Texto e fotos: Fernando Martinez
No último final de semana começou a nona edição do genial Campeonato Brasileiro da Série D, de longe a mais legal até hoje. Nada melhor do que fazer a estreia com uma viagem digna do antigo "Especial do Mês". A pedida foi colocar o pé na estrada e seguir até o Estádio Barão de Serra Negra, local do imperdível e esperado encontro entre XV de Piracicaba e o sensacional São Paulo de Rio Grande, o time 655 da Lista.
Na atual temporada o XV disputou a Série A2 e fez uma campanha muito fraca, o que deixou o time perto da zona de rebaixamento durante toda a competição. A salvação veio na rodada derradeira com um triunfo contra a Portuguesa. Já o São Paulo faz parte da primeira divisão do seu estado e nesse ano terminou o certame na nona colocação, apenas um ponto atrás do G8 e das quartas-de-final. Por ser primeira rodada da Série D, não tinha a menor ideia do que esperar desse duelo.
Assim como aconteceu em 2016, 68 equipes fazem parte da quarta divisão nacional, 47 delas que também participaram na temporada passada. As agremiações estão divididas em dezessete chaves com quatro times cada e passam para a segunda fase os primeiros colocados e os quinze melhores segundos, somando 32. XV e São Paulo fazem parte do Grupo A15 junto com Operário de Ponta Grossa e Brusque. Desde que a CBF criou o torneio, esse é o que tem mais times "de perto" da capital, um abençoado presente.
Os dois nunca haviam se enfrentado e apesar disso a tradição de ambos é absurda. Juntos, eles somam 223 anos (o XV foi fundado em 1913 e o São Paulo em 1908) e um vasto cardápio de conquistas somado a uma história riquíssima. O alvinegro já foi campeão da Série C em 1995 e levou cinco vezes o caneco da A2, além de um sem número de participações na elite estadual. O São Paulo tem na sua sala de troféus o título gaúcho de 1933 e está entre os vinte times mais antigos do Brasil.
Depois de vencer a Copa Paulista em 2016, o Nhô Quim assegurou seu retorno a um Brasileiro depois de 14 anos, já que a última participação se deu na Série C de 2003. Ao todo, os piracicabanos somam dezoito temporadas - dezenove com a desse ano - perambulando entre Série A, B e C. O Leão do Parque tem apenas sua sexta participação, isso depois de ficar de fora do nacional por 34 anos (da Taça de Ouro de 1982 até a D de 2016).
Nessas seis disputas, os gaúchos enfrentaram paulistas em treze oportunidades, sete delas na terra dos bandeirantes. O retrospecto mostra apenas uma vitória (2x1 contra a Ferroviária em 1981) e seis derrotas. Aliás, foram seis compromissos entre 1980 e 1982 e o outro somente em 2016, contra o Linense. Como visitar Lins significa gastar uma grana e ter uma logística complicadíssima, não teve como ir pra lá no ano passado. Por sorte a tabela colocou o clube rubro-verde relativamente próximo da capital nesse ano. Sendo assim, não tinha como perder essa oportunidade.
O quórum começou a ser montado duas semanas antes da peleja e passou por um rodízio de integrantes bastante intenso. Por fim, a caravana seguiu até a bela cidade interiorana com o seu Natal tomando conta do volante, comigo e com a dupla Renato e Estevan. A viagem foi tranquila, na boa e chegamos no Barão faltando cerca de uma hora e meia pro apito inicial.
Na história do blog fizemos dez coberturas na Atenas Paulista, a última delas há cinco anos com uma partida do Vera Cruz local pelo Amador do Estado. No Barão da Serra Negra foram oito, a maior parte delas com o Orlando até 2010. Eu nunca tinha visto um jogo profissional ali, e minha solitária visita até então havia sido na Copa São Paulo de 2011, numa rodada dupla que contou com um XV e Sete de Setembro de Dourados e um Inter de Porto Alegre e Primeira Camisa.
Esporte Clube XV de Novembro - Piracicaba/SP
Sport Club São Paulo - Rio Grande/RS
Trio de arbitragem comandado pelo mineiro Marco Aurélio Ferreira, além dos assistentes e quarto árbitro paulistas Alex Ang Ribeiro, Luiz Alberto Nogueira e José Cláudio Rocha Filho junto com os capitães dos times
A torcida do time gaúcho presente em Piracicaba
Feliz por finalmente ver uma partida da equipe principal do Nhô Quim dentro dos seus domínios, passei pela lojinha do clube que fica no próprio estádio (em tempo, essa era uma iniciativa que todos os times deveriam fazer) antes de seguir ao gramado. A movimentação era tímida e começou a se intensificar faltando cerca de meia hora pro apito inicial.
O tempo estava nublado, mas a chuva tinha dado uma trégua desde que saímos de São Paulo. Foi só passar do portão de entrada que ela voltou e permaneceu até a segunda-feira. No tempo inicial ela ainda teve momentos tranquilos, e esse cenário não atrapalhou os atletas. Durante os primeiros 45 minutos, o XV foi melhor.
A primeira grande oportunidade aconteceu aos nove minutos com Léo Carvalho. Ele deu uma caneta no defensor e chutou forte. A bola bateu na trave e saiu pela linha de fundo. Jogar pela direita era a melhor alternativa, e a maior parte dos ataques quinzistas saía por esse lado do campo. Romarinho teve boa chance aos 17, só que a pelota saiu longe do gol.
Aos 24 minutos o atacante Frontini quase fez o primeiro em cabeçada que tirou tinta do travessão. Conforme o tempo passava a chuva ia apertando. Nos momentos finais o temporal já era uma realidade quando Romarinho abriu o marcador e fez a festa dos 1.862 torcedores presentes. Ele recebeu passe de Gilsinho e chutou de pé direito, colocando a pelota no canto de Deivity.
Primeira grande chance do XV em chute de Léo Carvalho que bateu na trave
Henrique, camisa 6 do São Paulo, tentando o desarme
Ótima chance de Romarinho pela esquerda
Boa jogada do Nhô Quim em lance pela lateral
Frontini tentando o gol do XV de cabeça, sob o olhar de Henrique
O dilúvio estava com tudo e o que me salvou durante o segundo tempo foi a genial cabine de imprensa que fica atrás do gol da esquerda do Barão. Dá pra ter uma ótima visão de todo o gramado, então como o mundo estava caindo, fiquei ali durante a maior parte do tempo. Dali vi Frontini reiniciar os trabalhos colocando outra bola na trave.
Estava difícil jogar bola no encharcado gramado e esse panorama prejudicou demais os últimos 45 minutos. Mesmo assim o São Paulo se mandou ao ataque e levou bastante perigo para a meta defendida por Mateus Pasinato. O arqueiro fez duas grandes intervenções em chutes de Saravai e Flávio, respectivamente aos 21 e aos 25, e evitou o empate.
O maior nome do triunfo piracicabano acabou sendo o de Vinícius Simon, zagueiro paulista. Eram decorridos 36 minutos quando Raphinha finalizou e a bola passou pelo camisa 1, porém não passou pelo ligado defensor, que salvou o gol do São Paulo em cima da linha. Desse momento até o apito final, o onze visitante não conseguiu mais nenhuma chance clara.
Da cabine de imprensa atrás do gol da esquerda, essa é a visão do gramado. O local salvou minha pele durante o tempo final
Zaga gaúcha protegendo a pelota
Deivity observando o início de um ataque do XV
Zaga visitante tirando a bola de dentro da área
Placar final no Barão de Serra Negra e o retorno com o pé direito do XV ao nacional
O placar final de XV de Piracicaba 1-0 São Paulo/RS foi uma grande estreia do Nhô Quim, que agora viaja para enfrentar o Operário longe de casa. Os gaúchos receberão o Brusque no Aldo Dapuzzo. Por ser um campeonato de tiro curto, qualquer ponto conquistado é essencial pensando na classificação.
A peleja terminou mas o temporal não. Voltamos a São Paulo debaixo de muita chuva e com o seu Natal voando a 60 quilômetros por hora, com pouca visibilidade e com um papo genial dentro do Possante 558. Bom matar a saudade dessas jornadas!
Até a próxima!
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