Opa,
Chegou ao fim a primeira fase do Campeonato Paulista da Segunda Divisão. Após menos de três meses (!) de disputas, a rodada final foi disputada na manhã do último domingo e muitas pelejas eram decisivas. Como infelizmente ainda não inventaram uma máquina que me faça estar em vários lugares ao mesmo tempo, escolhi acompanhar a quase impossível luta do Nacional por uma vaga na segunda fase jogando contra o SEV, até então líder isolado do Grupo 6.
Pouco mais de 100 pessoas pagaram ingresso para a provável despedida nacionalina da temporada 2013. A equipe precisava golear o time de Hortolândia e torcer por uma derrota de Primavera ou Atibaia, que jogariam respectivamente contra Guarulhos e Sumaré, os dois sacos de pancadas da chave. E apesar de esperar um triunfo do onze da capital, não tinha a menor ideia que estava prestes a presenciar um momento histórico.
Junto comigo para essa peleja tive a companhia do namoradeiro David, cada vez mais recluso a baladas culturais e cinematográficas. Também estava por lá o Alexandre Giebrescht, que igual ao que vos escreve assistiu todas as pelejas do time ferroviário em casa nesse ano.
No papo pré-jogo com o Miguel, amigo faz-tudo do NAC, fiquei sabendo que o ex-jogador Cetale, ex-Botafogo e ex-Nacional, havia morrido no começo da madrugada. Triste fim para o atleta que teve a honra de ser companheiro de Garrincha com a camisa do Fogão. Morando nas dependências do clube da Barra Funda há algum tempo, tive a honra de poder saber de algumas histórias de sua carreira em conversas recheadas de nostalgia. Fica a homenagem do JP a ele.
Nacional AC - São Paulo/SP. Foto: Fernando Martinez.
SEV - Hortolândia/SP. Foto: Fernando Martinez.
Trio de arbitragem escalado para a partida decisiva com o árbitro Carlos Roberto dos Santos Júnior e os assistentes Anderson Jose Coelho e Fausto Augusto Moretti. Junto a eles os capitães Charles Dickens (SEV) e Carlão (NAC). Foto: Fernando Martinez.
Como o sol estava forte decidi ir para as tribunas do Nicolau Alayon e dali vi o Nacional começar o jogo num ritmo eletrizante. A equipe perdeu duas ótimas oportunidades para sair na frente do time visitante antes do relógio marcar quatro minutos. Mesmo de forma menos intensa, o time criando as melhores oportunidades.
Bola passando perto do gol em ataque do Nacional no começo da partida. Foto: Fernando Martinez.
Após alguns bons contra-ataques do SEV, o Naça finalmente conseguiu abrir o placar aos 26 minutos. Quem marcou foi o camisa 2 Edvan em um belo chute de fora da área. Cinco minutos depois a equipe fez o segundo após grande troca de passes que envolveu todo o ataque local e terminou com o chutaço de Emerson no ângulo direito do arqueiro Charles Dikens.
Falta para o SEV no primeiro tempo. Foto: Fernando Martinez.
Atleta nacionalino carregando a pelota no meio-campo. Foto: Fernando Martinez.
Apesar da boa vontade das duas equipes - principalmente o SEV, que chegou a perder uma chance com o gol aberto - o marcador não foi mais alterado no tempo inicial. As notícias que chegavam indicavam porém que nada adiantava a vitória parcial do Nacional. Em Sumaré o Atibaia já vencia por 5x0 e em Indaiatuba o Primavera derrotava o Guarulhos pela contagem mínima.
Ataque local pelo alto. Foto: Fernando Martinez.
Com esse sentimento da eliminação precoce no campeonato na mente de todos o segundo tempo começou. O jogo estava sendo levemente dominado pelo time da casa e até pouco depois do décimo minuto o marcador ainda mostrava 2x0. Só que do nada tudo mudou... Ainda tentando encontrar esperança mesmo com os resultados positivos dos adversários diretos pela vaga, o time ferroviário passou a massacrar impiedosamente o SEV.
O segundo tempo começou morno, mas aos poucos se tornou antológico. Foto: Fernando Martinez.
Jogador do Naça tentando chegar perto da área do SEV. Foto: Fernando Martinez.
A peleja ficou fácil demais e num intervalo de apenas 12 minutos o Nacional fez cinco (!) gols. Sem perder a conta, Emerson fez o terceiro aos 13, Hulk o quarto aos 15, Emerson de novo aos 19, Jean aos 23 e Emerson, o artilheiro da manhã com quatro tentos, marcou o sétimo aos 25. Desses, destaque para a lambança do arqueiro Charles Dikens no sexto gol e o sétimo, um golaço por cobertura do fatal camisa 8.
Grande defesa de Charles Dikens, arqueiro do time de Hortolândia. Foto: Fernando Martinez.
Ótima oportunidade de gol do time paulistano. Foto: Fernando Martinez.
Faltando mais de vinte minutos para a peleja acabar, o placar "quase eletrônico" do Nicolau Alayon mostrava 7x0, o que já era um recorde inesperado. Mas como somente uma equipe jogava, a certeza era que a torcida da casa ainda iria comemorar mais, para desespero do homônimo do mais popular romancista inglês da era vitoriana. Dito e feito...
Um dos inúmeros ataque do Nacional no tempo final. Foto: Fernando Martinez.
Sexto gol do time da casa, marcado pelo jogador Jean. Foto: Fernando Martinez.
Sem dar mostras que estava afim de parar com o massacre, Jean fez um belo gol aos 34 minutos, o oitavo. O camisa 7 Thiago Cruz quis aumentar o número de gols bonitos e aos 41 acertou um chute sem pulo e marcou o nono. Era a primeira vez que o Nacional fazia nove gols num só jogo oficial, mas o recorde seria ampliado aos 47 minutos com o gol de Jean. Ele recebeu na direita e chutou forte, colocando a pelota no canto direito.
Início de mais um gol dos donos da casa. Foto: Fernando Martinez.
No fim, o resultado final de Nacional 10-0 SEV (o segundo placar assim que vi num período de um mês) foi histórico em vários sentidos. Primeiro, essa foi a maior goleada nacionalina contando jogos oficiais de competição (amistosos não entram nessa lista) em todos os tempos. O recorde anterior era um 8x1 contra o Espanha (atual Jabaquara) em 19/09/1940. Segundo, o time também trucidou a antiga marca de vitória com maior diferença de gols. As duas maiores até a manhã de domingo haviam sido dois 6x0 contra Pinhalense e Inter de Bebedouro respectivamente em 1978 e 1998. Parece maluquice, mas a equipe nunca havia vencido um jogo por 7x0 ou mais.
Essa foi a quinta vez no século que uma partida de qualquer divisão do campeonato paulista terminou com um time fazendo 10 gols em outro. Mas há uma peculiaridade que torna esse resultado ainda mais surreal: nas quatro partidas anteriores (Capivariano 10-1 Ginásio Pinhalense pela Segundona 2005; Mirassol 10-2 Araçatuba na A2 do mesmo ano; União Mogi 10-0 União Suzano pela Segundona 2006 e Américo 10-1 Jaboticabal na Segundona de 2009), o vencedor derrotou uma equipe que estava nas últimas posições. Nunca havia acontecido de alguém derrotar o líder de um grupo ou do campeonato em si por diferença tão grande de gols. Se bobear, essa foi a primeira vez que isso aconteceu em todos os tempos aqui em São Paulo (ainda farei esse levantamento).
Placar final mostrando simplesmente a maior goleada da história do Nacional Atlético Clube em 94 anos de história. Nunca antes a equipe havia feito 10 gols numa partida oficial. Foto: Fernando Martinez.
Mas no final de nada adiantou ter feito essa goleada, já que a equipe terminou o jogo eliminada da competição. O Primavera tomou sufoco do Guarulhos mas conseguiu o ponto que precisava para ficar na terceira colocação do Grupo 6 e assegurar sua vaga na próxima fase junto com o próprio SEV e o Atibaia. Independente da inesperada saída do técnico Toninho Moura logo no começo das disputas, e sem querer apontar um ou mais culpados por essa eliminação, fica evidente que o trabalho do Nacional ficou a desejar.
Não adianta ver que o Naça teve melhor pontuação do que 14 das 24 equipes que permanecem no certame para a disputa da segunda fase. Não adiantar ver que o time teve o terceiro melhor ataque entre os 45 participantes nem que o atacante Victor Sapo é o atual vice-artilheiro da Segundona... O que fica mesmo é a vergonha da equipe ter sido eliminada ainda na primeira fase da quarta divisão paulista.
E como o calendário da última divisão é a "maravilha" que é, a equipe profissional agora só voltará às atividades em maio de 2014 (!). Ficaremos dez meses (!) sem assistir um joguinho do Nacional Atlético Clube. Confesso que não entendo como os dirigentes das equipes que jogam a Segundona aceitam se submeter a esse tipo de situação. Não tem como um time viver jogando dois meses e meio durante um ano. Se tiver, peço encarecidamente que me expliquem, pois já tentei centenas de vezes entender o que rola de verdade...
Bom, voltando à vaca fria, agora a Segunda Divisão estadual terá os 24 sobreviventes divididos em seis chaves, e dois de cada grupo irão garantir vaga na terceira fase do certame. menos mal que agora temos aquela famosa e aguardada "mistura" de equipes, panorama que nos traz uma série de times sensacionais para perto de casa. Como sempre fazemos, iremos trazer vários desses jogos sensacionais a partir do próximo final de semana.
Até lá!
Fernando