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sábado, 26 de dezembro de 2015

JP no Chile (Parte 12 de 13): Antológica virada chilena e vaga garantida


Depois da vitória do Brasil em cima da Guiné e da classificação verde e amarela na Copa do Mundo sub-17, o Chile entrou em campo para decidir seu futuro contra os Estados Unidos na derradeira partida do Grupo A. O palco foi o lotado Estadio Sausalito em Viña del Mar, que recebeu 19.321 torcedores confiando na primeira vitória no certame. Se a cancha já estava belíssima de dia, com os refletores ligados ela ficou sensacional. Felicidade total por estar ali naquele momento.

As duas seleções chegaram ao último duelo da primeira fase precisando vencer, se possível por uma boa margem de gols. Você viu aqui no JP que o escrete sul americano empatou com a Croácia na estreia da Copa jogando no espetacular Estadio Nacional de Santiago. Já na segunda apresentação, uma surra aplicada pela Nigéria: 5x1. O time da terra do Tio Sam perdeu seu primeiro jogo contra os africanos, também com cobertura do blog, e ficou no empate contra a Croácia.


Visão geral de um Sausalito já com um ótimo público para a decisão da vaga. Foto: Fernando Martinez.


Seleções perfiladas para a execução dos hinos nacionais. Foto: Fernando Martinez.

Espremido entre a turba alucinada vi mais uma vez a incrível execução do Hino Nacional do país numa versão acapella, com todos os presentes cantando a bela canção a plenos pulmões, assim como aconteceu na abertura da Copa. A torcida esbanjava otimismo, só que a primeira festa da noite foi do selecionado ianque. O camisa 8 Luca de la Torre tentou tocar a bola na esquerda, mas no meio do caminho ela bateu num defensor chileno e sobrou para Brandon Vazquez. Ele entrou na área e bateu na saída de Zacarias Lopez, abrindo o marcador aos 10 do tempo inicial.


Zaga dos Estados Unidos cortando ataque chileno. Foto: Fernando Martinez.

Os presentes não interromperam a cantoria mesmo com a desvantagem. Aos 18 quase aconteceu o empate num chute de Manuel Reyes que passou perto da trave direita. Dois minutos depois a massa foi recompensada com o tento local numa jogada toda bizarra e de raça do camisa 10 Marcelo Allende. Ele tentou uma vez, a zaga tirou e no rebote ele chutou do jeito que dava. A pelota desviou de leve em Danny Barbir, bateu na trave e foi morrer dentro da rede. A tradicional cancha quase veio abaixo com a comemoração.


Cabeçada de Danny Barbir, camisa 15 norte-americano. Foto: Fernando Martinez.

A peleja seguiu em absoluto equilíbrio depois do 1x1. Os Rojos tinham mais iniciativa, porém os Estados Unidos também eram perigosos. Numa escapada perigosa aos 37, quase os norte-americanos passam de novo à frente. O camisa 10 Christian Pulisic invadiu a área pela esquerda e chutou cruzado. O arqueiro fez uma defesa difícil, mandando a pelota pela linha do fundo. Aos 41 foi a vez do Chile assustar de novo com o arqueiro visitante defendendo bem um chute de Manuel Reyes no meio do gol.


A comemoração dos atletas ianques pelo gol marcado aos 10 do primeiro tempo. Foto: Fernando Martinez.

O ambiente no Sausalito era eletrizante. Nem no intervalo a torcida parou de cantar. Talvez empurrada pela energia positiva vinda das arquibancadas, os andinos retornaram ao gramado à milhão e os ianques, que foram bem na etapa inicial, não viram a cor da bola durante a maior parte do segundo período. Aos três minutos, Ignacio Saavedra quase vira o placar num chute de longe que passou perto da meta.


Chile saindo pro ataque em busca da virada. Foto: Fernando Martinez.

O gol da virada era questão de tempo e ele saiu aos sete minutos, fruto de um lance de absoluta raça. Gabriel Manzuela foi lançado dentro da pequena área e dividiu com o goleiro Will Pulisic. O camisa 1 bateu roupa e a pelota sobrou de novo pro camisa 9. Ele se levantou e, sem ângulo, tocou cruzado no canto esquerdo. Tantas pessoas me abraçaram na comemoração que virei chileno por alguns minutos. Aquele tipo de coisa que faz o futebol ser o esporte fascinante que é.


Joe Gallardo e Fabian Monilla apostando corrida no gramado do Sausalito. Foto: Fernando Martinez.

A virada não sossegou os locais. Dos 10 aos 23 minutos eles emendaram seis (!) momentos perigosos. Luciano, Diaz, Yerko Leiva, Gabriel Mazuela, Marcelo Allende, Eric Calvillo e Ignacio Saavedra foram os responsáveis pelas oportunidades. Seis atletas, cada um criando uma boa chance cada, mostrando como toda a seleção estava bem. Depois dos 25, os norte-americanos conseguiram colocar a cabeça no lugar e passaram a se aventurar timidamente pelo campo de ataque. Apesar da animação geral, pintou uma óbvia preocupação, já que o empate eliminaria os sul-americanos.


O arqueiro Will Pusilic saindo da sua meta para cortar cruzamento. Foto: Fernando Martinez.

Aos 26, 32 e 35 minutos a rapaziada do norte da América deixou o Sausalito em inédito silêncio em três ataques importantes. Primeiro com Hugo Arellano, depois com Christian Pulisic obrigando Zacarías López e fazer grande defesa e por fim uma conclusão de Eric Calvillo que passou perto. Para alívio da torcida, da comissão técnica e de todos os aspones presentes na cancha em Viña del Mar, aos 41 saiu o terceiro. Gonzalo Jara, que entrou no tempo final, recebeu na entrada da área, cortou o zagueiro e tocou com uma curva espetacular no ângulo direito do camisa 1. Uma pintura de gol.


Simpático cachorro que ficou perambulando pelo estádio, também torcendo muito para o Chile. Foto: Fernando Martinez.

Claro que os visitantes sentiram o golpe e, jogando com uma facilidade incrível, o escrete rojo fechou a fatura aos 48 minutos num gol típico de video-game. Manzuela avançou pela direita e tocou pro meio da área. O camisa 13 Camilo Moya surgiu livre e chutou no canto direito, longe do alcance do guarda-metas. Clima de apoteose completa e definitiva no Estadio Sausalito.


Bola viajando dentro da área local no fim do jogo. Foto: Fernando Martinez.

O placar final de Estados Unidos 1-4 Chile foi suficiente para a classificação, mas não como segundo colocado do Grupo A por conta da inesperada vitória da Croácia em cima da favorita Nigéria. La Roja foi para as oitavas como a melhor terceira colocada e acabou sendo eliminada depois de tomar um 4x1 contra o México. Os discípulos do Tio Sam foram eliminados na primeira fase pela primeira vez desde o mundial de Trinidad & Tobago em 2001.

Depois de acompanhar treze partidas da Copa do Mundo do ano passado, foi genial ver outro um torneio da FIFA pouco tempo depois. Foram oito jogos com quatro rodadas duplas em quatro cidades diferentes e mais de 1.200 quilômetros percorridos dentro do país. Não imaginava que fosse capaz de fazer algo assim um dia e a sensação que ficou foi de felicidade total. Se pintar algum novo Mundial perto de casa, vamos ver se rola repetir a dose.


Na Rodoviária de Sausalito o pessoal estava ligado em tudo que acontecia no estádio perto dali. Foto: Fernando Martinez.

Saí do Sausalito sabendo que voltar ali alguma vez será bem difícil, então ainda fiquei alguns minutos admirando a beleza do lugar. Já sob a luz artificial peguei o caminho de volta, agora felizmente na descida, até a rodoviária de Viña del Mar para pegar o último ônibus com destino a Santiago. Além de mim, apenas quatro pessoas estavam no coletivo. Pena que entre elas, um casal de peruanos com uma caixa de som tocando uma música chatíssima num volume bem alto. Como se não bastasse, eles brigaram durante boa parte da viagem.

Cheguei na capital bem tarde e, como na noite anterior, fiz uma boquinha no boteco do lado do hostel em que estava. Foi a minha última noite em território chileno, já que retornaria ao Brasil na tarde do sábado. Mas não foi a minha despedida futebolística, pois na manhã do dia 24 deu tempo de fazer a minha estreia num cotejo do campeonato nacional.

Até lá!

Fernando
© 2019

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