Texto e fotos: Fernando Martinez
A noite de sexta reservou um confronto surreal e totalmente insólito válido pela edição 2021 da Copa do Brasil sub-20. No gramado sintético do Allianz Parque o Palmeiras, atual tetra campeão paulista e uma das forças da categoria nos últimos anos, enfrentou a humilde Liga Esportiva de Presidente Médici, atual campeã maranhense. Uma daquelas partidas que provavelmente nunca mais se repetirão e que teria um enorme quórum de amigos e conhecidos se tivesse sido realizada com portões abertos.
Você viu aqui no Jogos Perdidos que o alviverde conquistou o inédito tetra paulista vencendo o Corinthians nos pênaltis na decisão de 2020. Já o Presidente Médici conquistou seu primeiro caneco na história com uma campanha genial. Eles entraram no certame na segunda fase e eliminaram Chapadinha, Juventude e Bacabal nos pênaltis antes de vencerem o Americano na final por 2x0. Campeões com apenas uma vitória é genial.
A equipe foi fundada em 2007 e, pelo que consegui apurar, estreou no sub-20 exatamente no ano passado (vale comentar que o site da FMF é tenebroso de tão ruim. Encontrar informações históricas sobre torneios realizados pela entidade na página oficial é pior do que encontrar agulha no palheiro. Bem que podiam fazer um site minimamente decente, não?). O Campeonato Maranhense de Juniores – denominação utilizada apenas em 2020 – foi de tiro curto em virtude da pandemia, mas o que importa é que colocaram o nome na história.
O Palmeiras x Presidente Médici foi o jogo mais perdido que vi em muito tempo. O último tinha sido o Ponte Preta x Afogados pela Copa do Brasil de 2020, exatamente um ano antes do duelo de Allianz Parque
Confesso que nunca tinha ouvido falar a respeito da cidade de Presidente Médici. Como JP também é cultura, apurei que o município, que fica a 168 quilômetros de distância de São Luís, fazia parte de Santa Luzia do Paruá até 1994, quando se emancipou. A população oficial no último censo de 2010 era de 6.374 pessoas. Ou seja, os moradores cabem oito vezes no Allianz Parque e ainda sobra espaço. Aliás, todos os estádios que recebem jogos profissionais na capital bandeirante podem acomodar os medicenses sem aperto.
Por essas e por outras que competições como a Copa do Brasil sub-20 e sub-17 e a Copa São Paulo de Futebol Júnior são tão geniais. Duvido que qualquer uma das pessoas envolvidas com o clube nordestino poderia imaginar que um dia estariam em São Paulo jogando num estádio como o Allianz. Imaginem a alegria de todos ao terem essa incrível e única chance na vida. Pena que boa parte da "mídia especializada" diz que esses times nada acrescentam. Não sabem de nada.
A molecada da Liga conseguiu o mérito de segurar o Palmeiras durante quase 45 minutos. Sim, o fato de o alviverde não ter se acertado durante todo o tempo inicial foi basicamente o que determinou o placar zerado, porém os meninos maranhenses mostraram bastante dedicação e fizeram uma apresentação digna. O problema foi que em toda jogada um pouco mais dura, algum atleta rubro-amarelo caía no chão e demorava para se levantar. Isso fez o árbitro dar cinco minutos de acréscimos... e foi aí que a partida começou a se definir.
Os donos da casa acertaram o pé entre os 44 e 49 minutos, abrindo sem dó a porteira. O marcador foi inaugurado com o panamenho (!) Newton. Ele ganhou de dois defensores, do goleiro e tocou com o gol vazio. Davi recebeu belo passe da direita aos 47, deu um drible genial no zagueiro e ampliou. Newton fez outro aos 49 aproveitando rebote dentro da área. Com os 3x0 de vantagem, só um terremoto de magnitude 9.2 na Escala Richter tiraria a vaga do escrete paulistano.
O belo contraste entre os dois uniformes no gramado do Allianz Parque
Na primeira foto, o detalhe do gol que abriu a goleada verde marcado por Newton. Depois o panamenho comemorando pela segunda vez no 3x0 que fechou o primeiro tempo
Quando a etapa final começou, o Presidente Médici até tentou fazer aquele gol de honra que se transformaria num verdadeiro troféu. Foi por pouco que ele não saiu, principalmente no décimo minuto quando a zaga salvou em cima da linha um tento que parecia certo. Um pecado. Passado esse momento, só deu Palmeiras. Aos 15, o colombiano Marino escorou escanteio da direita. Dois minutos depois ele cruzou e Newton chegou ao hat-trick da noite. Uma jogada genuinamente latino-americana.
Pedro Acácio marcou pela sexta vez aos 21 em jogada individual. Marino ampliou para 7x0 aos 29 e Vitinho fechou a goleada aos 33 de cabeça. Os locais tiveram novas oportunidades até os 45, mas não converteram. O Palmeiras 8-0 Presidente Médici colocou o alviverde nas oitavas de final da Copa do Brasil contra Real Ariquemes ou Náutico e também registrou a maior goleada da história do estádio. Nada mal. De qualquer forma, o elenco da Liga Esportiva merece os parabéns.
Três lances do tempo final. Tirando um ataque perigoso dos visitantes, só deu Palmeiras
Marino, atacante colombiano, fez o quarto alviverde de cabeça
Pedro Acácio fez o sexto em belíssima jogada individual
Vitinho fechou a goleada com o oitavo tento aos 33 minutos
Antes do futebol ser interrompido (de novo), no sábado ainda deu tempo de encerrar as coberturas, por enquanto, em nova apresentação do Nacional como mandante na Série A3.
Até lá!
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Ficha Técnica: Palmeiras 8x0 Presidente Médici/MA
Local: Allianz Parque (São Paulo); Árbitro: Pietro Dimitrof Stefanelli/SP; Público e renda: Portões fechados; Cartão amarelo: Pedro Acácio; Gols: Newton 44 e 49, Davi 47 do 1º, Marino 15 e 29, Newton 17, Pedro Acácio 21 e Vitinho 33 do 2º.
Palmeiras: Mateus; Davi (Vitinho), Henri (Jhow), Zabala e Vitor Hugo; Ramon, Pedro Bicalho (Pluas) e Pedro Acácio (Yago Andrade); Kevin, Robinho (Marino) e Newton (João Pedro). Técnico: Wesley Carvalho.
Presidente Médici: Arley; Lucas, Maffia (Renan), Bruno Menezes e Fonseca (Robson); Gabriel Turi, Barbeirinho e Bastico (Paulo Sérgio); Lyandro Gabriel (Adriel), Lé (Marcos Antônio Pimentinha) e Paulinho (Rickelmi). Técnico: Jaílson Negueba.
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