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terça-feira, 20 de dezembro de 2016

JP na Olimpíada (parte 19): O inesquecível ouro do futebol masculino

Texto e fotos: Fernando Martinez


Falar sobre o que vivi no dia 20 de agosto de 2016 não é fácil. Desde o primeiro momento tentei um ingresso para a grande decisão da medalha de ouro do futebol masculino da Olimpíada do Rio de Janeiro pois depois de não ter chance de ver a final da Copa do Mundo, queria muito me fazer presente nesse jogo histórico. Fiquei muito tempo tentando um ingresso e na base da sorte descolei um de última hora. A felicidade foi enorme.

Não tinha a menor ideia de quem estaria na decisão do Maracanã antes do pontapé inicial do torneio. Conforme a competição foi seguindo, já imaginava que o time canarinho tinha plenas e totais condições de estar lá. Restava saber quem seria o adversário. Por ironia do destino, quem se credenciou foi a Alemanha. Um duelo desses, dois anos depois do fatídico 7x1 do Mineirão na final do único torneio que a seleção penta-campeã não havia vencido era muito mais do que eu poderia esperar.

Saí do Parque Olímpico da Barra depois de curtir aquele Taekwondo maroto com destino à Zona Norte da capital fluminense e cheguei na região do Maracanã super de boa, com o sol já escondido entre as nuvens e uma temperatura até certo ponto agradável. Assim como na sexta-feira, entrei nas dependências do velho novo estádio junto a centenas de torcedores bem ansiosos. A tensão no ar era palpável.


A fachada do Estádio Mário Filho com destaque para os anéis olímpicos


A enorme rampa que dá acesso para a parte mais alta das arquibancadas


Times perfilados antes do apito inicial


O Maracanã muito bonito para uma grande decisão

Não foi a primeira vez que vi as duas seleções in loco no Rio-2016. Nas quartas-de-final acompanhei o triunfo tupiniquim contra a Colômbia na Arena Corinthians. Também tive o prazer de ver duas apresentações da alemãs no certame: o empate contra o México na estreia de ambos em Salvador e a vitória em cima da Nigéria na semi-final de São Paulo. Uma apresentação boa dos donos da casa e duas mais ou menos da atual campeã do mundo.

Essa não foi a primeira vez que as duas se enfrentaram na história das Olimpíadas. Atuando como Alemanha Ocidental, estiveram frente-a-frente em 1952, 1984 e 1988. O duelo em Seul foi bem emblemático, pois foi válido pela semi-final e eu escutei praticamente todo o confronto no fone de ouvido, em plena aula de Desenho Geométrico. Quando a professora descobriu, ao invés dela me expulsar da sala, me "obrigou" a narrar os pênaltis que deram a vaga na final ao time comandado por Carlos Alberto Silva no banco e Romário e Neto no relvado. Essa havia sido a última participação da equipe europeia até então.

Voltando a 2016, O apito inicial foi dado às 17h30, porém bem antes já estava no meu lugar, tenso e com a adrenalina lá no alto. Para deixar o ambiente ainda mais elétrico, a partida foi boa e com muita emoção, todos os ingredientes necessários para tornarem o combate épico. A primeira boa chance foi alemã aos 10 minutos. Brandt avançou pela esquerda e arriscou da entrada da área. A bola passou por Weverton e explodiu no travessão. Foi apenas o primeiro susto sofrido.

O Brasil estava meio perdidão em campo e tentou, sempre comandados por Neymar, emplacar algumas jogadas de efeito, como aos 13 e aos 19 minutos. Na primeira Luan chutou e a zaga cortou, na segunda, o camisa 10 cobrou escanteio perigoso e Horn cortou no susto. Aos 25, Ginter chegou atrasado e fez falta "nele" na entrada da área. A cobrança do jogador do Barcelona foi primorosa. Ele colocou a bola no ângulo direito, batendo de leve na trave antes de morrer nas redes. Um golaço, o segundo dele dessa forma nos jogos e o segundo que vi bem na minha frente.

A Alemanha não sentiu o gol e teve duas boas oportunidades. Aos 31 Meyer aproveitou uma sobra na entrada da área e Weverton defendeu o belo chute. Três minutos depois, o mesmo Meyer levantou na área e Bender tocou de cabeça. A bola bateu na trave, para o desespero da grande massa, eu incluído, nas arquibancadas. Antes do intervalo chegar os visitantes tiveram outra finalização no travessão. Que sufoco, amigo... Menos mal que a zaga canarinho permanecia até então sem sofrer gols no certame.


Ataque brasileiro e Neymar sofrendo mais uma falta


Alemães retomando a posse de bola


Visão geral de um Maracanã cheio na decisão da medalha de ouro do futebol masculino


Detalhe do gol que abriu o marcador. Cobrança de falta perfeita do camisa 10 verde e amarelo

Infelizmente isso não durou muito no segundo tempo. A agremiação germânica voltou melhor e o Brasil não viu a cor da bola nos primeiros 20 minutos. Dominando as ações, os visitantes deixaram tudo igual aos 13 Brandt rolou para Toljan na direita, o lateral cruzou e Meyer, livre no meio da grande área, empatou. Se a ansiedade já estava em níveis elevados, depois do 1x1 a coisa piorou. Sabendo que precisava voltar a jogar bem o quanto antes, o escrete verde e amarelo retomou as rédeas do cotejo e chegou perto de passar novamente à frente do marcador algumas vezes.

Aos 19 Renato Augusto arrancou pela direita e cruzou. Gabriel Jesus surgiu na grande área e finalizou pra fora. Aos 32, Felipe Anderson recebeu ótimo passe de Neymar só que demorou para concluir. Recuada, a Alemanha se segurou bem e ao final do tempo regulamentar, pintou a famosa prorrogação. Desde o Argentina x Suíça na Copa do Mundo eu não presenciava in loco um "overtime". Teríamos pelo menos mais meia hora de sofrimento.


Zaga alemã cortando cruzamento


Troca de passes no campo de defesa europeu


Mais uma falta. Mais uma cobrança de Neymar

A prorrogação foi sofrida, embolada no meio de campo e com os dois times preocupados em não perder. O Brasil, tendo a exata noção do que significava a final, tentou um pouco mais do que seu algoz de 2014. No primeiro tempo, Luan recebeu bom lançamento de Douglas Santos e se embananou todo, não conseguindo concluir no gol. No segundo, Horn fez brilhante intervenção em chute de Felipe Anderson. Após 120 minutos de bola rolando, tudo igual. A medalha de ouro seria decidida na cobrança de pênaltis.

Naqueles minutos entre a peleja e a decisão na marca de cal milhares de coisas passaram pela minha mente. As medalhas de prata em 1984 e 1988, a derrota contra a Nigéria em 1996, a bisonha eliminação contra Camarões em 2000, o bronze de 2008 e o triste revés contra o México em 2012. Não sou o maior torcedor da seleção, os que me conhecem sabem disso, mas não seria justo perder mais uma chance do ouro, ainda mais jogando em casa.

De certa forma tenho certeza que os 63.707 pagantes também estavam pensando muita coisa, além dos milhões que acompanhavam a transmissão pelos quatro cantos do país. O Maracanã estava quieto, praticamente em silêncio. Poucas vezes nos meus anos de estrada dentro de um estádio eu senti algo igual. O árbitro iraniano Alireza Faghani fez o toss e ficou decidido que a Alemanha iniciaria a série de cobranças.

Matthias Ginter abriu o placar a favor dos germânicos, Renato Augusto empatou, Serge Gnabry fez 2x1, Marquinhos deixou tudo igual novamente. Julian Brandt marcou a favor dos europeus, Rafinha fez o terceiro local, Niklas Süle deixou em 4x3 e Luan igualou. 100% de aproveitamento. Faltando um pênalti pra cada um, agora tinha chegado a hora da verdade. Foi aí que Weverson colocou seu nome na história defendendo o chute de Nils Petersen. O Brasil precisava converter seu último chute para conquistar o ouro.

E foi dele, Neymar, todo o momento. Não gosto dele e todo mundo sabe disso, mas que foi emblemático foi. Os segundos antes da cobrança demoraram horas e o silêncio era total e absoluto. Não se ouvia nem a respiração entre as milhares de pessoas que tomavam as dependências do velho novo estádio. O jovem atleta chutou firme e no exato segundo em que a bola tocou na rede, a tensão deu lugar a uma comemoração alucinada. Vivi uma emoção extrema, absolutamente difícil de explicar.


Matthias Ginter abrindo a disputa de pênaltis


Renato Augusto foi o primeiro batedor tupiniquim


Nils Petersen chutou e Wéverton fez brilhante defesa

O placar final de Brasil 1 (5) - 1 (4) Alemanha deu a esperada primeira medalha de ouro ao futebol tupiniquim na história das Olimpíadas. Depois de tanto insistir, de tanto lutar e de tanta obstinação, finalmente ela foi conquistada. Já disse aqui que não sou o maior torcedor do escrete verde e amarelo - a última vez que me importei de verdade foi na Copa de 1986 - porém não teve como não vibrar muito com esse título. Mesmo sabendo de todas as falcatruas da CBF, de toda a marra dos jogadores nacionais, de tudo de errado que envolve o esporte. Na hora H, isso ficou temporariamente de lado.



Detalhes da cerimônia de entrega das medalhas


Atletas e comissão técnica do Brasil agradecendo a conquista

Fiquei um bom tempo nas arquibancadas do estádio tentando entender e assimilar o que tinha acabado de ver. A depressão pós-Olimpíada e meu desempenho com poucos jogos no restante de 2016 foi diretamente ligado ao que passei naquele 20 de agosto de 2016. Vai ser muito legal dizer que estava no Maracanã quando o selecionado verde e amarelo conquistou sua primeira medalha de ouro no futebol. Sou feliz por ter visto a história acontecer diante dos meus olhos.

Só que as emoções olímpicas ainda tinham um espaço na agenda esportiva. No domingo, dia 21, voltei ao ex-maior do mundo para a gloriosa Cerimônia de Encerramento do Rio-2016. Foi uma coisa tão sensacional que valerá um post especial, fechando essa extensa série "JP na Olimpíada".

Até lá!
@ 2019

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