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segunda-feira, 19 de abril de 2021

Tranquila vitória corintiana na abertura do Brasileiro Feminino

Texto e fotos: Fernando Martinez


Após 35 dias quietinho e fechado em casa, encarei os embalos de sábado à noite como se fosse Tony Manero para a gloriosa abertura do Campeonato Brasileiro Feminino da Série A1 em 2021, a nona edição desde que o certame retornou de vez ao calendário. Com duas máscaras e banhado em álcool em gel segui até o Estádio Alfredo Schurig conferir in loco o duelo de campeões da temporada passada: Corinthians x Napoli/SC.

Não há dúvida que as meninas alvinegras entram no nacional como as maiores favoritas. O time do técnico Arthur Elias chegou nas últimas quatro finais do Brasileiro, ganhando as taças em 2018 e 2020 e ficando com o vice em 2017 e 2019. No Paulistão, são as atuais bicampeãs de 2019/2020 e foram vice em 2018. Isso sem contar, claro, o grande título da Libertadores de 2019 ¹. Um clube que vem fazendo história de forma brilhante e que já colocou o nome no rol de grandes equipes da categoria em todos os tempos.

O escrete catarinense, que faz sua estreia na elite em 2021, foi o grande campeão da A2 em 2020 ganhando do Botafogo/RJ na decisão e ostentando com uma campanha sensacional e invicta com nove vitórias e quatro empates. Nas quartas, elas eliminaram o Juventus com triunfo na capital paulista e empate no Sul. Lembrando que elas têm uma parceria operacional com o Avaí/Kindermann, atual vice-campeão nacional, e chegam querendo se manter na A1.

Assim como acontece desde 2019, o nacional será disputado por 16 equipes em turno único e as oito melhores se garantem nas quartas de final. Iranduba, Audax, Ponte Preta e Vitória foram rebaixados em 2020 e no lugar subiram, além do Napoli, Botafogo do Rio, Bahia e Real Brasília. São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Bahia e Minas Gerais estão representados na A1. A maior surpresa em relação ao que vemos no masculino é a presença de duas agremiações da capital federal entre as melhores do país.

Tive a ajuda do glorioso Luciano Claudino, o "amigo do JP", na busca pelo credenciamento. Tudo foi confirmado na sexta-feira bem em cima da pinta. Agora, não tem como não citar a surrealidade que é termos a CBF liberando imprensa nos seus torneios no estado de São Paulo e a FPF impedindo de todas as formas. Ou não pode nada ou pode tudo. Fica claro que as duas entidades não estão falando a mesma língua. Cá entre nós, a ideia é a federação mostrar serviço somente quando os quatro grandes estiverem em ação no Paulistão. Nos demais, deixa quieto.

O metrô estava de boa e estava praticamente sozinho no ônibus que me levou até a Zona Leste. Estranho foi entrar na sede social do alvinegro e ver tudo apagado, fechado e sem nenhum movimento. Já fui ali dezenas de vezes e ver tudo do jeito que vi impressionou. Nada mais justo levando em conta o estágio atual da pandemia. Não demorou e logo estava na numerada do Parque esperando o apito inicial.




Os dois times devidamente posados para as imagens oficiais no gramado da Fazendinha e depois as capitãs com o quarteto de arbitragem

Os cerca de 40 profissionais que estavam por ali acabaram vendo uma peleja que não teve surpresas. Ostentando uma absurda marca de 21 jogos invictos como mandante e 17 no Brasileiro, as locais não sofreram sustos e abriram a competição com uma vitória relativamente fácil. As oito atletas que disputaram amistosos pela seleção não estavam em campo e nem fizeram falta. O Napoli emplacou uma atuação digna, lutou muito, mas não teve nenhum lance efetivo de perigo.

Decorridos cinco minutos, no primeiro ataque que teve, o Timão abriu o marcador. Jheniffer recebeu belo passe de Grazi, dominou e bateu na saída de Gaby. No minuto seguinte foi a vez de Grazi quase ampliar em tiro que passou perto da trave. Aos 41, nova chance da estreante Jheniffer, que mandu na rede pelo lado de fora. A etapa inicial terminou com o triunfo parcial pela contagem mínima.




No primeiro tempo o Timão abriu 1x0 no começo e depois segurou a partida

Aos quatro do tempo final Bianca Gomes finalizou do meio da área e Gaby defendeu. Aos nove, Jheniffer, ela de novo, teve a melhor oportunidade até então em momento cara-a-cara que finalizou por cima. Aos 14 Grazi mandou uma bola com perfeição de fora da área e ela bateu na trave. Minutos depois a mesma atleta completou escanteio da esquerda também no travessão. O 2x0 teimava em não sair.

Somente aos 29 que o grito de gol se ouviu novamente no gramado da Fazendinha. Yasmim cruzou na cabeça de Gabi Nunes e ela, sempre com o seu incrível faro de artilheira, fez o segundo. Aos 37, em novo levantamento de Yasmim, foi a vez de Gabi Zanotti subir entre as zagueiras e fechar a fatura. Vitória fácil, sem sustos e que poderia ter uma diferença maior caso as oportunidades criadas tivessem sido convertidas.




Três lances da etapa final de Corinthians x Napoli


A iluminação está bem ruim no Parque São Jorge. Do lado oposto às cabines, apenas 26 dos 60 refletores estão funcionando. O ataque mandante teve apenas sete (!) das 20 lâmpadas acesas o que gerou uma sombra enorme no setor ofensivo esquerdo. O Corinthians precisa ajudar as atletas e também o pessoal da imprensa pois não está legal



Detalhe do segundo e terceiro gol corintianos, ambos marcados de cabeça por Gabi Nunes e Gabi Zanotti

O placar de Corinthians 3-0 Napoli somado aos outros resultados da rodada colocaram as alvinegras no primeiro lugar da tabela. Apenas o Avaí/Kindermann, o vice de 2020, venceu seu compromisso, os seis restantes terminaram empatados. Agora as corintianas contam 22 jogos sem perder como mandantes, um total de 21 vitórias e um empate (justamente a final de 2019 quando foram derrotadas pela Ferroviária nos pênaltis). Como disse no início da matéria, as adversárias terão que suar bastante se quiserem tirar o tri da equipe de Arthur Elias.


Placar final da boa estreia corintiana na edição 2021 do Brasileiro Feminino, a 12ª vitória seguida como mandante na competição

Sem pressa, saí do Parque São Jorge com a cidade praticamente vazia com destino à Zona Oeste. Peguei uma inesperada chuva somente chegando próximo do QG, felizmente. Na mente, a incerteza de quando será a próxima cobertura. Com a FPF não dando brecha aos profissionais da imprensa, sobra apenas a CBF... e olhe lá!

Até a próxima!


¹ O título da Libertadores-17 não foi citado pois o campeão daquela edição foi o Audax. Faço questão de contextualizar tudo pois o que mais se vê por aí é informação errada. Tudo nasceu dois anos antes, quando o time de Osasco, então comandado por Arthur Elias, foi bem no estadual e ganhou uma vaga na Copa do Brasil do ano seguinte. No começo de 2016, querendo voltar ao futebol feminino, o Corinthians viu uma boa oportunidade e descolou uma parceria com os osasquenses. Ficou definido que no Paulista e no Brasileiro usariam a camisa alvinegra e na Copa, que aconteceria no segundo semestre, usariam a vestimenta do Audax (com o nome “Corinthians” no peito, como se fosse um patrocinador). Foram mal no estadual, no nacional e na última Copa do Brasil de todos os tempos levaram a taça, garantindo uma vaga na Libertadores do ano seguinte.

No começo de 2017 ambos disputaram Paulista e Brasileiro no primeiro semestre simultaneamente, com dois elencos distintos. Na Libertadores, apesar da vaga ser da agremiação da Grande São Paulo, ficou decidido que, por uma questão de visibilidade na mídia, a camisa a ser utilizada seria a do Corinthians. O título veio em final contra o Colo-Colo coroando bela campanha. Aí nasceu toda a confusão, pois nas fotos aparecia o uniforme paulistano (que teve o nome "Audax" no peito, invertendo o "patrocinador" de 2016). Assim, torcida e a maior parte da "mídia especializada" caíram no erro, ignoraram o contexto todo e passaram a considerar o Corinthians campeão, ignorando completamente o que realmente aconteceu. Alguns ainda colocam um "Audax/Corinthians" – denominação que nunca existiu de forma oficial – na lista e contam títulos para duas agremiações (!). Outro absurdo.

A verdade é uma só: a agremiação de Osasco é a campeã da Libertadores de 2017. O painel com o rol dos vencedores da Libertadores Feminina na sede da Conmebol no Paraguai e a taça do certame tem o escudo do Audax como detentor do título em 2017 e nenhuma menção ao mosqueteiro. O prêmio pela conquista foi pago integralmente ao clube da Cidade Trabalho, o real dono da vaga. O argumento definitivo é que, na edição de 2018, foi o alvirrubro quem disputou o torneio de clubes como o “último campeão”. O Corinthians ficou de fora. Apenas outro caso claro de tentar reescrever a história aproveitando o fato que um pequeno não tem voz ou espaço na mídia. Torcedor pode achar o que quiser, mas quem informa tem o dever de repassar a informação correta, sem clubismo ou achismo. Viu alguém falar "o Corinthians é bi da Libertadores Feminina"? Desconfie. :)

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Ficha Técnica: Corinthians 3x0 Napoli/SC

Local: Estádio Alfredo Schürig (São Paulo); Árbitro: Adeli Mara Monteiro/SP; Público e renda: Portões fechados; Gols: Jheniffer 5 do 1º, Gabi Nunes 29 e Gabi Zanotti 37 do 2º.
Corinthians: Kemelli; Paulinha, Katiuscia, Diany e Yasmim; Gabi Zanotti, Bianca Gomes (Pardal), Cacau (Juliete) e Gabi Portilho (Gabi Nunes); Grazi e Jheniffer. Técnico: Arthur Elias.
Napoli: Gaby; Miriam (Yaki Vecca), Vero (Karen), Thays e Thaini; Sara, Treyci, Pâmela (Juliana) e Mariana; Malu e Naiane (Larissa). Técnica: Carine Bosetti.
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Um comentário:

  1. Saudações,

    escrevo em nome do portal FlashScore e gostaria de convidar seu blog para uma troca de links conosco. Estou à disposição para conversar sobre o assunto por email (support@flashscore.com.br), caso haja interesse. Abraços e obrigado.

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