Texto e fotos: Fernando Martinez
Quando eu tinha apenas dois dias de vida a Olimpíada de Montreal começou. Claro, não lembro nada do que rolou no Canadá, mas consigo lembrar de algumas coisas de Moscou-80, principalmente o choro do ursinho Misha na cerimônia de encerramento. Desde então, a cada ano bissexto que chega paro durante duas semanas para acompanhar tudo que acontece nos Jogos Olímpicos.
Sempre tive vontade de acompanhar uma Olimpíada de perto, porém confesso que não me imaginava numa, ainda mais sendo realizada no nosso país. Por conta da maré de sorte que tivemos no final da primeira década do século, tive a abençoada chance de ver as duas maiores competições esportivas do planeta pertinho de casa na sequência... um privilégio absoluto! Isso sem contar os Jogos Panamericanos e a Copa das Confederações. Olha, para quem gosta, foi um período dourado.
Comprei parte dos ingressos ainda no primeiro semestre do ano passado, a maioria deles para o torneio masculino e feminino de futebol. Tudo bem, já sabia que que o ambiente não seria o mesmo que vivi durante o Mundial de 2014, só que é fato que eu não poderia ficar de fora. Adquiri entradas para todas as pelejas em São Paulo e a primeira das várias jornadas programadas aconteceu na tarde do dia 3 de agosto.
A Arena Corinthians foi palco da primeira rodada do Grupo F do torneio feminino da Olimpíada. Em campo, as seleções do Canadá e da Austrália, ambas disputando a competição pela terceira vez, buscavam iniciar as suas campanhas com o pé direito.
Contando as cinco edições anteriores dos Jogos, as norte-americanas ocupavam a oitava posição na classificação geral com 14 pontos ganhos. A melhor campanha aconteceu em Londres-12, quando a seleção ficou com a medalha de bronze após vencer a França. A Austrália estava na 12ª posição com cinco pontos e uma única vitória, um 1x0 contra a Grécia em 2004. Dava para crer que uma classificação já seria um resultado e tanto para as meninas da terra do coala.
Canadá e Austrália entrando em campo para a estreia na Olimpíada 2016
Chegar na Arena foi tranquilo, já que o público para a rodada dupla de estreia foi o menor na casa corintiana durante a competição. Sim, o menor, mas isso não quer dizer que tenha sido ruim, já que 20.521 pagantes na tarde de um dia útil assistindo futebol feminino é algo que merece todos os aplausos. A torcida não teve nenhum problema para acessar as dependências da cancha. O destaque ficou por conta do enorme quórum de amigos e conhecidos presente na rodada, com certeza um recorde.
Todos já ocupavam seus lugares marcados quando a árbitra francesa Stephanie Frappart iniciou os trabalhos olímpicos na capital bandeirante. 19 segundos depois Janine Beckie marcou o gol mais rápido da história do certame. A mito Christine Sinclair roubou a bola pela direita e cruzou para a camisa 16 inaugurar o marcador.
A Austrália não se assustou com o gol relâmpago e agiu como se nada tivesse acontecido. As meninas colocaram pressão e encurralaram o Canadá no campo de defesa. As canadenses passaram sufoco e a partida ficou ainda mais sofrida aos 19 minutos com a expulsão da defensora "canuck" Shelina Zadorsky.
Tarde agradável para a minha experiência olímpica em todos os tempos
Zaga do Canadá tentando mandar a bola para longe da área
Catlin Ford, camisa 9 da Austrália, sob marcação da camisa canadense Diana Matheson
Com uma a mais a pressão foi enorme, tanto que ao final dos 45 minutos iniciais a seleção australiana tinha finalizado 11 vezes ao gol contra apenas duas finalizações canadenses... porém gol que é bom, nada. Méritos para a inoperância inofensiva e para o bom trabalho da goleira Stephanie Labbé.
No tempo final a Austrália voltou no mesmo esquema e teve boa chance com Gorry aos cinco minutos, mas a arqueira fez uma defesa segura e impediu o empate. No frigir dos ovos, estar com uma atleta a mais em campo não estava fazendo mais diferença para o time verde e amarelo.
Aos poucos o Canadá foi finalmente se encontrando em campo e passou a acreditar que mesmo com dez poderia ampliar. Aos 26 minutos Van Egmond cometeu pênalti depois de tocar com a mão na pelota dentro da área. A cobrança ficou a cargo de Beckie. Só que ela bateu mal e Williams defendeu.
E justamente quando a Austrália tentava emplacar nova pressão o Canadá ampliou. Steph Catley vacilou e tocou errado. A bola então sobrou para Kyah Simon, que lançou em profundidade e encontrou a artilheira Sinclair livre no comando do ataque. Ela driblou com estilo a goleira e chutou quase do meio de campo para fazer seu 163º gol com a camisa da seleção canadense. A jogadora de 32 anos é a segunda maior artilheira de uma seleção nacional em todos os tempos, atrás apenas de Abby Wambach, dos Estados Unidos.
Cruzamento dentro da área canadense no tempo final
Boa jogada de Sinclair pela direita
Bola levantada na área australiana na direção de quem? Sinclair, claro
O enorme quórum de amigos presentes na estreia olímpica na capital bandeirante
Se não sentiram o primeiro gol, com certeza as australianas sentiram o segundo e não tiveram mais forças para conseguirem melhor sorte na peleja. O placar final de Canadá 2-0 Austrália acabou sendo justo a favor da seleção que foi mais objetiva e que conseguiu superar o fato de jogar mais de 70 minutos em desvantagem numérica.
Finalizada a primeira sessão, agora era hora de conferir o jogo de fundo, um duelo simplesmente surreal em que a presença do JP se fazia obrigatória.
Até lá!
Nenhum comentário:
Postar um comentário