quinta-feira, 30 de junho de 2016

JP na Argentina 17 (9/9): A despedida com Ferro x Villa Dálmine

Texto e fotos: Fernando Martinez


Na gélida noite do último dia 19 de abril, a minha 12º longe do Brasil, encerrei com chave de ouro a minha Magical Mystery Tour de 2016 com meu décimo jogo, nono estádio e o 14º time novo na Lista. A despedida não foi numa cancha inédita, mas só o fato de ter ido outra vez no Estadio Arquitecto Ricardo Etcheverri para uma apresentação do sensacional Club Ferro Carril Oeste já valeu a pena. O adversário dos Verdolagas foi o Club Villa Dálmine com sua belíssima camisa lilás. A peleja foi válida pela 12ª rodada do Campeonato de Primera B Nacional.

Como foi meu último dia inteiro em Buenos Aires fiz algumas coisas que ainda não tinha feito, como visitar alguns sebos na Avenida Corrientes. Estava garoando e fazia bastante frio, logo, foi delicioso andar pelas ruas do centro. Dai fui pelo Subte - o metrô deles - até a região do Caballito garantir meu ingresso com antecedência, mesmo sabendo que o público não seria alto. Aproveitei e visitei a genial lojinha do Ferro e, como a camisa oficial era caríssima, comprei um moletom com o primeiro escudo da história da agremiação. Já é vestimenta obrigatória em dias de frio.


Ingresso da minha última partida na Magical Mystery Tour de 2016. Foram dez jogos em dois países e muita história pra contar

Ainda consegui fazer um bate-volta no hotel e deixei minhas coisas lá antes do cotejo. Cheguei cedo e fui dar uma volta no clube, algo que não consegui fazer em 2009 nas duas vezes em que estive na praça de esportes (Ferro 1-2 Belgrano de Córdoba e Chacarita Juniors 4-2 Unión Santa Fé). Muitos sócios estavam passeando pelas alamedas e também aproveitando as várias quadras do local, além do belo ginásio. Falando do estádio em si, ele é majestoso e foi construído no terreno que tinha o campo do Flores Rugby Club. A inauguração oficial aconteceu em 1905, fazendo com que seja a mais antiga cancha do país e a segunda das américas, perdendo o primeiro lugar para o Parque Central em Montevidéu (estive lá também nessa viagem no duelo Nacional e Rosario Central pela Libertadores), que foi inaugurado em 1900.

O adversário do Ferro foi o genial Villa Dálmine. Em 1957 a fábrica Dálmine SAFTA, sediada em Campana, resolveu fundar um time para a prática do esporte entre seus funcionários. Em 1961 eles se filiaram à AFA e fizeram uma campanha avassaladora na Primera D, conquistando o título. Desde então, mais de 50 participações entre a Primera B, Primera B Metropolitana e Primera C. Podemos dizer que é uma agremiação vitoriosa, pois também tem na sua sala de troféus as conquistas da Primera C em 1963, 1975, 1982 e 2011/2012, além da Primera B em 1988/1989. O Villa ocupava a 19ª posição antes desse encontro.

O retrospecto meia bomba em 2016 não indicava que o Ferro tinha chances de voltar à elite. Desde que caiu da principal divisão do nacional na temporada 1999/2000, o alviverde nunca retornou. Eles ocupam minhas memórias de infância muito pelo nome, que é espetacular, e também pela participação na Libertadores de 1985. A maior preocupação dos hinchas na noite, além da campanha claudicante, era o estado do gramado. No sábado anterior rolou um grande show ali e a multidão que lotou o evento deixou o relvado num estado deplorável.

Cerca de 3,500 torcedores pagaram ingresso e assistiram, na opinião dos especialistas, a pior performance do onze mandante em toda a competição. Num confronto que foi transmitido ao vivo pela TV, o limitado Villa Dálmine mostrou serviço e foi superior aos donos da casa. Todo mundo sabe da animação constante das torcidas portenhas, porém nessa partida específica eles trocaram a cantoria pelos apupos, vaias e xingamentos direcionados a atletas e dirigentes.


O nome oficial do Caballito pintado nas cabines de imprensa


Os lugares mais caros do estádio são identificados por esse azulejo com o escudo e o nome do Ferro Carril Oeste, um dos times mais legais da Argentina


Ferro Carril e Villa Dálmine em campo na minha despedida futebolística de Buenos Aires


Ataque aéreo do Villa Dálmine

Uma coisa é fato: os atletas do Ferro tiveram uma atuação super homogênea. Todos foram mal, sem exceção. A defesa falhou direto, o meio-campo não fez nada e o ataque deixou a desejar quase todas as vezes em que foi acionado. O escrete lilás foi tranquilo e não sofreu sustos para consolidar uma importante vitória. Renso Pérez se tornou o dono da noite com dois gols. O primeiro aos 12 minutos num chutaço de longe. O segundo aos 42 num toque de classe que encobriu o goleiro Limousin.

Eu estava de boa na tribuna do Caballito, já que a temperatura era sensacional e porquê em menos de 24 horas estaria de volta ao Brasil. A ideia era curtir tudo da melhor forma possível. No intervalo fui fazer aquela boquinha com os panchos na pequena e concorrida lanchonete e voltei bem alimentado ao meu assento. No tempo final o Ferro tentou emplacar alguma reação, só que os visitantes estavam bem postado.

A insistência deu resultado aos 30 minutos quando o camisa 7 Díaz finalmente conseguiu vencer o goleiro Carlos Kletnicki e diminuiu. O tento animou momentaneamente os hinchas em busca do até então improvável empate. Foram três minutos de pressão até que os presentes tomaram um grande banho de água fria. A zaga da casa falhou e a finalização visitante tinha endereço certo. Teria se o zagueiro Frontini não tivesse feito uma defesa incrível como se fosse um goleiro. O árbitro expulsou o jogador e marcou pênalti. O camisa 4 Alvarez cobrou com categoria e fez o terceiro, matando a esperança da Locomotora del Oeste.


A equipe da casa atacando pela esquerda


Chance muito perigosa do Ferro depois de escanteio na área


A visão que temos da parte coberta do Caballito é essa. A região em que fica o estádio é bastante interessante


O time visitante fez uma bela partida e conquistou um triunfo importante fora de casa

O placar final de Ferro Carril 1-3 Villa Dálmine derrubou El Expreso de Caballito para a 15º posição com os mesmos 15 pontos ganhos enquanto os Campaneros subiram ao 17º posto com 13 pontos. Apesar de terem xingado seus atletas durante os 90 minutos, quando eles saíram de campo foram aplaudidos por todos os presentes. Como foi a minha despedida futebolística, fiquei ali até os simpáticos integrantes da PFA informarem, com toda a educação do mundo, que precisava ir embora.

Passei a última noite em Buenos Aires indo pela terceira vez comer um maravilhoso bife de chorizo num ótimo restaurante da Corrientes e depois passear pela 9 de Julio e sentir o incrível clima de outono. No dia seguinte acordei cedo e, antes de voltar pra casa, fui numa loja e comprei quatro camisas para a coleção. Além delas, na bagagem eu trouxe muitas guloseimas, dez jogos em dois países diferentes, 14 times novos, nove estádios inéditos visitados, alguns perrengues, muita chuva, um tornado no Uruguai e muita história. Não sei quando terei condições de repetir a dose, mas é fato que a segunda Magical Mystery Tour na América do Sul foi especial demais.

¡ Hasta la próxima !

© 2019

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Barcelona vacila e perde para o Palmeirinha na Javari

Texto e fotos: Fernando Martinez


No domingo passado rolou a penúltima apresentação do Barcelona paulistano no Estádio Conde Rodolfo Crespi em 2016. Penúltima pois o resultado final da partida contra o Palmeirinha foi um banho de água fria em todos que sonhavam com a classificação do Elefante para a próxima fase do Campeonato Paulista da Segunda Divisão.


Barcelona Esportivo Capela Ltda. - São Paulo/SP


Sociedade Esportiva Palmeirinha - Porto Ferreira/SP


Capitães dos times junto com o quarteto de arbitragem formado por Saulo Samuel Felix, Orlando Coelho Junior, Marcos Sehnem e Gabriel Castro Dourado

Fazendo uma campanha muito ruim, o time de Porto Ferreira parecia que não seria um adversário à altura para os locais, ainda mais levando em conta os bons jogos feitos ali nas jornadas anteriores (vitórias expressivas contra o Lemense e o Amparo). Só que dentro de campo, decepção total do Barça.

Logo no primeiro ataque do time visitante Lucas abriu o marcador, isso antes do primeiro minuto chegar. Esse foi um golpe forte demais para o Barcelona e o primeiro tempo foi disputado num nível baixo, com poucas oportunidades reais de gol. No segundo os donos da casa finalmente acordaram e passaram a ocupar o campo de defesa do Palmeirinha.

Aí acabou reaparecendo um velho problema do onze da capital ao longo da Segundona: as finalizações. Sem exagero nenhum, o time criou pelo menos quatro chances claras e cristalinas para pelo menos deixar tudo igual no marcador, porém infelizmente todas foram desperdiçadas.


Bola perdida no campo de defesa do Palmeirinha no primeiro tempo


Boa defesa do goleiro visitante em chute de longe


Os atletas do Barcelona reclamaram de pênalti nesse lance... não foi nada!


Zaga do Palmeirinha afastando o perigo

O Barça merecia melhor sorte, mas como o que vale é mesmo bola na rede, ao término dos 90 minutos o placar final de Barcelona 0-1 Palmeirinha premiou quem foi capaz de estufar a rede, ainda que numa apresentação abaixo da crítica. A derrota complicou demais as pretensões do Elefante na luta por uma vaga na segunda fase e agora a classificação só acontecerá na base de um milagre.

Independente do revés, a minha presença na peleja manteve meus "100% de aproveitamento" em jogos do BEC desde sua volta ao profissionalismo em 2015. Foi a 15ª apresentação da equipe com o mando de campo e a 15ª vez seguida que bati cartão. Mesmo sem a vaga, estarei na despedida como local contra o Diadema daqui a duas semanas.

Até a próxima!

sexta-feira, 24 de junho de 2016

JP na Argentina 16 (8/9): O (novo) jogo mais perdido da história

Texto e fotos: Fernando Martinez


Você viu aqui no Jogos Perdidos que o Yupanqui 0-0 Juventud Unida, quarto capítulo da minha Magical Mystery Tour pela Argentina, foi o mais perdido da minha vida. Como recordes existem para serem batidos, apenas seis dias depois consegui o impossível e superei gloriosamente essa marca. Sem medo de errar, a minha jornada de 18 de abril de 2016 agora está no topo. Dizer que foi uma jornada insólita, bizarra e histórica é pouco para resumir o que vivi na fria tarde daquela segunda-feira.

Por conta dos cancelamentos feitos pela AFA em todas as divisões do campeonato nacional, sobraram duas opções para manter a agenda futebolística em atividade. Uma delas com dois clubes novos e um estádio já visitado (o campo do Liniers) e a outra, também com dois times, porém com a pequena diferença por ser numa cancha inédita. Confabulei bastante e escolhi a segunda opção. Essa escolha quase se mostrou um erro enorme por conta de um pequeno grande detalhe que será citado em breve.

Como meu destino ficava a 30 quilômetros do hotel, outra vez encarei o sistema de trens da capital federal. Da magnífica Estación Constituición, localizada próxima ao centro de Buenos Aires, passei por Avellaneda, Sarandi e Quilmes e ali tive que desembarcar. Por conta de uma obra no sistema, fui obrigado a seguir viagem até meu destino final num ônibus podrão dos anos 70 que estava caindo aos pedaços. Demorou mais do que imaginava, mas quarenta minutos depois cheguei na bonita Estação Beratazegui, construída em 1870. Esse foi apenas o começo da história.

A ideia era percorrer a pé os 1.200 metros dali até o Estadio Norman Lee, casa da AD Berazategui, só que decidi pegar um táxi por conta da chuva. Tudo para não perder nenhum detalhe do duelo do onze laranja contra o líder Deportivo Laferrere válido pelo Campeonato de Primera C. O taxista me deixou a cerca de quatro quarteirões do portão principal pois tudo estava interditado pela polícia. A partir daí notei algo estranho no ar. pois o horário do apito inicial estava chegando e tinha muita gente zanzando pelas redondezas sem nenhuma pressa.


Fachada do acanhado e espetacular Estadio Norman Lee com destaque para integrantes da tropa de choque

Fui arranjando espaço no meio da muvuca até que, faltando meio quarteirão para chegar no Norman Lee vi uma enorme barreira policial ao redor da casa laranja não deixando ninguém passar. Me senti no meio de uma guerra, tamanha a quantidade de homens da lei fortemente armados na região. Perguntei para um deles como faria para conseguir um ingresso. O estressado integrante da PFA foi bem mal educado e mesmo assim me deixou passar. Disse para buscar a informação com alguém na entrada. 

No portão perguntei a dois fiscais como seria possível comprar um ingresso e ambos, com uma falta de educação assombrosa, disseram que não era possível e que ninguém mais entraria. Foi somente quando perguntei a uma terceira pessoa que entendi o que estava acontecendo. As apresentações do Berazategui não tem venda de ingressos para torcedores comuns, e somente sócios podem acessar as dependências da praça de esportes. Demorei alguns segundos para absorver a informação e no momento em que isso aconteceu, o mundo desabou na minha cabeça.

(Em tempo: Descobri depois que por causa de inúmeros momentos violentos com os seus hinchas, a AFA e a polícia local decidiram que a equipe não atuaria mais na sua casa a partir de 2012. Assim, eles jogaram como mandantes em nove estádios diferentes. Quando começou a temporada 2016 eles foram autorizados a retornar ao Norman Lee sob condições específicas. A principal delas era que os ingressos seriam comercializados apenas para sócios e sem venda geral. Isso para o poder público saber com antecedência o nome de todos os presentes. Uma forma de evitarem confusões dentro das dependências da casa laranja.)

Inconformado por estar tão longe e prestes a ter que voltar ao meu hotel sem conseguir colocar dois times geniais na Lista e sem visitar um campo tão alternativo, na base do "o não eu já tenho" comecei a pensar numa alternativa para tentar não jogar fora a tarde. Uma coisa que aprendi em todos os anos de JP foi que, independente do número de portões fechados que um estádio tenha, sempre vai ter um aberto em dia de jogo. Dito e feito: havia um nos fundos que servia de entrada para o estacionamento de dirigentes.

Quem estava tomando conta do local era o Gastón, diretor que naquela tarde estava responsável pelo estacionamento. Fui conversar com ele e falei sobre todo o esforço para estar ali naquele momento e contei a minha história em detalhes. A resposta que tive foi um "espere aqui que vou ver o que consigo" e então ele sumiu. Passados cerca de cinco minutos escuto meu nome sendo gritado num portão perto dali. Fui até lá e ele me deixou entrar, primeiro me levando até o setor reservado à torcida do Laferrere. Ainda sem saber o que estava acontecendo direito, o próprio Gastón me "transferiu" pouco depois para o setor principal das arquibancadas do Norman Lee.

Quando estava subindo para buscar um lugar na arquibancada de ferro que fica no centro do gramado perguntei o porquê dele ter feito todo aquele esquema monstro por mim. Ele disse que foi barrado no Holanda x Argentina da Copa do Mundo de 2014 e sabia bem como era decepcionante viajar tanto e ser impedido de ver um jogo. Nem preciso dizer o quanto o agradeci. Não liguei para a temperatura de 12 graus (e sensação de sete), a chuva que não parou por um minuto sequer ou qualquer outra coisa. Estar naquele local com cerca de quatro mil pessoas (!) numa segunda-feira à tarde é algo único e que simplesmente não existe no Brasil, o tão falado "país do futebol".

Após o enorme perrengue, finalmente pude sossegar a alma para ver o confronto que estava com cerca de 10 minutos de bola rolando. A peleja foi uma das primeiras do Berazategui ali desde que o local foi reaberto dois meses antes. Falando de história, a equipe foi fundada em 1975 e se filiou à AFA no ano seguinte. Um ex-gerente da Coca-Cola, Norman Lee, doou parte do terreno da fábrica para que o clube pudesse ter um lar próprio.

Logo no ano de estreia, jogando a Primera D, eles conquistaram o acesso para a Primera C, Em 1986 subiram para a Primera B Metropolitana, certame que disputaram sete vezes. Desde a temporada 2008/2009 eles estão no quarto nível do futebol portenho. Na história, já foram campeões desse certame em 1989/1990 e também do Apertura 1996. Também foram campeões do Apertura 2006 da Primera D.

O adversário do escrete laranja foi o Club Social y Cultural Deportivo Laferrere, fundado em 1956 e também novo para os padrões argentinos, somente em 1978 se profissionalizou. Em doze anos eles saíram da Primera D e chegaram até a Primeira B nacional, um pulo da quinta para a segunda divisão. Com a queda na temporada 1994/1995, alternam participações na B Metropolitana e a Primera C. Nesta última foram campeões em 1986/1987 e 2001/2002.

Das dez rodadas realizadas da Primeira C 2016, um dos vários torneios de transição do Campeonato Argentino, Berazategui e Deportivo Laferrere estiveram na liderança respectivamente em três e seis delas. Os locais estavam em segundo com 20 pontos (seis vitórias, dois empates e duas derrotas) e o Lafe na liderança com 22 (com um triunfo a mais e um empate a menos). A expectativa era enorme, principalmente da massa laranja que tomou conta do Norman Lee. Um triunfo simples significava a liderança isolada para o Bera e seus hinchas não esperavam menos do que isso.

O frio que congelava todos os presentes na parte nobre da cancha, inclusive o que vos escreve, também interferiu na atuação dos 22 atletas no encharcado relvado. A etapa inicial foi repleta de jogadas imprecisas e muita dificuldade na construção de ataques. Praticamente nenhum momento foi digno de registro. Mas eu, espremido no meu ensopado casaco e com uma temperatura baixa como poucas vezes peguei num cotejo não estava nem aí. Os mais animados do setor atrás do gol da entrada também não queriam saber se estava 8 ou 40 graus e pulavam e cantavam - sem camisa, claro - como se não houvesse amanhã.


Ataque do Laferrere pela direita quando eu ainda estava na torcida visitante


Lance no campo de defesa do onze visitante


Outra investida do Laferrere, mas agora eu já estava na parte "nobre" do Norman Lee


O frio que fazia nesse momento era intenso, além da chuva fina que caía em Berazategui. Mesmo assim, a cancha estava lotada

Os agraciados com um lugar no principal arquibancada (oriunda do Velho Gasômetro, antiga casa do San Lorenzo) também estavam animados, só não chegavam ao ponto de ficarem desprotegidos do frio. Pena que a rapaziada que estava ali deu uma leve murchada no tempo final. O Laferrere retornou ao gramado bem melhor, se aproveitou dos erros do seu adversário e controlou o jogo. Aos nove minutos Maximiliano Mallemaci ganhou da zaga e chutou cruzado para abrir o marcador.

Na sequência Gómez teve a maior chance laranja em toda a partida e falhou na hora de finalizar. O Deportivo não quis dar sopa pro azar e no lance seguinte definiu a sua sorte. Tortuga Fernández chutou de longe, o goleiro González soltou a carne e García deu números finais ao confronto. Os molhados hinchas localizados atrás do gol de entrada continuavam empolgadíssimos sem camisa, agora sob uma sensação térmica de seis graus, e com 2x0 contra no lombo. Admiro demais essa rapaziada, já que nem nos meus tempos áureos de torcedor conseguia ter essa animação. Antes do apito final, uma leve briga com alguns integrantes da simpática PFA só para não perderem o costume, claro.


Para terem uma ideia de como a torcida do escrete laranja é barra-pesada, dá para ver que, mesmo só com sócios presentes, a tropa de choque faz marcação cerrada


O bonito colorido do duelo entre Berazategui e Deportivo Laferrere


Disputa de bola pelo alto


Ataque pela esquerda do Bera. Pena para os quatro mil presentes que o time não tenha feito uma partida muito boa

O placar final de Berazategui 0-2 Deportivo Laferrere manteve o Villero na liderança com 25 pontos, Os laranjas continuam na segunda posição com 20, seguidos de perto pelo Argentino de Quilmes e pelo Excursionistas com 19. Com o fim do encontro, fui andar pela cancha, algo que não tinha feito antes por conta de todo o perrengue. Reencontrei o Gastón e fiquei conversando com ele sobre histórias da agremiação. A conversa durou quase meia hora e foi interrompida pois o dia estava terminando e, de acordo com ele, "quando a noite cai quem não é da região é certamente assaltado". Sem querer pagar pra ver, peguei o caminho até a estação de trem rapidinho não sem dar um grande abraço ao personagem principal da jornada.



Dois detalhes da Estación Berazategui, pouco antes dos simpáticos policiais me interpelarem e me obrigando até a mostrar meu passaporte

Foram 20 minutos a pé debaixo de chuva pela Calle 15 até chegar de novo na estação de trem. Como não estava com pressa, aproveitei para fazer fotos do local até ser interpelado por dois policiais. Os homens da lei disseram que eu não era autorizado a tirar fotos ali e fui obrigado a mostrar até meu passaporte. Me senti na Cisjordânia. A dupla me liberou com uma má vontade dos infernos e só após disso peguei o caminho de volta. Foi a mesma coisa da ida: o busão dos anos 70 até Quilmes e dali o trem até o Terminal Constituición. 

No caminho, passei pela Estação Sarandi bem no momento que Arsenal x Belgrano de Córdoba estava começando. Como não vendem ingressos da primeira divisão no dia da partida, fiquei na vontade. Mas tudo bem, já que a minha missão futebolística tinha sido cumprida com louvor. O cotejo em Berazategui não foi o ultimo da Magical Mystery Tour e, na última noite em Buenos Aires, ainda deu tempo de colocar outro time na Lista.

Até lá!

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terça-feira, 21 de junho de 2016

Jogo fraco e placar em branco para Audax e Espírito Santo

Texto e fotos: Fernando Martinez


O último final de semana foi bastante complicado e para variar um pouco, o futebol ajudou a segurar a onda com uma sessão vespertina no domingo com direito a time novo na Lista. Pelo Campeonato Brasileiro da Série D, um duelo de vice-campeões estaduais em Osasco: Audax e Espírito Santo FC, esse o 634º time que vi em todos os tempos.

A CBF teve um acerto e um erro absurdo na hora de organizar a última divisão do nacional nesse ano. Acertou em aumentar o número de participantes - 40 para 68 - mas errou em alterar a fórmula. De longe esse é o pior formato para um campeonato, afinal, os times estão divididos em 17 chaves com quatro clubes cada aonde apenas dois se classificam. Ou seja, vários deles disputarão apenas seis jogos (!) em 45 dias, algo estúpido demais numa época em que todos clamam por um calendário mais decente.


Grêmio Osasco Audax Esporte Clube - Osasco/SP


Espírito Santo Futebol Clube - Vitória/ES


O árbitro catarinense Eduardo Cordeiro Guimarães, os assistentes paulistas Ricardo Pavanelli Lanutto e Luiz Alberto Nogueira e o quarto árbitro também paulista Rodrigo Gomes Domingues posam junto aos capitães dos times

O grupo A13 também conta com Caldense e Boavista e na rodada inicial o onze paulista empatou fora de casa contra o Verdão de Saquarema e o Santão perdeu para a Veterana. Não esperava muito para a peleja, ainda mais sabendo que aquele Audax vice-campeão paulista não existe mais. As expectativas se confirmaram e a partida foi bastante abaixo da média.

O time osasquense teve a rigor duas boas oportunidades de gol no tempo inicial. A primeira com Léo Bahia em belíssima cobrança de falta que teve defesa difícil de Alan Faria e a segunda em bola que tirou tinta da trave esquerda. Após esses lances, o jogo ficou embolado no meio de campo e sem nenhuma emoção.


Bola que tirou tinta da trave de Alan Faria


Agora o arqueiro capixaba fazendo bela defesa e impedindo o primeiro gol do Audax no certame


Ataque osasquense pela direita

No tempo final o Espírito Santo melhorou e chegou perto da vitória com Joabe acertando a trave em cobrança de falta. O Audax nada fez, só que no último lance da tarde/noite teve a chance de ouro de conquistar sua primeira vitória com um lance pela direita, que terminou com uma péssima finalização mesmo com o goleiro capixaba batido.


Momento para ginástica dentro da área do Espírito Santo


Ataque aéreo a favor dos locais


O melhor lance do tempo final foi a aparição da lua... sem dúvida nenhuma

No fim, o marcador ficou em Audax 0-0 Espírito Santo, um resultado ruim para os paulistas, que permanecem sem vencer na competição e sem marcarem nenhum gol. O próximo compromisso da equipe será no próximo final de semana contra a Caldense fora de casa. Além disso, foi minha nona partida com placar em branco até aqui em 2016, um recorde negativo.

Como a vida tem sido complicada por essas bandas, nada melhor do que esfriar a mufla com aquele sempre bem vindo Dia do Gordo com a rapaziada que foi ao Liberatti depois do futebol. Ficamos um bom tempo num shopping da região com aquela confraternização marota de sempre. Faz um bem imensurável.

Até a próxima!

segunda-feira, 20 de junho de 2016

JP na Argentina 15 (7/9): O inesperado retorno a Buenos Aires

Texto e fotos: Fernando Martinez


Depois de toda a frustração vivida no Uruguai e ter percorrido o trajeto Montevidéu-Colônia-Buenos Aires na base do sofrimento e do perrengue, cheguei em Buenos Aires na hora do almoço do domingo, dia 17 de abril. Com tempo apenas de ir pro hotel e deixar as malas, já parti em busca de um plano B para salvar o final de semana futebolístico. Buscando aquela informação sempre precisa, comprei o Olé e comecei a analisar o que tinha disponível na região.

A escolha foi acompanhar o confronto entre Barracas Central e Tristán Suárez na Primera B. Já escolado com o esquema de jogo adiado, entrei no perfil da AFA no Twitter e a peleja também tinha sido adiada (!). Tomando chuva no meio da Avenida 9 de Julio tive que ativar o plano C. Restou uma única - e genial - alternativa pela proximidade e pelo horário: pela 11ª rodada do Campeonato Argentino de Primera C, Excursionistas x Argentino de Merlo no estádio do primeiro, o genial El Coliseo del Bajo Belgrano.

Como o próprio nome diz, a praça de esportes fica no bairro de Belgrano, bem próximo a Nuñez, casa do River Plate, e fica a pouco menos de nove quilômetros do Obelisco, minha maior referência. Peguei um táxi e o percurso foi percorrido em cerca de 15 minutos. A região é fantástica e conta com apartamentos de classe média alta, casas bem simpáticas e é muito arborizada (para efeito de comparação, é como se tivesse um campo de futebol no meio de Higienópolis). O surreal é que, contrastando com o bairro, a cancha tem tanta grade e arame farpado que parece que estamos numa penitenciária de segurança máxima. A torcida do Excursio não é fichinha não.


A genial fachada do Coliseo del Bajo Belgrano



A arquibancada de fundo do Excursionistas e as cadeiras de madeira na parte mais ajeitada do estádio

O Club Atlético Excursionistas foi fundado em 1910 e faz parte do campeonato portenho desde o amadorismo. Participaram da primeira divisão de 1925 até 1934 e só saíram dela pois, com o advento do profissionalismo, quem utilizasse atletas amadores não faria parte da divisão principal. Desde então eles perambulam entre a Primera B e a Primera C, sem nenhuma temporada com resultado marcante. É uma das várias agremiações da capital da Argentina, esse sim o verdadeiro "país do futebol".

Do outro lado estava o genial Club Atlético Argentino, time fundado em 1906 e que se filiou à AFA apenas em 1978. Nos primeiros 70 anos de vida o destaque ficou a cargo da bocha, do xadrez e do basquete. Quando construíram uma nova sede em 1976, resolveram se aventurar no profissionalismo. Desde então, alternaram participações na Primera C e também na Primera D. Legal que durante a minha primeira viagem ao país vizinho em 2009 assisti seu grande rival, o Deportivo Merlo, jogando contra o grande rival do Excursionistas, o Defensores de Belgrano.

A sorte que não me acompanhou em terras uruguaias voltou a aparecer e consegui pegar a apresentação desde o início. Descobri lá que o fato da casa do Excursionistas ter gramado sintético fez com que a partida não tivesse chance de ser cancelada apesar de toda chuva que caiu nos dias anteriores. O público presente foi de cerca de 500 pagantes e a maior parte chegou em cima da pinta. Teve também a presença de meia dúzia de torcedores do Argentino de Merlo.

O onze local ocupava a quinta posição antes da rodada, enquanto o Argentino estava na incômoda 15ª colocação. A campanha entrou em campo e, por quase todos os 90 minutos, o Excursionistas foi melhor do que seu adversário. Enquanto a chuva ia e voltava, os Villeros enfileiravam bons momentos e envolviam a defesa visitante. Os principais nomes foram de Jonathan Da Luz e Alejandro Vera, ambos responsáveis por boas defesas de Martín Cabrera. Quando o intervalo chegou, o zero estampava o placar.


Com o futebol uruguaio sem rodada, voltei à Buenos Aires para não perder o final-de-semana. Excursionistas x Argentino de Merlo foi o Plano C, mas a peleja foi genial


Detalhe do Coliseu del Bajo Belgrano, a super bem protegida casa do Excursionistas


Ofensiva do Argentino de Merlo ainda no primeiro tempo

Já na etapa final o cotejo melhorou e finalmente vimos gols, animando a chuvosa tarde. Aos doze minutos, ainda mais inspirado no relvado, o Excursionistas inaugurou o marcador com o tento de Alejandro Vera. O camisa 7 foi lançado e, embora sofrendo com a marcação de um defensor, ele tocou com classe por cima do goleiro do Argentino. Cabrera ainda relou na bola, sem força suficiente para impedir o tento.

Depois de ficar em vantagem, os locais diminuíram o ritmo e pela primeira vez a Academia del Oeste se aventurou no setor ofensivo. O arqueiro da casa Arias Navarro fez duas boas intervenções, porém aos 32 minutos ele não conseguiu defender o forte chute de Nicolás Horacio. Mesmo tendo sido dominado durante a maior parte do encontro, o Argentino chegou ao empate, não sem a reclamação coletiva dos presentes no El Coliseo del Bajo Belgrano.

O Excursionistas sentiu o golpe e tentou, meio sem jeito, voltar à frente do marcador. Faltando oito minutos, o árbitro Rodrigo Pafundi marcou falta a favor do time da casa na entrada da área. Leonardo Ruiz bateu fraco, mas na tentativa de espalmar, o goleiro Martín Cabrera bateu roupa e viu a bola espirrar dos seus braços, morrendo no fundo do gol. Um frango clássico que recolocou os verdes em vantagem.


O genial contraste das duas camisas no gramado


Detalhe do primeiro gol do time da casa, marcado por Alejandro Vera


Bola passando por todos dentro da área do Argentino


O segundo gol do Excursionistas foi um frangaço do goleiro Martín Cabrera

Os visitantes sentiram o gol e desanimaram. Os comandados de "Bufalo" Szeszurak ainda criaram dois ótimos momentos, só que não marcaram o terceiro. No fim, o placar final ficou em Excursionistas 2-1 Argentino de Merlo. O triunfo fez com que a equipe de Buenos Aires subisse ao quarto lugar na tábua de classificação disputadas onze rodadas. A Academia permaneceu na 15ª posição, flertando perigosamente com o rebaixamento.

Feliz por ter visto o final de semana não ir pro lixo, retornei ao centro para finalmente descansar após três dias bem tensos. Falando em tensão, a segunda-feira reservou uma sessão futebolística absolutamente surreal. O Yupanqui x Juventude Unida, visto seis dias antes, perdeu o posto de jogo mais perdido da minha vida numa jornada repleta de surrealismo com uma boa dose de sorte, muita chuva e uma temperatura de congelar a alma. Inesquecível.

Até lá!

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sábado, 18 de junho de 2016

JP no Uruguai (1/1): A estreia no Parque Central pela Libertadores

Texto e fotos: Fernando Martinez


Na quinta-feira, 14 de abril, empacotei minhas coisas e, findada a estadia de cinco dias em Buenos Aires peguei o boné e me mandei até um local que queria visitar fazia tempo: a República Oriental do Uruguai. Foi a primeira incursão do JP na antiga Província Cisplatina. Saí do meu QG no centro e pouco depois já estava na estação do genial Buquebus esperando a balsa que me levaria até Montevidéu. Poderia ter ido de ônibus, só que a ideia de navegar no Rio da Prata era muito mais interessante.

Mesmo com o famoso trauma pessoal de mar a viagem foi sensacional. Nem parecia que estava num barco tamanha a tranquilidade durante o percurso. Deu tempo de curtir o duty free - sem comprar nada, claro - e todas as instalações do pequeno navio. Cheguei na capital uruguaia por volta das sete da noite e, antes de ser liberado, a polícia local provavelmente me confundiu com algum traficante sul-americano. Fui o escolhido entre todos os passageiros para ter a bagagem revistada. Tirando alguns alfajores, duas garrafinhas de 7up e alguns chocolates, nada ilícito e então fui liberado sem maiores problemas.

Dali peguei um táxi com destino ao hotel, que ficava ao lado da Rodoviária de Tres Cruces. Bom porque ficaria próximo do Estadio Centenario e também de vários outros pontos interessantes durante a minha - até então - estadia de seis dias na capital do país. Deixei as malas e logo peguei o caminho do meu primeiro compromisso futebolístico. Graças à intervenção do amigo Victor de Andrade, conheci a Rossina López e ela fez o grande favor de comprar meu ingresso com antecedência para a primeira cobertura do Jogos Perdidos no Uruguai em todos os tempos. A honra coube a Nacional x Rosario Central, meu terceiro compromisso pela Taça Libertadores da America fora do país pelo terceiro dia consecutivo. Tinha visto ambos apenas uma vez, as duas contra o Corinthians no Pacaembu no ano 2000.

O duelo foi disputado na casa do Decano, o genial Gran Parque Central, um dos estádios utilizados na primeira Copa do Mundo em 1930. Ele está em obras de expansão e, quando ela terminar, o local terá capacidade para 34 mil pessoas. A ideia é que, assim como há 86 anos, ele receba a abertura do Mundial de 2030. Além disso, é a cancha mais antiga das américas e a 15º do mundo. Ter a chance de visitar um local tão especial foi um privilégio enorme.

Apesar de já estar classificado, a torcida tricolor compareceu em peso na gloriosa praça de esportes. Mesmo com a casa lotada, foi fácil chegar e acessar as arquibancadas. O Nacional era o líder da chave com nove pontos, enquanto o Rosario estava com oito e precisava apenas de um empate para também se garantir entre os 16 melhores do certame. O Palmeiras também tinha chance e precisava derrotar o River Plate/URU na sua arena e torcer pro onze argentino não somar ponto. Era fato que o alviverde tinha uma missão bastante complicada.

A peleja começou com a agremiação visitante levemente melhor, porém sem criar momentos de perigo. Quando o relógio marcava 16 minutos, as notícias vindas do Brasil informavam que o time de Palestra Itália tinha aberto o placar. Um gol do Nacional eliminaria o Rosario e ele quase saiu aos 21 minutos quando Barcia chutou firme e Sebástian Sosa faz boa defesa. Aos 24, Ramírez perdeu novo bom momento a favor dos locais.


Nacional em campo para a última apresentação na fase de grupos da Libertadores


Do alambrado, visão dos atletas do Rosario Central se preparando para uma cobrança de falta


Visão do alto da arquibancada do Parque Central


Palco da abertura da primeira Copa do Mundo, a casa do Nacional de Montevidéu é um estádio bastante interessante

Conforme o tempo foi passando e o tento local não saiu, o Rosario foi se acertando. Num dos derradeiros momentos do tempo inicial, a zaga uruguaia vacilou e os argentinos não perdoaram. Cervi cobrou escanteio da esquerda e achou Alejandro Donatti sozinho na grande área. O atleta cabeceou sem marcação e fez o dele. Foi o gol que fez diminuir a esperança palmeirense a 1.900 quilômetros do Parque Central. No intervalo a chuva começou a apertar e eu deixei meu lugar à beira do gramado e subi até o topo da arquibancada.

Lá do alto vi o Nacional voltar ao gramado sentindo falta dos seus desfalques. O Rosario soube se portar direitinho e não deu sopa pro azar. Nem bem tinha chegado o primeiro minuto e quase Herrera, aquele ex-Botafogo e ex-Corinthians, fez o segundo. Aos 13 o Nacional bateu falta perigosa, num dos seus únicos momentos lúcidos nos 45 minutos finais. Aos 24 o sonho palmeirense morreu de vez quando Herrera fez um belo gol. Ele recebeu passe de Cervi, cortou o zagueiro e tocou por baixo do goleiro.


Lance no meio-campo e o visual dos jogadores de Nacional e Rosario Central


O clube uruguaio não foi bem, e suas tentativas foram neutralizadas pelo setor defensivo argentino


Defensor do Rosario roubando a bola de atleta local


Bola levantada dentro da área visitante no final da partida

A partir daí o escrete local se entregou e os argentinos esperaram apenas o tempo passar. O placar final de Nacional 0-2 Rosario Central ficou de bom grado para ambos e garantiu os dois nas oitavas, já que nem a vitória do Palmeiras por 4x0 em São Paulo adiantou. Os dois pegaram e eliminaram brasileiros nas oitavas. A torcida local não ficou feliz depois do apito final e só não pintou nenhuma crise maior pois a vaga estava garantida.

Saí do Parque Central debaixo de uma chuva bem forte e mal sabia que isso complicaria absurdamente a minha estadia no Uruguai. Na sexta-feira um tornado devastou uma cidade do interior e um dilúvio ininterrupto que durou 24 horas transformou Montevidéu num verdadeiro caos durante todo o dia. Com isso A AUF cancelou a rodada do dia 15. Passei o dia no hotel com uma leve escapada ao pequeno shopping que fica dentro da rodoviária de Tres Cruces. A esperança era que a chuva passasse de alguma forma, evitando assim que a rodada dos dias seguintes fosse confirmada.

Quando o sábado nasceu São Pedro tinha dado uma trégua e até o sol resolveu aparecer. Já estava pronto com destino ao primeiro compromisso da rodada tripla programada quando, por desencargo, resolvi conferir o perfil da AUF no Twitter. Eis que, para o meu completo desespero vi que simplesmente TODAS as partidas de TODAS as divisões e de TODAS as categorias não seriam realizados até a outra semana. Resumindo: meu cronograma com oito jogos tinha ido pro brejo. Frustração, raiva, tristeza... inúmeros sentimentos e sensações passaram pela minha mente.

Após cerca de dez minutos completamente sem reação, passei a pensar numa saída. A decisão mais lógica - e insana também, mas não me restava muito a fazer - foi voltar a Buenos Aires para terminar minha viagem em melhores condições. No tempo recorde de meia hora o voo estava remarcado e a passagem de buquebus, a famosa balsa, estava comprada. Às seis da matina do domingo sairia da cidade de Colonia del Sacramento com destino à Buenos Aires.

Tentando não deixar a impressão de Montevidéu e do Uruguai ainda pior, resolvi passar a noite de sábado dando uma volta no centro da cidade. Pena que, como cereja do bolo, as ruas estavam completamente vazias e sem nenhum restaurante ou lanchonete em funcionamento. Como em Buenos Aires tudo fica aberto até altas horas e temos dezenas e dezenas de opções, a comparação foi inevitável. Posso dizer que a impressão que tive do país vizinho foi a pior possível. Tudo bem que dei um azar danado por conta do tornado. só que isso só irá passar numa nova viagem que fizer até lá.

Acordei às quatro da matina no domingo e peguei um busão bem zoado que percorreu os 180 quilômetros que separam Montevideu da cidade litorânea em tempo recorde. A chuva tinha voltado e fiquei num banco com uma goteira em cima de mim. O motorista meteu o pé firme no acelerador e chegamos no destino em menos de duas horas. Como a grana já estava curta, a balsa dessa vez era mais humilde. Posso dizer que foram 50 minutos terríveis, já que o Rio da Prata estava nervoso e o bendito buquebus balançou absurdamente. Não foi fácil, definitivamente.

Quando eu desci em Buenos Aires quase mandei o gesto de beijar o chão que João Paulo II fazia quando visitava um país. Pode soar estranho, mas a sensação de "estar em casa" foi enorme. Retornei ao hotel em frente ao obelisco, o mesmo da primeira parte da viagem, e que voltaria a ser meu QG até o fim da Magical Mystery Tour. A AFA não tinha cancelado todos os seus jogos por conta do mau tempo. Mesmo assim passei perrengue (ainda mais) para salvar meu final de semana futebolístico.

Até lá!

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