Texto e fotos: Fernando Martinez
O jogo de fundo da terceira rodada da primeira fase do futebol olímpico na Arena Corinthians, o sexto realizado na casa alvinegra na Rio-2016, acabou sendo de longe o mais legal e mais emocionante de todos realizados ali, com certeza uma dos cinco melhores partidas que eu vi in loco nesse árido ano de 2016.
Confesso que até entendo grande parte das pessoas que pensavam que um encontro entre as seleções do Iraque e da África do Sul pouco teria de interessante. Esse sentimento aumentou nas duas rodadas iniciais, já que ambas não marcaram nenhum gol e, obviamente, não venceram nenhuma peleja. Felizmente todos se enganaram.
O time do Oriente Médio era um dos que mais esperava colocar na Lista muito por causa da minha memória afetiva da Copa do Mundo de 1986, a única que os conterrâneos de Saddam Hussain disputaram na história. O selecionado foi derrotado por México, Paraguai e Bélgica e terminou na última colocação do Grupo B. Já em Olimpíadas a história é bem diferente, e essa foi a quinta participação até hoje em todos os tempos. A melhor colocação foi um honroso quarto lugar em 2004.
Iraque e África do Sul definindo sua sorte no gramado da Arena Corinthians
Agora, confesso a minha decepção particular por ver mais uma vez a África do Sul com tanto time legal do continente africano que poderia ter vindo pra cá. O pior foi que o onze da terra de Nelson Mandela venceram a disputa direta da vaga vencendo Senegal (!) nos pênaltis. Uma pena... Bom, em tempo, essa foi a terceira vez que vi os sul-africanos in loco.
O público oficial foi de 37.742 pagantes, mas sem sombra de dúvida pelo menos metade do estádio estava vazio. A maior parte dos presentes se mandou para ver o jogo do Brasil contra a Dinamarca pela televisão. Perderam a peleja mais animada do torneio de futebol masculino da Olimpíada 2016.
A partida começou com Iraque e Brasil empatados com dois pontos na segunda colocação da chave. A lanterninha África do Sul surpreendeu a todos e pouco depois dos cinco minutos já abriu o placar com Motupoa aproveitando bola que sobrou dentro da área. O gol classificava momentaneamente os Bafana Bafana.
Os iraquianos não se abateram e deixaram tudo igual aos 14, com um belo gol de cabeça de Luaibi Saad. Esse gol agora colocava a seleção asiática entre as oito melhores da competição, já que em Salvador o duelo entre Brasil e Dinamarca estava empatado.
É, só que a esperança iraquiana durou cerca de dez minutos, pois com o gol de Gabigol, agora era o Brasil que se garantia na segunda fase. As duas seleções que se enfrentavam na casa corintiana precisavam vencer para se garantirem nas quartas eliminando a Dinamarca.
O gol tupiniquim transformou a peleja na Arena em algo dramático, aquele tipo de jogo que gostamos muito de ver, ainda mais quando não torcemos para nenhuma das duas equipes. O panorama ficou bem definido com o Iraque, melhor time, apostando tudo com seu rápido setor ofensivo, e a África do Sul tentando melhor sorte nos contra-ataques.
Claro, o nível técnico das duas seleções não era nenhuma Brastemp, mas que foi genial assistir, ah, isso foi. Os sul-africanos tiveram ótima chance de passarem de novo à frente aos 18 minutos em bola que tirou tinta da trave direita de Mohameed. Depois, só deu Iraque com várias finalizações, duas bolas na trave aos 36 e 39 minutos e um milagre particular de Khune aos 41 que impediu a virada.
Luaibi Saad marcando de cabeça o gol de empate para o Iraque
Tímido ataque da África do Sul pela esquerda
Já no tempo final, mais uma chance iraquiana pelo alto
Com a vitória parcial do Brasil por 2x0 no intervalo, o segundo tempo virou terra de ninguém. O técnico Abdulghani Alghazali colocou o Iraque todo pra frente, sem nenhuma preocupação com a defesa. Vimos quase 50 minutos de um toma lá, dá cá absolutamente eletrizante. Um prêmio para todos que permaneceram na Arena mesmo com menos de dez graus de temperatura.
Aos nove, a terceira bola na trave da África do Sul em cabeçada iraquiana. Aos 13, cabeçada de Abdulraheem que saiu pela esquerda. No minuto seguinte, milagre do goleiro Kuhne em tiro à queima-roupa. Aos 19, contra-ataque da África do Sul que levou muito perigo à meta de Mohammed.
Nos minutos seguintes, vendo a vaga ir pro saco, pintou aquele desespero maroto e o Iraque criou um sem número de oportunidades, uma a uma desperdiçadas pelos atacantes, mostrando que o último toque era o maior problema dos asiáticos. Ao final dos 90 minutos, a seleção chutou 29 vezes ao gol e apenas nove deles tiveram a direção da meta.
Ali Adnan, camisa 6 asiático, se mandando para o ataque
Investida iraquiana e firme marcação de Mvala
Humam Tareq perdendo grande oportunidade pela esquerda. O cabeludo foi responsável por cerca de quatro ou cinco grandes chances jogadas no lixo
No tudo ou nada, quase a África do Sul fez o segundo no final
Antes do apito final por muito pouco os Bafana Bafana não marcaram o segundo com Abbubaker Mobara, gol que valeria a vaga. No fim, o África do Sul 1-1 Iraque fez com que as duas seleções morressem abraçadas e eliminadas do torneio de futebol olímpico ainda na primeira fase. Após o apito final, atletas dos dois times foram ao desespero no gramado corintiano. Nas arquibancadas, palmas para os jogadores por conta da belíssima exibição.
Jogadores das duas seleções lamentando a desclassificação no gramado da casa corintiana
O placar final da belíssima peleja que eliminou sul-africanos e iraquianos do torneio de futebol da Rio-2016
No final das contas a rodada dupla foi bastante proveitosa com quatro gols e o time de número 639 entrando na minha Lista. Voltei ao estádio alvinegro dois dias depois para outra partida, agora do torneio feminino e com direito a repeteco da disputa de bronze de Londres-2012.
Até lá!
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