Texto e fotos: Fernando Martinez
Com mais de 2.900 jogos vistos in loco já me deparei com um sem número de situações surreais, mas a quarta rodada da fase inicial do Campeonato Paulista da Série A2 me trouxe uma situação inédita nos meus 36 anos em estádios: uma partida que durou praticamente 24 horas. Falo do duelo entre Nacional e Rio Claro realizado no Estádio Nicolau Alayon, a 38ª apresentação consecutiva que acompanhei do onze ferroviário dentro de casa.
A equipe paulistana chegou nesse compromisso com a corda no pescoço. Nas três rodadas iniciais, derrotas contra Briosa e Água Santa (essa com matéria aqui no JP) e um bom empate fora de casa contra o XV de Piracicaba. O técnico Allan Aal estava super ameaçado e caso não vencesse, dificilmente teria forças para continuar no cargo. Só que jogar contra o Rio Claro, terceiro colocado com seis pontos, certamente não seria uma tarefa tranquila.
Nacional Atlético Clube - São Paulo/SP
Rio Claro Futebol Clube - Rio Claro/SP
Os capitães dos times, o árbitro José de Araujo Ribeiro Junior, os assistentes Paulo de Souza Amaral e Leonardo Lourenço Marchiori e a quarta árbitra Edina Alves Batista
Sob um calor fortíssimo na pior semana de um dos piores janeiros da história, a previsão dizia que a chance de chuva era pequena. Sob essa expectativa fui até a Comendador Souza suando em bicas e com um tremendo mal estar debaixo dos quase 39 graus de sensação térmica. Quando cheguei no clube notei que algumas nuvens estavam se formando pelos lados da Zona Leste. Nem liguei e fui me credenciar. Fiz a estreia do meu banquinho, já que agora não podemos ficar de pé (!) atrás dos gols fazendo fotos.
O Nacional iniciou os trabalhos querendo fazer valer o fator campo e teve a primeira boa chance aos dez minutos quando Lucas Lino chutou forte e Murilo fez a defesa. Aos poucos o escrete rio-clarense foi melhorando e o goleiro Maurício se tornou no melhor da tarde. O primeiro bom momento do Azulão foi aos 25 minutos em tiro de Bruno Formigoni e grande intervenção do camisa 1. Logo em seguida, quase Franco fez gol olímpico, porém o goleiro defendeu bem outra vez. Nesse ínterim (sempre quis usar essa palavra) as nuvens negras da ZL estavam chegando depressa e não demorou para as primeiras gotas começarem a cair.
Fui até a parte coberta acompanhar a peleja com o seu Natal, o roqueiro Renato Rocha e o magnânimo The Watcher e dali acompanhei o crescimento contínuo da tempestade. Com a bola ainda rolando, Maurício ainda teve tempo de fazer mais duas belas intervenções antes do intervalo chegar. Quando os times seguiram para os vestiários a situação se complicou de vez. Vimos o dilúvio de Noé chegar com força e com ele muitos raios, trovões e granizo.
Disputa de bola pelo alto no campo de defesa local
Jogador do Rio Claro fazendo uma pose plástica dentro da sua área
Um dos bons ataques visitantes no final do primeiro tempo
Detalhe do gramado do Nicolau Alayon durante o dilúvio que caiu na Zona Oeste paulistana
Passados os quinze minutos de descanso não teve como atletas e quarteto de arbitragem retornarem ao gramado pois a situação estava feia. Poucas vezes vi uma chuva tão forte estacionada numa mesma região por tanto tempo. Conforme o relógio corria ela foi piorando, piorando, piorando e foi questão de minutos pro relvado ficar num estado lamentável e sem nenhuma condição. A energia elétrica foi pro saco e os presentes se espremiam nos poucos pedaços ainda secos da numerada. Nas tribunas, as emissoras de rádio sofreram com o forte vento e tiveram os equipamentos atingidos impiedosamente pela água.
Estava claro que a peleja seria paralisada e agora a preocupação era como sairíamos dali. Só por volta das seis e meia da tarde São Pedro fechou a torneira e então pegamos o caminho da roça. Primeiro tentei sair dali de ônibus, mas a Marquês de São Vicente, avenida que fica na frente do Nacional, estava alagada. Tive que descer do coletivo e voltar a pé até a Estação Água Branca. Menos mal que os trilhos da CPTM estavam livres e então pude chegar no QG sem muito percalço. As notícias da noite confirmaram que a segunda etapa seria jogada às 15 horas da quinta-feira.
De início não estava animado para encarar uma nova ida ao Nicolau Alayon na quinta-feira, muito por conta do trabalho e também porquê a previsão mostrava que a sensação térmica estaria na casa dos 39 graus (!) na hora da partida. Fiz uma retrospectiva e lembrei que já tinha visto dois cotejos interrompidos pela chuva até então: a primeira um Juventus x Ituano na Javari pelo Paulistão de 2003 e a segunda o hiper-polêmico São Bernardo FC x Penapolense pela Segundona de 2005. Como nos dois casos só vi metade dos duelos, acabei decidindo ir só pelo fato de acompanhar pela primeira vez um cotejo finalizado em dois dias diferentes.
Os meteorologistas acertaram em cheio e o calor que fez na quinta-feira não foi moleza. Cheguei no Nicolau Alayon faltando cerca de vinte minutos para o reinício e a minha camiseta já estava completamente encharcada. Mesmo sem muito pique de ficar debaixo do sol fui acompanhar um pouco do ataque nacionalista. O legal é que as equipes trocaram de uniforme, já que as camisas brancas do Rio Claro estavam sujas e não tiveram como serem lavadas. O Naça então ficou de branco enquanto os visitantes vestiram um modelito todo azul.
Assim como na primeira etapa realizada no dia anterior, os locais tentaram emplacar aquela pressão marota em ataques principalmente pela direita. A pouca assistência que compareceu na cancha se animou, pena que por apenas alguns minutos. O Rio Claro logo voltou a jogar melhor e mais uma vez obrigou o goleiro Maurício a trabalhar bastante. Aos 11, Elton recebeu passe de Nathan e chutou em cima do guarda-metas. Aos 27, foi a vez de Nathan ter seu momento em chute que passou por cima da meta. Cinco minutos depois foi a vez do veterano atleta nacionalista fazer brilhante intervenção em cobrança de falta.
De camisas trocadas, o Nacional tenta atacar pela direita
Falta a favor do onze visitante
Uma das várias defesas importantes do goleiro Maurício, o principal responsável pelo empate na Comendador Souza
O escrete nacionalista saindo pro ataque
Pra não dizer que o Nacional não tentou, ele até que tentou sim. Só que que a qualidade dos passes era terrível e todas as investidas foram infrutíferas. Deu raiva acompanhar a série de passes errados, toques bisonhos e chutes sem direção. Se não fosse a magnífica atuação do seu arqueiro, o escrete ferroviário teria saído de campo com outra derrota. No fim, o Nacional 0-0 Rio Claro foi até que bom pro Azulão e péssimo para os paulistanos. O empate tirou o time do Z2 e agora somam três pontos junto com o Penapolense, este com saldo pior. O Azulão é quarto com sete pontos.
Sem tempo a perder saí correndo da Comendador Souza com a meta de chegar no Morumbi em uma hora. Corri muito e cheguei em cima da pinta. Tudo bem que o preço foi alto, já que a pressão desabou por causa do fortíssimo calor e demorei para retornar ao estado normal. Cortesia desse verão tenebroso que estamos vivendo. Como aqui é tudo pelo social, vamos em frente. Futebol de novo? Não tenho nem ideia.
Até a próxima!
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Ficha Técnica: Nacional 0-0 Rio Claro
Competição: Campeonato Paulista Série A2; Local: Estádio Nicolau Alayon (São Paulo); Árbitro: José de Araujo Ribeiro Junior; Público: 221 pagantes; Renda: R$ 2.550,00; Cartões amarelos: Caio Mendes e Gabriel Santos (Nac), Fernando (Rio).
Nacional: Maurício Telles; Fabiano, Gabriel Santos, Everton Dias e Caio Mendes; Bruno Sabino, Everton Tchê e Danilo Negueba; Lucas Lino (Patrik), Matheus Ortigoza (Michael Thuíque) e Matheus Humberto (Emerson Mi). Técnico: Allan Aal.
Rio Claro: Murilo; Toninho, Fernando (Diego), Salustiano e Douglas; Formigoni, Franco, Nathan e Elton (Daniel); Vitor (Denner) e Edson. Técnico: Wagner Salino.
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