Texto e fotos: Fernando Martinez
Estamos em março e somente agora começou a temporada 2021 do futebol brasileiro. Como a pandemia atrasou o calendário, temos hoje uma situação que lembra as eras mais bagunçadas do esporte. Paciência. Morrendo de medo de sair de casa, arranjei um ânimo extra e me mandei até o ABC para a rodada inicial do Campeonato Paulista da Série A2. Direto do Estádio Primeiro de Maio, o terceiro encontro entre Esporte Clube São Bernardo e Oeste na história (os outros dois foram em 1998).
Esse foi o primeiro compromisso do Bernô no segundo nível estadual depois de 11.472 dias, mais precisamente desde 1º de outubro de 1989, quando foi derrotado pelo Taubaté por 3x1. O 27º lugar da então Divisão Intermediária os rebaixou. Em 1993 foram vice-campeões da terceirona e retornariam à Intermediária em 1994. Pena que a criminosa reorganização que a FPF promoveu no fim daquele ano os manteve no certame, agora chamado de Série A3. A partir dali, só tristeza.
De 1994 a 2000 conseguiram uma proeza: foram rebaixados em seis dos sete estaduais disputados no período. Em 2001 fizeram uma campanha tenebrosa na Série B2 e se afastaram do profissionalismo. Ficaram no sub-20 de 2003 e 2009 e voltaram em 2010. Foram anos de luta na última divisão com um trabalho baseado na “cabeça no lugar”. Tudo se ajeitou e os acessos de 2017 e 2020 fizeram a gloriosa agremiação retornar em grande estilo ao segundo escalão do Paulistão após 32 anos. Pena que São Pedro tenha estragado os planos do Cachorrão...
Equipes perfiladas para o Hino Nacional Brasileiro além dos capitães e o quarteto de arbitragem
Cheguei na cancha de Vila Euclides sem pressa e, por sorte, minutos antes de um imenso temporal que chamava a minha atenção no horizonte. Como parte do protocolo, tive que medir a temperatura antes de entrar nas dependências da cancha. O medidor informou que eu estava com 31.3 graus (!). No mundo normal, estaria com hipotermia. Provavelmente sou mais forte do que imagino. Dali segui até as cabines do estádio e confesso que me assustei com o que vi.
Por ter sido reformado nos últimos meses (quando assisti o SBFC x Portuguesa da Copa Paulista em dezembro o espaço estava fechado com a indicação que estavam em reforma), eu imaginava que as cabines do velho campo estavam em bom estado e que havia uma manutenção mínima. Ledo engano. O que tem infiltração não é brincadeira e a cara é de abandono completo. Fica claro que a prefeitura local não está cuidando de nada. Sabendo como o prefeito de SBC trata os times da cidade, fica claro que as coisas não estão assim à toa.
O descaso ficou ainda mais evidente quando a bola começou a rolar. Sim, choveu bastante e poucos gramados seguram a onda com tanta água caindo do céu, mas em condições normais não tem como virar o pasto que virou num período tão pequeno. Lembrou jornadas clássicas que vi ali no começo dos anos 2000. O péssimo estado do relvado transformou a peleja num verdadeiro balé aquático. Pior para os comandados de Renato Peixe. O futebol rápido do São Bernardo foi prejudicado.
Ao Oeste, rebaixado nas duas principais competições que disputou em 2020 e uma incógnita na atual temporada, sobrou a tarefa de se defender atuando fora de casa e buscar aquele contra-ataque maroto tentando uma surpresa. Aos três minutos, com o tapete não tão estragado, Chuck, um dos melhores dos donos da casa, quase abriu o placar. O número de poças d'água aumentou consideravelmente após esse lance e o jogo virou um Deus nos acuda. A chance de sair um gol era pequena, porém o rubro-negro fez o primeiro aos 32 minutos. Léo Ceará recebeu passe de Felipe Souza da esquerda, tirou do zagueiro e finalizou no canto de Felipe Rocha. Foi com o 0x1 que a etapa inicial terminou.
Detalhes do primeiro tempo de São Bernardo x Oeste, um verdadeiro balé aquático no pasto que se transformou o gramado do Primeiro de Maio
Mudei de lado junto com o onze local e aos quatro minutos Victor Sapo, idolatrado por nove entre dez torcedores do Bernô, criou a melhor oportunidade do alvinegro em bola que bateu na trave. A pressão continuou, só que momento de perigo real não pintou. O Oeste segurou a pressão sem maiores dificuldades e aos 37 minutos definiu o resultado. Rodolfo deu um chutão na direção do ataque. A pelota caprichosamente parou numa das inúmeras poças e atrapalhou tanto um dos zagueiros quanto o goleiro adversário. De Paula, camisa 17, agradeceu o presente, dominou, driblou o arqueiro e tocou tranquilamente para o gol vazio.
No tempo final a pressão do Bernô diminuiu e contando com o azar ainda sofreram outro gol
Detalhe do diretor do Bernô Gigio Sareto de olhos ligados no que acontecia no gramado pasto
Com um tento em cada tempo, o São Bernardo 0-2 Oeste foi um resultado justo. O Cachorrão não foi tão mal e o gramado atrapalhou, mas é fato que a pontaria falhou e rolou um certo nervosismo em virtude da estreia. Esperamos que possam colocar a cabeça no lugar o quanto antes. Na próxima rodada eles visitam o Água Santa, enquanto o rubrão recebe o Audax, que empatou sem gols com o Juventus.
Não rolou cobertura domingo pois o credenciamento que pedi foi negado. Paciência. Assim não sei quando será a próxima cobertura. Se tudo der certo tem uma na quarta-feira. Se der errado, pinta A2 novamente no próximo final de semana. Vamos aguardar.
Até a próxima!
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Ficha Técnica: São Bernardo 0-2 Oeste
Local: Estádio Primeiro de Maio (São Bernardo do Campo); Árbitra: Daiane Caroline dos Santos; Público e renda: Portões fechados; Cartões amarelos: Felipe Souza, Dudu Lima, Alyson, Iago, Sandoval, Raí Ramos, Matheus Índio, De Paula, Rodolfo, Guilherme (O); Gols: Léo Ceará 33 do 1º e De Paula 37 do 2º.
São Bernardo: Felipe Rocha; Osvaldir, Erwin (Guilherme Pitty), Diego e Iago; Dudu Lima (Tatá), Willian, Felipe Souza (Alyson) e Chuck; Raul (Matheus Lu) e Victor Sapo. Técnico: Renato Peixe.
Oeste: Rodolfo; Raí Ramos, Victor Lisboa, Sandoval e Salomão; Alison, Léo Ceará (Douglas), Bruno Miguel e Kauã Jesus (Matheus Índio); Zeca (De Paula) e Tite (Davi). Técnico: Roberto Cavalo.
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