Texto e fotos: Fernando Martinez
Quando fui acompanhar o empate entre Portuguesa e Novorizontino por 2 a 2 no último 18 de janeiro, achei que minha trajetória no Estádio Oswaldo Teixeira Duarte tinha chegado ao fim. Foi a partida de número 445 que assisti no campo do time rubro-verde, que se despediu de sua casa inaugurada em 1972, passando a mandar seus jogos no recauchutado Pacaembu a partir dali. Não me imaginava voltando tão cedo ao bairro onde cresci para uma nova sessão de futebol.
Mas eis que, na última quinta-feira, de forma surpreendente, o glorioso Canindé recebeu outra partida pouco mais de dois meses após sua "despedida": São Paulo x Instituto 3B do Amazonas, válido pela segunda rodada do Campeonato Brasileiro Feminino, a minha primeira cobertura de futebol das mulheres em 2025. Foi minha peleja de número 446 na cancha lusitana, e poucas vezes me surpreendi tanto com uma notícia.
Todo mundo, sem exceção, achava que o local não seria mais utilizado. O que poucos se atentaram é que a Portuguesa parou de usar seu estádio por decisão da SAF que comanda o clube desde o fim do ano passado, e não por estar interditado ou algo do tipo. Sem um local para mandar sua estreia com o mando de campo no principal certame feminino do país (o CT de Cotia recebeu um jogo do sub-20), o São Paulo entrou em contato com a Lusa para verificar a possibilidade de usar o Canindé. Como ainda restavam dois jogos a serem realizados ali, de um total de seis acordados entre as diretorias antes da transformação em SAF, a autorização foi concedida.
Não esperava frequentar esse espaço outra vez depois da "despedida" de janeiro
Obviamente, boa parte da torcida verde e vermelha não gostou da ideia. A bonita festa que vimos em janeiro no "adeus" ao campo, na realidade, funcionou como despedida apenas da Lusa, não do Oswaldo Teixeira Duarte em si. Eu, por outro lado, não vi problema algum e me mandei para essa partida simplesmente imperdível, que ainda contava com a presença inédita do 3B em sua estreia na elite nacional.
Fundado como Associação Esportiva 3B da Amazônia em 2017, o clube bateu na trave duas vezes antes de conquistar o acesso em 2024. Em 2018, perdeu a vaga na elite para o Minas Icesp e, em 2023, para o Botafogo/RJ. No ano passado, disputou uma vaga com o Mixto e, após dois empates, eliminou as mato-grossenses nos pênaltis. Em sua estreia na primeira divisão, foi derrotado pelo Fluminense em casa.
Já o São Paulo iniciou a temporada quebrando a hegemonia do Corinthians na Supercopa, ficando com o título. Na segunda-feira, venceu o Flamengo fora de casa e buscava emplacar o segundo triunfo seguido. Pena que, como sempre, poucas pessoas – cerca de 100 – marcaram presença no Canindé para outro duelo do nacional em horário comercial e sem transmissão por nenhum tipo de mídia. Mais um oferecimento da pior gestão da CBF em todos os tempos, a do presidente Ednaldo, reeleito por aclamação na semana passada. Viva!
Apesar de não ter sido credenciado, fui de carona e peguei a fotos dos times posados no esquema "Olhar 43", "Aquela assim, meio de lado, já saindo, indo embora..."
Falando em CBF, eles me quebraram e não consegui me credenciar desta vez. O prazo ia até terça-feira, mas, do nada, simplesmente fecharam o credenciamento sem aviso na segunda. Ainda mandei um e-mail para saber o que tinha acontecido e, claro, sigo esperando a boa vontade de me responderem. Como há muito não acontecia, assisti à peleja da arquibancada junto com os amigos Milton, Pucci e o magnânimo Douglas Ramon, o maior são-paulino vivo do planeta.
Com a bola rolando, nenhuma surpresa. Foram 90 minutos de ataque contra defesa no gramado do Canindé. O 3B, que conta com a goleira Katelyn Kellogg, das Ilhas Virgens Britânicas (!), além da artilheira Sole Jaimes, praticamente não passou do meio-campo. Na etapa inicial, Dudinha fez as honras e marcou dois gols. O terceiro saiu dos pés de Aline.
No segundo tempo, Serrana também deixou sua marca, ampliando para 5 a 0 sem dificuldades. Sem muito ânimo ou empolgação, tudo indicava que terminaria assim. Do nada, um gás extra pintou nos minutos finais, e as são-paulinas anotaram outros três gols com Ravena, Carol Gil e Day. No fim, um inapelável São Paulo 8-0 3B colocou o time do Morumbi na liderança do torneio pelo saldo de gols, um acima do Corinthians.
Lances do começo do jogo no Canindé
Detalhe do primeiro gol da tarde, marcado por Dudinha
Momentos do tempo inicial na capital paulista
Na etapa final, o São Paulo seguiu comandando as ações em campo. O 3B passou do meio-campo em poucas oportunidades

Placar final da goleada são-paulina que colocou a equipe na liderança do Brasileiro Feminino
Saí do Canindé sem saber se desta vez foi realmente a despedida. Se for mesmo, foram 446 partidas ali desde 1983, uma marca de respeito. Fiz uma série de fotos do estádio antes de pegar o caminho do Metrô Armênia em meio aos inúmeros zumbis cracudos espalhados pelo bairro do Pari. O bairro onde morei faz tempo que não é mais o mesmo.
Paramos em uma lanchonete ao lado da estação para fazer uma boquinha antes de cada um seguir seu caminho. A noite de quinta-feira ainda reservava a decisão do Paulistão. Foi a primeira vez que o estadual foi decidido em uma quinta-feira desde 1978 (!), a primeira noturna em duelos de ida e volta desde 1986 e a primeira final à noite desde 1997. Sobre o jogo, só posso dizer: foi uma noite longa, muito longa.
Até a próxima!
Ficha Técnica: São Paulo 8-0 3B
Local: Estádio Oswaldo Teixeira Duarte (São Paulo); Árbitra: Andressa Hartmann/RS; Público: 100 presentes; Renda: Portões abertos; Cartão amarelo: Ravena; Gols: Dudinha 15, 19 e Aline 23 do 1º, Serrana 8, 27, Ravena 39, Carol Gil 44 e Day 45 do 2º.
São Paulo: Carlinha; Bruna Calderan (Ravena), Kaká, Jé Soares e Bia Menezes (Carol Gil); Robinha, Karla Alves, Isa (Serrana) e Aline (Crivelari); Camilinha e Dudinha (Day). Técnico: Thiago Viana.
3B: Katy; Giovana, Natasha Rosas (Ysaura Viso), Rayane e Dani Silva (Giselinha); Camila Arrieta (Paulinha), Monique Peçanha (Maria Eduarda), Gabi e Carla Nunes; Kika e Sole Jaimes (Alanna). Técnico: Roberto Neves.
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