Texto e fotos: Fernando Martinez
Depois da rodada dupla em Salto na manhã do sábado, pegamos a estrada e andamos cerca de 70 quilômetros para a sessão vespertina. Foi uma cobertura em grande estilo, a primeira do Jogos Perdidos no espetacular Estádio Senador José Ermírio de Moraes, na cidade de Alumínio. Pelo Campeonato Paulista sub-20, Sharjah Brasil e Salto FC foram a campo na estreia de ambos na competição.
O estádio foi a casa da saudosa Associação Atlética Alumínio, que esteve no cenário estadual entre 1964 e 1974 com participações em terceiras e quartas divisões da época. A AAA acabou profissionalmente falando, mas seguiu viva na parte social. Quando o JP visitou o campo em 2006, Orlando Lacanna, o Ferris Bueller do futebol, falou sobre o que viu no local, na época em total movimentação, no volume 14 da nossa saudosa série Volta ao Passado.
Apesar do campo ser usado pelo futebol amador, nunca mais pintou competição oficial da FPF ali até 2022. No ano passado o Sharjah Brasil FC, nova encarnação dos antigos AA Cubatense, Montana Itapevi FC e Itapevi FC, se mudou para lá e passou a usar o antigo campo da AAA como sua casa. No começo do ano, pela primeira vez a Copinha teve uma sede ali com a presença de Ceará, Madureira e Rio Claro.
Chegamos cedo e não tinha ninguém na rua da entrada da cidade até o estádio. Aliás, o campo fica bem ao lado da CBA, a famosa Companhia Brasileira de Alumínio. Fundada em 1941, ela iniciou suas atividades somente em 1956 (o time de futebol nasceu em 1947). Até hoje o município funciona em torno da fábrica, que funcionou a todo vapor durante os 90 minutos.
Fachada do Estádio Senador José Ermírio de Moraes, em Alumínio
Detalhe do estádio com a vista da CBA ao fundo
O símbolo da saudosa AA Alumínio que fica atrás do gol da direita
Estacionamos na porta e ao passar pelo portão de entrada, foi como se voltássemos no tempo. O pequeno Estádio Senador José Ermírio de Moraes está muito bem cuidado e guarda todas as características originais de quando o Alumínio mandava seus compromissos ali. A numerada coberta é uma graça e aposto que não cabem nem 500 pessoas, o que inviabilizaria uma participação na Segundona, por exemplo. Como é usado só na base, tudo bem.
Uma das primeiras coisas que fiz foi ir até o escudo do Alumínio esculpido em pedra que fica atrás do gol "da direita", em frente ao ginásio, que conheci através do Almanaque do Futebol Paulista, publicação icônica dos amigos Jorge Farah e Rodolfo Kussarev no começo dos anos 2000 e que incentivou a virar pesquisador. Felizmente o pequeno monumento ainda está lá.
Sharjah Brasil FC (sub-20) - Salto/SP
Salto FC (sub-20) - Salto/SP
Capitães junto com o quarteto de arbitragem
Retornando aos dias atuais, me credenciei, fui pegar as escalações e nessas fiquei sabendo que o Salto estava sem médico (!) e não tinham sinal dele. Resumindo, tinha chance de perder a viagem. Fiquei sob um leve desespero (valeu Capital Inicial!) já imaginando que poderia dar problema. O relógio andou, as equipes foram a campo e todo mundo ficou esperando a chegada do doutor. Com 18 minutos de atraso o homem de branco apareceu como se estivesse chegando em um churrasco com direito a um pouco estiloso crocs verde (!) nos pés.
Quando a ação começou, o Sharjah tomou conta da ação desde os primeiros movimentos. O Salto FC pouco fez e nas raras investidas não levou perigo à meta local. Não que os donos da casa tenham feito aquela super apresentação, porém pelo menos tiveram as melhores chances. O momento mais agudo foi em vacilo da zaga visitante que terminou com uma finalização com gol aberto. A pelota saiu milimetricamente do lado direito. Detalhe: foi muito legal acompanhar o jogo com a CBA funcionando ao fundo, compondo a cena como se fosse um cenário de filme de um futuro distópico.
Chegadas do Sharjah Brasil na etapa inicial
O melhor momento dos donos da casa em chute cara-a-cara que tirou tinta da trave
O genial placar eletrônico do estádio
Na segunda etapa saí do campo, fui beber uma água e então decidi ficar na parte coberta. A maior emoção foi acompanhar a saga de um simpático cachorro caramelo atrás da bola que estava com um dos gandulas. O simpático animal estava vidrado e buscava um jeito de chegar perto da gorduchinha. Foram uns 15 minutos assim até que um dos atletas acertou uma bicuda fora do alambrado e ela caiu exatamente na frente do bichinho. A alegria do cãozinho foi imensa, e do mesmo jeito que ele abocanhou a pelota, ele se mandou do estádio. Todos que estavam na parte coberta aplaudiram o momento.
Cachorrinho de butuca no gandula com a bola e depois ele feliz e pimpão com o sonho realizado
Mas tinha uma partida de futebol acontecendo, apesar do pessoal estar mais interessado na saga canina. Foi só o vira-lata desaparecer que saiu o gol. Lucas Bento tomou uma voadora de Danilo pelo lado direito do ataque e o árbitro marcou pênalti. Kawan Moura bateu forte no canto esquerdo e abriu o placar aos 20 minutos. O Salto FC seguiu sem conseguir armar uma boa investida e o Sharjah dominando de leve.
Na reta final, o cachorro retornou ao José Ermírio de Moraes com a bola toda mastigada (que depois voltou para o gandula, deixando o animalzinho na saudade de novo), eu fui ao gramado pegar as últimas imagens da sessão futebolística e o marcador não foi alterado novamente, confirmando a primeira vitória do clube da casa na competição.
Detalhes do segundo tempo em Alumínio
Kawan Moura anotou de pênalti o gol do Sharjah
O Salto tentou o empate, mas não teve sucesso
O Sharjah Brasil 1-0 Salto FC não foi uma peleja boa, porém o que valeu durante todo o tempo que ficamos lá foi uma verdadeira volta ao passado, de certa forma terminando a visita que a dupla Orlando e Estevan fez ao estádio há 17 anos. Me senti como se estivesse completando as informações que eles publicaram aqui naquela oportunidade. Sensação bem legal.
Saímos do estádio e decidimos dar uma volta pela cidade. Passamos pela entrada principal da CBA e encontramos cinco ou seis almas nas ruas. Poucas pessoas e diversos espaços vazios, algo comum em um lugar com 16 mil habitantes. Foi um passeio rápido e serviu para conhecermos Alumínio. A ideia inicial da jornada era emendar uma quarta cobertura, só que desistimos da ideia e pegamos a estrada com destino à capital com direito a muito trânsito na Raposo Tavares.
Cheguei no QG da Zona Oeste super cansado. O certo seria descansar no domingo... algo que eu não fiz. No dia seguinte resolvi acompanhar a abertura do Brasileiro Feminino da Série A2 com joguinho bem legal em campo neutro.
Até lá!
Ficha Técnica: Sharjah Brasil 1-0 Salto FC
Local: Estádio Senador José Ermírio de Moraes (Alumínio); Árbitro: William Trufelli Malaquias; Público e Renda: Portões abertos; Cartões amarelos: Kauê de Souza, Lucas Bento, Kawan Moura, João Pedro, Gabriel Linhares, João Victor, Eduardo, Danilo, Ramos, Richard; Gol: Kawan Moura (pênalti) 20 do 2º.
Sharjah Brasil: Alan Vítor; João Pedro, Lucas Menezes, Luiz Gabriel e Ryan de Souza (Victor Hugo); Luiz Gustavo (Gabriel Linhares), Lucas Bento (Alef Danilo), Kauê de Souza (Rafael Isaac) e Kawan Moura (Eduardo Maurício); Guilherme Xavier (Guilherme Silva) e Wallace Diolino (Valdymir Anthony). Técnico: Artur Costa.
Salto FC: Carlos; Levy (Theo), Kléber, Richard e Fellype (Gilmar); Ramos, Danilo (Paulinho), João Victor e João Amaral; João Teles (Ryan) e Gabriel (Eduardo). Técnico: Rildo Dionízio.
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