Cinco meses após o pontapé inicial, o Campeonato Brasileiro da Série D chegou na sua grande final com um confronto em que poucos acreditariam que fosse possível acontecer lá no começo de julho. Não tanto pelo Botafogo de Ribeirão Preto e sim pela presença do genial Ríver Atlético Clube do Piauí. Como não dava pra perder uma decisão dessa em território paulista, armei um bate-volta monstro até o Estádio Santa Cruz para conferir de perto as emoções do jogo de ida.
Independente da conquista ou não do caneco, os dois times já haviam conquistado algo bastante importante na competição: o acesso para a Série C - junto com Remo e Ypiranga de Erechim - e a chance de ter uma temporada um pouquinho mais decente em 2016. O Bota não começou bem o certame e quase foi eliminado pelo Gama na primeira fase. Depois funcionou o esquema de vencer em casa e segurar a vantagem longe dos seus domínios. Dessa forma a Pantera eliminou CRAC, São Caetano (na disputa direta pela vaga na terceirona) e Remo. O time volta para a C depois de treze anos.
Já a promoção do Ríver foi algo bastante emblemático para o futebol piauiense no geral. Essa foi a primeira vez que um time do estado conquistou um acesso num campeonato nacional. Vários já haviam tentado esse feito através dos tempos, mas foi o Tricolor Mafrense, o maior campeão do seu estado com 29 títulos, quem conseguiu. A campanha foi sensacional: o time se manteve invicto na primeira fase e depois eliminou Estanciano, Lajeadense e Ypiranga até chegar na decisão.
Botafogo FC - Ribeirão Preto/SP. Foto: Fernando Martinez.
Ríver AC - Teresina/PI. Foto: Fernando Martinez.
Capitães dos times e trio catarinense para a decisão com o árbitro Bráulio da Silva Machado e os assistentes Thiaggo Americano Labes e Helton Nunes. O quarto árbitro foi o paulista Rodrigo Guarizo do Amaral. Foto: Fernando Martinez.
Por ter feito melhor campanha, o Ríver ganhou o direito de mandar a segunda partida, mas se depender de retrospecto, a vantagem é toda paulista. Em 64 jogos disputados entre equipes dos dois estados em campeonatos nacionais (somando Brasileiro de todas as divisões e Copa do Brasil), os nordestinos venceram apenas cinco vezes, a última em 1984. Falando especificamente do Ríver, foram 18 pelejas e apenas uma vitória do Galo Carijó: 3x2 contra o América de São José de Rio Preto no Brasileiro de 1978.
Para colocar o 611º time na minha Lista fui cedo para a Califórnia Brasileira e cheguei na rodoviária da cidade faltando mais de uma hora para o apito inicial. O trajeto dali até a casa tricolor foi tranquilo e não demorou para já estar nos portões principais do Santa Cruz. Antes de ir para o campo de jogo, dei uma passadinha na genial lojinha do Botafogo. Aliás, ainda aguardo o dia em que todos os clubes possam ter uma loja oficial nas suas dependências.
No mesmo momento em que fui para o gramado começou uma agradável chuva que se estendeu por todo o tempo inicial. Aliás, corrigi um erro histórico, já que nunca tinha visto um jogo do tricolor de Ribeirão Preto como mandante na sua casa. A única partida que tinha visto ali tinha sido um Olé Brasil x Jaboticabal na Segundona Paulista de 2009. A dívida foi paga com juros e correção.
Depois de todo o cerimonial antes do apito inicial, o jogo começou. A torcida fez bem o seu papel e empurrou a Pantera durante todo o tempo. Aos cinco minutos aconteceu a primeira grande emoção no Santa Cruz quando Helton Luiz avançou pela direita e cruzou. Francis, já mostrando que estava inspiradíssimo, emendou um toque genial de letra e a bola tocou na trave visitante.
Depois disso a chuva apertou e o equilíbrio foi a marca da peleja. As duas equipes concentraram as ações no meio-campo e chegaram pouco dentro da área adversária. Só perto do fim da primeira etapa que Canela, outro destaque da noite, emendou dois bons ataques, mas nenhum deles resultou em gol. No intervalo o marcador ainda estava em branco.
O Estádio Santa Cruz recebeu quase dez mil pessoas para na ida da grande final da Série D 2015. Foto: Fernando Martinez.
Marcador piauiense desarmando atacante local. Foto: Fernando Martinez.
Jogador do Ríver mandando um toque cheio de estilo. Foto: Fernando Martinez.
Boa saída do goleiro Naylson na cabeça do camisa 3 Caio. Foto: Fernando Martinez.
Mais um ataque botafoguense pela esquerda. Foto: Fernando Martinez.
Lance dentro da área do time visitante. Foto: Fernando Martinez.
No segundo tempo o jogo foi simplesmente eletrizante, digno de uma grande decisão. O Botafogo voltou mais inspirado e o Ríver, tentando segurar o empate de qualquer jeito, se manteve todo no campo de defesa. A única chance dos piauienses estava nos contra-ataques, como no que terminou em boa cobrança de falta de Júnior Xuxa e boa defesa de Neneca.
Na sequência o Botafogo abriu o marcador se aproveitando de uma jogada brilhante de Canela. Ele fez grande jogada pela esquerda, deu um drible antológico num dos zagueiros e avançou até dentro da área. O camisa 11 cruzou e Francis completou para o fundo do gol.
Aos 22 o Ríver criou boa chance, mais uma vez neutralizada pelo arqueiro botafoguense. Aos 25, Francis fez o segundo num sem-pulo depois de bola escorada por Nunes. Mesmo com 2x0 o Bota continuou bem e teve chances para praticamente definir a decisão, mas acabou sofrendo o primeiro aos 36 minutos, através de Célio Codó.
Seis minutos depois a torcida voltou a fazer a festa quando Francis completou seu "hat trick" numa cabeçada de puro oportunismo. A partir daí parte do Santa Cruz começou a gritar "é campeão", algo sempre temerário antes de qualquer apito final. Os gritos duraram exatamente 120 segundos, pois aos 44 o Ríver marcou novamente, agora com Amorim.
O genial drible de Canela no início da jogada do primeiro gol do Botafogo. Foto: Fernando Martinez.
Alex (15) marcando Canela (11). Foto: Fernando Martinez.
Francis subindo mais do que o zagueiro para fazer seu terceiro gol da noite e a bola no fundo das redes, para a tristeza de Naylson. Fotos: Fernando Martinez.
Naylson fazendo sua prece depois de Bota 3-2 Ríver. Foto: Fernando Martinez.
No fim, o placar de Botafogo 3-2 Ríver deixou a decisão totalmente em aberto. Com certeza a torcida do Tricolor Mafrense vai lotar o Albertão para tentar viver a primeira conquista nacional do estado. A Pantera joga pelo empate, enquando o onze nordestino precisa vencer. A sorte está lançada.
Placar final da primeira decisão da quarta divisão nacional em 2015. Foto: Fernando Martinez.
Como armei um esquema-ninja com um taxista local, consegui chegar na rodoviária da cidade a tempo de ainda fazer uma boquinha numa lanchonete dali dois minutos antes dela fechar as portas. Com a barriga cheia foi só esperar dar o horário da partida do ônibus que me trouxe novamente para a capital paulista. Um bate-volta que durou quase 14 horas, mas que valeu demais a pena.
Até a próxima!
Fernando
Nenhum comentário:
Postar um comentário