sábado, 13 de abril de 2019

JP na rota da Segundona em São Carlos (com meio jogo)

Texto e fotos: Fernando Martinez


Nos primeiros anos de Jogos Perdidos, vira e mexe rolava alguma cobertura que fugia da rotina ou com times diferentes do que mostrávamos no dia-a-dia ou com visita a alguma cidade distante de casa. Na última quinta-feira tivemos o prazer de emplacar uma cobertura digna do antigo "Especial do Mês" direto da cidade de São Carlos. Na pauta, o genial encontro entre São-Carlense e Catanduva FC na abertura da segunda rodada da fase inicial do Campeonato Paulista da Segunda Divisão.

Nunca tinha visto uma partida profissional em São Carlos. As três que tinha assistido no Estádio Luís Augusto de Oliveira foram válidas pela Copa São Paulo de Futebol Júnior (São Carlos 1-3 São Paulo e São Cristóvão 2-1 Comercial/MS pela edição de 2007 e Flamengo/RJ 0-0 Aquidauanense na edição 2012) e a única que vi no genial Zuzão, casa do falecido Estrela da Bela Vista, foi pelo Paulista sub-17 (Paulistinha 0-2 XV de Piracicaba em 2007). Levando em conta que só faltavam dois times novos na Segundona, justamente os adversários do duelo antecipado, o lance foi aproveitar a deixa e colocar ambos de uma vez na Lista.

Não foi difícil armar a caravana até a Capital da Tecnologia. Tivemos a presença do decano Milton Haddad, o amigo Renato Rocha e, na direção, a fênix Emerson Ortunho reaparecendo após alguns meses de hibernação futebolística. Deixamos a capital no começo da tarde e chegamos no destino por volta das 18 horas. Antes da ação fomos fazer uma boquinha, por coincidência no mesmo local visitado em 2012, também com a presença do amigo-abelha Renato. Lanchonete boa, barata e com um custo benefício espetacular.

Satisfeitos com a bela refeição, nos dirigimos ao Luís Augusto de Oliveira. O local existe como praça de esportes desde 1952 e o estádio como conhecemos foi inaugurado em 1968. Todas as equipes da história profissional da cidade atuaram ali: Estrela da Bela Vista, Bandeirantes, Madrugada, Sãocarlense - o mais famoso deles, que disputou várias divisões entre 1976 e 2004 -, São Carlos FL, Paulistinha e o Grêmio Desportivo São-Carlense. Fundado em 2016, ele é uma espécie de "sucessor" do antigo GES e está na sua segunda temporada pela FPF. No ano passado, fizeram uma campanha fraca e foram lanternas do Grupo 3.

Falando de Catanduva, a cidade tem um extenso rol de times que surgiram e sumiram sem vestígios do cenário futebolístico. Começando com o antigo Catanduva EC, que jogou de 1955 a 1968, passando pelo Botafogo, pelo genial GE Catanduvense e pelo CA Catanduvense, que virou Grêmio Catanduvense de Futebol em 2004. A história da nova agremiação da Cidade Feitiço vem de 2010, quando o padre Osvaldo de Oliveira Rosa criou uma escolinha de futebol como um projeto social para jovens. A empreitada deu resultado e a ideia de continuidade de trabalho foi a responsável pela profissionalização em novembro de 2017. Em 2018, estrearam oficialmente e foram eliminados na primeira fase.


Grêmio Desportivo São-Carlense Ltda. - São Carlos/SP


Catanduva Futebol Clube - Catanduva/SP


Capitães dos times junto com o árbitro Rafael Emilio Acerra, os assistentes Leonardo Lourenço Marchiori e Adilson Roberto de Oliveira e o quarto árbitro Luciano Alves de Lima

Foi de boa entrar na cancha e mais ainda chegar ao gramado. Lá encontrei integrantes das duas comissões técnicas, entre eles o Gustavo Curvelo, responsável pela assessoria de imprensa do São-Carlense. Trocamos algumas palavras antes das equipes subirem ao relvado. Logo fiz os instantâneos oficiais e fui pegar meu lugar acompanhando o ataque local. Fiquei à frente da torre de iluminação oposta à esquerda das cabines... mal sabia que ela se transformaria na maior personagem da noite em breve.

O jogo começou bom e com grande movimentação, principalmente por parte dos visitantes. Aos 10 minutos, Angelo, camisa 10 do onze quadricolor, chutou de longe e a bola bateu na trave. No rebote, Canela não conseguiu finalizar com sucesso e mandou pela linha de fundo. Na sequência ele mesmo cabeceou firme e a pelota tirou tinta do travessão. A torcida, que compareceu em número razoável, já mostrava sinais de preocupação.

O São-Carlense assustou pela primeira vez aos 11 minutos numa falta marcada pelo setor esquerdo do ataque. O goleiro catanduvense Daniel fez ótima defesa e afastou. Aos 13, novo bom momento tricolor em nova cobrança de falta de Cowboy (!), o genial camisa 8 do tricolor. O arqueiro foi ainda melhor e mandou pela linha de fundo. A partir daí, muita entrega dos atletas das duas agremiações e poucos momentos de real emoção.

Jogando sem se importar com o fato de estar longe da sua casa, o Catanduva FC voltou a incomodar a defesa adversária aos 31, quando o camisa 7 Cristian foi lançado pela direita. Ele entrou na área e finalizou para fora com perigo. O São-Carlense teve mais uma falta perigosa aos 34 e novamente o camisa 1 visitante mostrou serviço. Aos 38, nova chance do CFC quando Daniel Junio recebeu no meio, driblou o zagueiro e chutou por cima.

Aos 40 minutos finalmente o placar foi inaugurado e quem fez foi o escrete catanduvense. Angelo, honrando a camisa 10, recebeu pelo meio, tirou com classe do defensor e arriscou da entrada da área. Ele colocou um efeito incrível na pelota e ela encobriu o goleiro Gabriel Silva. Um golaço que colocou o onze amarelo em vantagem. Sem maiores chances, o São-Carlense viu o intervalo chegar em desvantagem no marcador.


Lance pelo alto no ataque do Grêmio São-Carlense


Bruno Jackson, camisa 6 do Catanduva FC, encarando a marcação adversária


Zaga visitante afastando o perigo


Outra boa chegada local em bola alçada na área


Momento em que a bola entrou no gol de Gabriel Silva no golaço de Angelo


Uma visão mais aberta do Luís Augusto de Oliveira na noite de quinta-feira

No intervalo eu fui perto da entrada principal bater um papo com os amigos da caravana e com integrantes da direção do Grêmio. Também aproveitei e comprei uma camisa da equipe. Pena que ela vai ficar numa das várias caixas de papelão, local que minha coleção se encontra desde 2017. A torcida é para que todas voltem a ver a luz do sol em breve. Enquanto a conversa rolava, notei meio sem querer que a torre que ficou atrás de mim nos primeiros 45 minutos estava apagada.

Com os times em campo, o árbitro não autorizou o reinício da peleja e resolveu esperar os refletores voltarem a funcionar. Em poucos minutos quatro deles acenderam, enquanto os outros oito continuavam apagados. A meu ver a bola poderia ter rolado assim, porém o senhor juiz estava irredutível. O tempo foi passando e o pessoal do Catanduva FC começou a se preocupar pensando num eventual adiamento da etapa final, afinal, eles não estavam preparados para passarem a noite longe.

Teve muita conversa de tudo que é lado e então o árbitro, atendendo os pedidos de ambos os clubes, resolveu chamar os dois capitães e os dois goleiros para, com a aprovação dos quatro, reiniciar o cotejo. Os capitães e o goleiro do CFC disseram que não teria problema, só que o arqueiro local, Gabriel Silva, disse que a falta de todos os refletores acesos dificultaria sua performance. Resumindo: nada feito. Como desgraça pouca é bobagem, logo depois dessa reunião os quatro refletores que estavam ligados apagaram de novo.

Não havia eletricista no estádio e Marcelo, encarregado do Luisão, ficou com a missão de consertar tudo. Começou uma enorme correria para conseguir um alicate e descobriram que tinha um dentro do carro do funcionário que estava estacionado na rua. O problema foi que a moça do portão não deixou ele sair pois teria que pagar ingresso (!) caso quisesse adentrar as dependências novamente. Foram alguns minutos perdidos nessa surreal situação. Quando finalmente o rapaz estava munido da tal ferramenta, começou a sair fumaça da caixa de força. Enquanto tentava uma última cartada, um curto-circuito geral fez com que o heroico moço desistisse de vez.


O papo entre o quarteto de arbitragem, capitães dos times e os dois goleiros na tentativa da continuidade da peleja


Os quatro refletores sobreviventes. Na boa? Dava pro jogo ter rolado apenas com eles


O papo de dirigentes, arbitragem, atletas e imprensa sob a não-luz da torre com curto-circuito


Não foi do jeito que esperávamos o desfecho da partida, mas a viagem valeu mesmo assim

Foi o detalhe que faltava para o árbitro dar por suspensa a peleja e, pelo regulamento, a segunda etapa seria jogada na sexta-feira às 15 horas. Um triste e lamentável desfecho após 250 quilômetros percorridos pela caravana da coragem da vez. Ainda ficamos fazendo aquela famosa social com os presentes e também emplacamos um pit-stop para degustar o bom e velho Guaraná Poty, uma tradição nas nossas viagens.

Entre vários assuntos no caminho da volta, afirmei que cortaria um braço se o resultado do primeiro tempo permanecesse no segundo, já que eu tinha absoluta certeza que rolariam mais gols. Dito e feito: saíram mais três. Os donos da casa deixaram tudo igual aos 20 minutos com Matheus Ferreira. Nos acréscimos, precisamente aos 48, os visitantes voltaram à frente com Caio, porém, na saída de bola, Jeferson deu números finais à partida de dois dias no Luis Augusto de Oliveira: São-Carlense 2-2 Catanduva FC. E aí, vale colocá-los na Lista tendo visto só os primeiros 45 minutos? Cartas para a redação.

Espero do fundo do coração que a gente consiga emplacar mais viagens em breve. Por enquanto, vamos no esquema que faço desde maio de 2018: presença quando a agenda profissional permite. Como o futebol (infelizmente) não paga minhas contas, não resta outra opção.

Até a próxima!

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Ficha Técnica: São-Carlense 2-2 Catanduva FC

Competição: Campeonato Paulista Segunda Divisão; Local: Estádio Luís Augusto de Oliveira (São Carlos); Árbitro: Rafael Emilio Acerra; Público: 153 pagantes; Renda: R$ 1.265,00; Cartões amarelos: Pedro Bispo e Jeferson (Sao), Daniel Junio, Daniel, Douglas, Caio e Lucas (Cat); Gols: Angelo 40 do 1º, Matheus Ferreira 20, Caio 48 e Jeferson 49 do 2º.
São-Carlense: Gabriel Silva; Yure, Pedro Bispo, Gustavo Henrique e Alison; Rezende (Eric), Joel, Cowboy e Hugo (Matheus Ferreira); Vagner (Kaio) e Jeferson. Técnico: Anderson Ré Fiorentino.
Catanduva FC: Daniel; Douglas (Ventura), Léo Cruz, Gil e Bruno Jackson; Daniel Junio, Cristian (Caio), Mineiro e Angelo; Canela e Kitinho. Técnico: Macena.
Obs: O jogo foi interrompido no intervalo por falta de energia elétrica em 11 de abril. O segundo tempo foi disputado na tarde de 12 de abril.
Obs²: O cartão amarelo para Lucas, do Catanduva FC, foi dado em virtude de infração na comemoração do gol. O atleta era o goleiro reserva do time.
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