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segunda-feira, 20 de junho de 2016

JP na Argentina 15 (7/9): O inesperado retorno a Buenos Aires

Texto e fotos: Fernando Martinez


Depois de toda a frustração vivida no Uruguai e ter percorrido o trajeto Montevidéu-Colônia-Buenos Aires na base do sofrimento e do perrengue, cheguei em Buenos Aires na hora do almoço do domingo, dia 17 de abril. Com tempo apenas de ir pro hotel e deixar as malas, já parti em busca de um plano B para salvar o final de semana futebolístico. Buscando aquela informação sempre precisa, comprei o Olé e comecei a analisar o que tinha disponível na região.

A escolha foi acompanhar o confronto entre Barracas Central e Tristán Suárez na Primera B. Já escolado com o esquema de jogo adiado, entrei no perfil da AFA no Twitter e a peleja também tinha sido adiada (!). Tomando chuva no meio da Avenida 9 de Julio tive que ativar o plano C. Restou uma única - e genial - alternativa pela proximidade e pelo horário: pela 11ª rodada do Campeonato Argentino de Primera C, Excursionistas x Argentino de Merlo no estádio do primeiro, o genial El Coliseo del Bajo Belgrano.

Como o próprio nome diz, a praça de esportes fica no bairro de Belgrano, bem próximo a Nuñez, casa do River Plate, e fica a pouco menos de nove quilômetros do Obelisco, minha maior referência. Peguei um táxi e o percurso foi percorrido em cerca de 15 minutos. A região é fantástica e conta com apartamentos de classe média alta, casas bem simpáticas e é muito arborizada (para efeito de comparação, é como se tivesse um campo de futebol no meio de Higienópolis). O surreal é que, contrastando com o bairro, a cancha tem tanta grade e arame farpado que parece que estamos numa penitenciária de segurança máxima. A torcida do Excursio não é fichinha não.


A genial fachada do Coliseo del Bajo Belgrano



A arquibancada de fundo do Excursionistas e as cadeiras de madeira na parte mais ajeitada do estádio

O Club Atlético Excursionistas foi fundado em 1910 e faz parte do campeonato portenho desde o amadorismo. Participaram da primeira divisão de 1925 até 1934 e só saíram dela pois, com o advento do profissionalismo, quem utilizasse atletas amadores não faria parte da divisão principal. Desde então eles perambulam entre a Primera B e a Primera C, sem nenhuma temporada com resultado marcante. É uma das várias agremiações da capital da Argentina, esse sim o verdadeiro "país do futebol".

Do outro lado estava o genial Club Atlético Argentino, time fundado em 1906 e que se filiou à AFA apenas em 1978. Nos primeiros 70 anos de vida o destaque ficou a cargo da bocha, do xadrez e do basquete. Quando construíram uma nova sede em 1976, resolveram se aventurar no profissionalismo. Desde então, alternaram participações na Primera C e também na Primera D. Legal que durante a minha primeira viagem ao país vizinho em 2009 assisti seu grande rival, o Deportivo Merlo, jogando contra o grande rival do Excursionistas, o Defensores de Belgrano.

A sorte que não me acompanhou em terras uruguaias voltou a aparecer e consegui pegar a apresentação desde o início. Descobri lá que o fato da casa do Excursionistas ter gramado sintético fez com que a partida não tivesse chance de ser cancelada apesar de toda chuva que caiu nos dias anteriores. O público presente foi de cerca de 500 pagantes e a maior parte chegou em cima da pinta. Teve também a presença de meia dúzia de torcedores do Argentino de Merlo.

O onze local ocupava a quinta posição antes da rodada, enquanto o Argentino estava na incômoda 15ª colocação. A campanha entrou em campo e, por quase todos os 90 minutos, o Excursionistas foi melhor do que seu adversário. Enquanto a chuva ia e voltava, os Villeros enfileiravam bons momentos e envolviam a defesa visitante. Os principais nomes foram de Jonathan Da Luz e Alejandro Vera, ambos responsáveis por boas defesas de Martín Cabrera. Quando o intervalo chegou, o zero estampava o placar.


Com o futebol uruguaio sem rodada, voltei à Buenos Aires para não perder o final-de-semana. Excursionistas x Argentino de Merlo foi o Plano C, mas a peleja foi genial


Detalhe do Coliseu del Bajo Belgrano, a super bem protegida casa do Excursionistas


Ofensiva do Argentino de Merlo ainda no primeiro tempo

Já na etapa final o cotejo melhorou e finalmente vimos gols, animando a chuvosa tarde. Aos doze minutos, ainda mais inspirado no relvado, o Excursionistas inaugurou o marcador com o tento de Alejandro Vera. O camisa 7 foi lançado e, embora sofrendo com a marcação de um defensor, ele tocou com classe por cima do goleiro do Argentino. Cabrera ainda relou na bola, sem força suficiente para impedir o tento.

Depois de ficar em vantagem, os locais diminuíram o ritmo e pela primeira vez a Academia del Oeste se aventurou no setor ofensivo. O arqueiro da casa Arias Navarro fez duas boas intervenções, porém aos 32 minutos ele não conseguiu defender o forte chute de Nicolás Horacio. Mesmo tendo sido dominado durante a maior parte do encontro, o Argentino chegou ao empate, não sem a reclamação coletiva dos presentes no El Coliseo del Bajo Belgrano.

O Excursionistas sentiu o golpe e tentou, meio sem jeito, voltar à frente do marcador. Faltando oito minutos, o árbitro Rodrigo Pafundi marcou falta a favor do time da casa na entrada da área. Leonardo Ruiz bateu fraco, mas na tentativa de espalmar, o goleiro Martín Cabrera bateu roupa e viu a bola espirrar dos seus braços, morrendo no fundo do gol. Um frango clássico que recolocou os verdes em vantagem.


O genial contraste das duas camisas no gramado


Detalhe do primeiro gol do time da casa, marcado por Alejandro Vera


Bola passando por todos dentro da área do Argentino


O segundo gol do Excursionistas foi um frangaço do goleiro Martín Cabrera

Os visitantes sentiram o gol e desanimaram. Os comandados de "Bufalo" Szeszurak ainda criaram dois ótimos momentos, só que não marcaram o terceiro. No fim, o placar final ficou em Excursionistas 2-1 Argentino de Merlo. O triunfo fez com que a equipe de Buenos Aires subisse ao quarto lugar na tábua de classificação disputadas onze rodadas. A Academia permaneceu na 15ª posição, flertando perigosamente com o rebaixamento.

Feliz por ter visto o final de semana não ir pro lixo, retornei ao centro para finalmente descansar após três dias bem tensos. Falando em tensão, a segunda-feira reservou uma sessão futebolística absolutamente surreal. O Yupanqui x Juventude Unida, visto seis dias antes, perdeu o posto de jogo mais perdido da minha vida numa jornada repleta de surrealismo com uma boa dose de sorte, muita chuva e uma temperatura de congelar a alma. Inesquecível.

Até lá!

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