algo que não fazia há anos. Foi muito bom ficar ali, sem preocupação, sem pressa, só apreciando o momento. Foi o término da minha pequena turnê de dois dias longe de casa, a primeira em três anos. Pode ter sido pouca coisa, só que o significado foi enorme. Fui até Confins e de lá voei até São Paulo. Na pauta, tinha nova sessão noturna fechando a enorme cobertura do JP na rodada inicial da Copa América.
Até lá!
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Ficha Técnica: Uruguai 4x0 Equador
Competição: Copa América; Local: Mineirão (Belo Horizonte); Árbitro: Anderson Daronco (Bra); Público: 13.611 pagantes; Renda: R$ 1.534.535,00; Cartões amarelos: Nicolás Lodeiro, José Giménez (Uru); Cartão vermelho: José Quinteros 23 do 1º; Gols: Nicolás Lodeiro 6, Edinson Cavani 33 e Luis Suárez 44 do 1º, Arturo Mina (contra) 33 do 2º.
Uruguai: Fernando Muslera; Martín Cáceres, José Giménez, Diego Godín e Diego Laxalt; Nahitan Nández (Gastón Pereiro), Rodrigo Bentancur, Matías Vecino (Fede Valverde) e Nicolás Lodeiro (Lucas Torreira); Luis Suárez e Edinson Cavani. Técnico: Óscar Tabárez.
Equador: Alex Domínguez; José Quinteros, Arturo Mina, Gabriel Achilier e Beder Caicedo; Jefferson Orejuela, Jefferson Intriago, Antônio Valencia e Ángel Mena (Pedro Velasco); Enner Valência e Ayrton Preciado (Romário Ibarra). Técnico: Hernán Darío Goméz.
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