Texto e fotos: Fernando Martinez
Nem bem a decisão de terceiro lugar do Torneio Uber Internacional de Futebol Feminino tinha terminado com a vitória da Costa Rica em cima da Argentina e o céu paulistano começou a ficar super carregado, confirmando a previsão do tempo. Pouco antes da decisão entre Brasil e Chile, o Estádio Paulo Machado de Carvalho recebeu uma daquelas tempestades dignas de verão que ajudou a complicar bastante a tarefa de curtir a final na boa sem nenhum perrengue.
Como não consegui credenciamento, comprei ingresso na numerada descoberta. O que me salvou foi ficar espremido no limite da cobertura do local e também a aquisição de uma capa de chuva a dez reais (!). O aperto foi enorme, pois a rapaziada que estava por ali teve a mesma ideia que eu. Da entrada das seleções no gramado até o intervalo consegui fazer poucas fotos. Há muito eu não passava tanta dificuldade num jogo de futebol. Ossos do ofício.
Tudo isso para acompanhar a primeira decisão de Pia Sundhage no comando da seleção brasileira jogando contra as freguesas chilenas. Em toda a história, a equipe verde e amarela conquistou treze vitórias nos treze duelos entre as duas, marcando 51 gols e sofrendo apenas cinco. Vindo de um 5x0 em cima da Argentina, era natural considerar o Brasil super favorito ao caneco do Torneio Internacional pela oitava vez em nove edições realizadas.
Seleções perfiladas para a execução dos hinos nacionais
Debaixo de uma chuva absurda, a foto oficial das brasileiras, chilenas e do quarteto de arbitragem com as capitãs
É, pena que esse favoritismo tenha ficado apenas no papel e, atuando com muitas modificações feitas pela técnica sueca, em nenhum momento as jogadoras locais mostraram inspiração suficiente para vencerem as adversárias durante os 90 minutos. Tudo bem, o gramado atrapalhou a atuação brasileira, não há como negar, mas a falta de entrosamento ficou evidente no altíssimo número de passes errados.
O público compareceu em ótimo número e apoiou durante todo o tempo (ah, como a torcida do futebol feminino é diferente) mesmo com as atletas não acertando praticamente nada no relvado. Bia criou a primeira chance verde e amarela aos dois minutos e Endler fez boa intervenção. A arqueira apareceu bem novamente aos 17 em falta de Mônica. No derradeiro minuto, Bia recebeu passe de Ludmilla da direita e perdeu um gol absurdo com a meta aberta. Pouco para quem era tão favorita.
Boa parte do primeiro tempo foi disputada debaixo de um temporal que deixou o gramado encharcado, prejudicando a ação
Yessenia López (11) avançando sob o olhar de Formiga (8) e Millene (18)
Seleção brasileira atacando pela direita
No intervalo a chuva deu finalmente uma trégua e pudemos nos sentar novamente. Não sem a capa de chuva, a fiel companheira da tarde, já que algumas gotas ainda caíam do céu nublado. A drenagem do Pacaembu funcionou e a expectativa geral era que o Brasil melhorasse. É, pena que o que já era ruim piorou, e a pouca inspiração dos primeiros 45 minutos ficou nos vestiários, deixando a peleja num cenário árido de emoções. As locais chegaram perto do gol apenas uma vez, aos cinco minutos, quando Chú avançou pelo campo de defesa chileno e arriscou de longe. Endler, mais uma vez, fez boa defesa.
Após esse lance a peleja ficou modorrenta e repleta de passes errados. O Chile estava na sua e só se defendia. O Brasil tentava e nada conseguia. O papo na arquibancada estava melhor do que a inspiração das atletas em campo e antes do apito final, as chilenas quase tiraram o zero do placar numa bobeada da zaga brasileira. Lara mandou na área, Formiga desviou, a pelota tocou em Bruna e tirou tinta da trave. Seria um bizarro gol contra.
Agora um ataque aéreo do Brasil no segundo tempo
Uma das poucas chegadas do Chile durante toda a peleja
O empate sem gols levou a decisão aos pênaltis. Não ter vencido o Chile pela primeira vez na história indicava que o final poderia não ser feliz. Na primeira cobrança, Endler defendeu o chute de Raquel. Na sequência Lara, Mônica, Balmaceda, Chú, Hidalgo e Bia fizeram, deixando a disputa em 3x3. Aline defendeu a quarta cobrança chilena de Pardo. Luana poderia ter igualado as coisas, mas chutou pela linha de fundo a última cobrança brasileira.
Endler foi para o chute decisivo e Aline pegou pela segunda vez. Nos tiros alternados Bruna perdeu e de novo o Chile poderia ter garantido o caneco, porém Roa também desperdiçou. Fabiana fez 4x3, Aedo empatou em 4x4. Joyce bateu mal e Endler defendeu. As chilenas tiveram nos pés de Toro a terceira oportunidade de conquistarem o título e dessa vez não desperdiçaram.
Joyce perdendo o último pênalti a favor do Brasil - grande defesa da goleira Cristiane Endler - e Javiera Toro convertendo e dando o título ao Chile
Mesmo de longe, vale o registro da festa chilena pelo improvável título da edição 2019 do Torneio Internacional
Fim de papo no Pacaembu com o placar de Brasil 0-0 (4-5) Chile. O triunfo nos penais deu o título ao escrete azul e vermelho, frustrando os mais de 16 mil presentes que tomaram muita chuva a apoiaram as meninas locais durante toda a tarde. É o começo do trabalho de Pia Sundhage e é óbvio que não tem como reclamar, dito isso, é fato que que todo mundo foi embora com um gosto amargo na boca. Agora, em nove edições do Torneio Internacional de Futebol Feminino, as brasileiras tem sete conquistas e dois vices. O outro "intruso" na lista de vencedores é o Canadá.
Ainda fiquei um bom tempo na velha cancha buscando ingressos e souvenirs perdidos pela numerada. Também dei um pulo no Salão Nobre ver o que os VIPs tinham deixado para trás. Após de tanta chuva eu merecia um pouco de luxo. Enquanto me esbaldava, a chuva voltou com tudo e retornar ao QG não foi moleza. Depois de um 0x0 no sábado com um calor insano e outro no domingo debaixo de um dilúvio, só queria descansar.
Até a próxima!
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Ficha Técnica: Brasil 0-0 (4-5) Chile
Competição: Torneio Uber Internacional de Futebol Feminino; Local: Estádio Paulo Machado de Carvalho (São Paulo); Árbitra: Débora Cecília Correia (Bra); Público: 15.047 pagantes; Renda: R$ 174.073,00; Cartões amarelos: Rocío Soto e Camila Sáez (Chi).
Brasil: Aline; Fabiana Baiana, Mônica Hickmann, Bruna Benites e Joyce; Formiga, Aline Milene (Luana), Debinha (Ludmilla) e Andressa Alves (Raquel); Bia Zaneratto e Millene (Chú). Técnica: Pia Sundhage.
Chile: Christiane Endler; Francisca Lara, Rosario Balmaceda, Javiera Toro e Daniela Pardo; Yasmín Torrealba (Javiera Roa), Rocío Soto, Francisca Mardones e Yanara Aedo; Camila Sáez e Yesenia López (Fernanda Hidalgo). Técnico: José Letelier.
Obs: Nos pênaltis, o Chile venceu por 5x4. Francisca Lara, Rosario Balmaceda, Fernanda Hidalgo, Yanara Aedo e Javiera Toro marcaram, enquanto Daniela Pardo, Christiane Endler e Javiera Roa perderam. No Brasil, Mônica, Chú, Bia Zaneratto e Fabiana fizeram, enquanto Raquel, Luana, Bruna Benites e Joyce desperdiçaram.
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