Texto e fotos: Fernando Martinez
O cronograma de futebol da minha segunda Magical Mystery Tour por Buenos Aires pediu passagem mais uma vez na segunda-feira, 11 de abril. A manhã foi bastante atribulada e no cardápio do almoço teve o imperdível Duplo Quarteirão, ou Doble Cuarto de Libra con Queso, sensacional sanduba que lamentavelmente só não existe no nosso país. Bom que para chegar no McDonald's do outro lado da rua nem precisei andar muito, já que precisava só ultrapassar as 117 faixas de pedestres na Avenida 9 de Julio.
Terminei a soberba refeição e retornei ao hotel. Dali, peguei um dos glamourosos táxis da capital portenha com destino ao bairro de Parque Patricios. Antes de ir pro meu terceiro jogo na capital do país vizinho, passei pelo maravilhoso e gigantesco Estadio Tomás Adolfo Ducó, casa do Huracán. Tentei comprar meu ingresso para a peleja do Globo no dia seguinte, mas o local estava completamente deserto. Contarei essa história daqui a dois posts.
Ao lado da cancha existe uma das várias linhas dos "trenes" suburbanos da cidade. Bastava ultrapassar a linha férrea e então chegaria ao meu destino. Como o local está em obras, tive que dar uma volta de dois quilômetros a pé, passando ao lado da tradicionalíssima Estação Buenos Aires, e então encontrei o acanhado Estadio Claudio Chiqui Tapia, casa do Barracas Central. Detalhe: não era uma apresentação do time da casa, e sim o duelo entre o Club Atlético Fénix e o genial Club Atlético San Telmo, em compromisso do Campeonato de Primera B, a terceirona nacional. Jogo Perdido com JP maiúsculo.
Fachada do Estadio Claudio Chiqui Tapia, casa do Barracas Central e usado pelo Fênix em 2016
Escudo do genial Club Atletico Barracas Central que fica na entrada da praça de esportes
Detalhes da arquibancada oposta e das cabines de imprensa
Fundado em 1948 no bairro de Colegiales, o Fénix é relativamente novo e não tem tantas glórias no seu currículo. Até hoje eles conquistaram três canecos da Primera D (2000, 2004/05 e 2011/12) e sempre perambularam entre a C e a D. Desde 2013 jogam a Primera B Metropolitana, só que sem participações de destaque. Vale dizer que os militares "pegaram emprestado" o estádio deles na época da ditadura, fazendo com que ficassem sem campo pra atuar. Nesse ano, usam a aconchegante casa do Barracas Central.
Diferente do seu adversário, o centenário escrete Candombero é bem mais tradicional. Fundado em 1904, a equipe existiu até 1933 e foi fechada por problemas financeiros. Refundada em 1942, fez parte da Primera C e desde então passeia entre essa e a Primera B. Em 1975 conquistaram o acesso e alcançaram a primeira divisão, porém em 1976 foram mal e terminaram o certame na última posição, indo parar outra vez na Primera B. Na história, eles tem os títulos da Primera C de 1949, 1956, 1961 e 2015.
De longe, as imagens dos times posando para a imprensa argentina
Na edição 2016 da Primera B, outro dos campeonatos de transição da AFA, o Fénix vinha fazendo grande campanha e passou sete das nove rodadas realizadas na liderança. A agremiação perdeu o primeiro lugar depois da derrota em casa contra o Deportivo Español. Atuando contra o San Telmo, que ainda não havia vencido longe dos seus domínios, parecia o cenário perfeito para a retomada da ponta da tabela.
Genial foi que, por motivos óbvios, os bilheteiros descobriram que eu não era dali no momento em que comprei o ingresso. Quando disse que conhecia o Fénix, ficaram super orgulhosos, assim como em todos os outros locais que visitei. É fato que a admiração dos argentinos pelo futebol tupiniquim é bem grande. A hinchada mandante apareceu em número razoável, mas quem apareceu bem mesmo foi a torcida visitante. A rapaziada ficou atrás do gol da entrada e não parou de cantar por um momento sequer.
Jogador do San Telmo tentando se desvencilhar da forte marcação do Fênix
Ataque visitante no começo da peleja
Mesmo caído, atleta do onze local tentando manter o domínio da bola
Boa chegada do San Telmo pela esquerda do seu ataque
Os torcedores candomberos mostraram um fôlego incansável, ainda mais com a ótima atuação da sua equipe. A boa campanha do Fénix não foi ao gramado e eles sofreram com o rápido ataque visitante, principalmente o camisa 7 Nahuel Oviedo, ex-Huracán, Ele abriu o placar logo aos três minutos e deixou o cenário favorável ao San Telmo. Os donos da casa tentaram o gol de empate porém o arqueiro Anchoverri foi seguro debaixo da meta.
Antes do intervalo chegar o árbitro errou feio e deixou de marcar um pênalti a favor do San Telmo. O lance acabou nem fazendo falta pois aos dez da segunda etapa o escrete azul e celeste ampliou sua vantagem, de novo com Nahuel Oviedo. O gol foi um duro golpe contra o Fénix e apesar de tentarem fazer aquele maroto abafa, nada dava certo. O tempo foi passando e a boa vitória visitante se consolidou quando o árbitro Lucas di Bastiano apitou pela última vez.
Disputa de bola pelo alto com direito a poses plásticas no gramado da cancha do Barracas
Visão geral de Fênix x San Telmo sob a agradável temperatura de outono em Buenos Aires
Chute de longe do onze local buscando melhor sorte no marcador
No fim, aplausos aos vencedores e também para os vencidos, numa demonstração de espírito esportivo que não estamos tão acostumados a ver. O placar final de Fénix 0-2 San Telmo impediu que o clube de Colegiales chegasse novamente à liderança da competição. O líder é o "rival" de bairro, o próprio Colegiales. Já os candomberos subiram da décima para a sexta posição, agora com 15 pontos ganhos. Da minha parte, seis times e três canchas novas em três dias de viagem.
Voltei de táxi para o centro de Buenos Aires com a ideia fixa de curtir o ambiente noturno eletrizante novamente. Na terça-feira retomei a agenda e fiz a minha primeira (e única) rodada dupla em toda a viagem. Na pauta, o jogo mais perdido da minha vida (recorde que durou seis dias) e clima de Libertadores dos anos 70 no ar. Foi sensacional.
Até lá!
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