sábado, 10 de dezembro de 2016

JP na Olimpíada (parte 14): Bolt e o tri olímpico nos 100 metros

Texto e fotos: Fernando Martinez


Assim como fiz no primeiro post não-futebolístico da história do Jogos Perdidos, peço licença aos amigos que estão lendo o blog nesse exato momento pois preciso falar agora sobre um momento histórico e que nada tem a ver com a nossa linha editorial. Certeza que ao final do post todos me perdoarão.

No dia 14 de agosto fiz minha segunda viagem ao Rio de Janeiro para mais dois dias de insanidade na Olimpíada, agora com a participação de dois dos meus três irmãos. Inicialmente só tinha ingressos de eventos na segunda-feira, mas de última hora pintou a chance de ouro de preencher a agenda com uma sessão noturna no Estádio Olímpico.

Graças ao amigo Ruben Corrêa Neto - o agradecerei eternamente por isso - consegui um disputado ingresso para a prova mais nobre do atletismo, os 100 metros rasos. Desde Los Angeles-1984 eu sempre assisti a prova com as conquistas de Carl Lewis, Linford Christie, Donovan Bailey, Maurice Greene, Justin Gatlin e ele, Usain Bolt. E foi justamente o jamaicano que teria a chance de colocar de uma vez por todas o nome na história.

Nunca em trinta olimpíadas disputadas um atleta havia conquistado o tri-campeonato nessa prova e em apenas duas oportunidades, Carl Lewis em 1984-1988 e o próprio Bolt em 2008-2012, rolou um bi-campeonato. Sem exagero nenhum, o mundo esperava ver o inédito tri do Relâmpago jamaicano.

A viagem até o Rio foi tranquila, e diferente do que tinha acontecido na minha primeira visita, dessa vez fez muito calor e a temperatura na noite do domingo era alta. Menos mal que o trajeto até o Engenhão foi percorrido sem percalços. Milagrosamente também não encontrei nenhuma dificuldade para entrar no estádio ou encontrar meu lugar.

A sessão completa do atletismo contou com as semi-finais dos 400 e 1500 metros feminino, final do salto triplo feminino, as preliminares do salto em distância masculino e a final dos 400 metros, além, claro, das semi-finais e da grande final dos 100 metros rasos dos homens. Um cardápio de primeiríssima linha.

Antes de ver o Raio em ação, vale destacar o histórico triunfo do sul-africano Wayde van Niekerk nos 400 metros rasos, com direito a quebra de recorde olímpico e mundial que durava desde agosto de 1999. Outro momento importante foi a disputa do salto triplo das mulheres e o ouro de Caterine Ibargüen, o segundo da Colômbia nos Jogos. Como curiosidade vale lembrar que vi o primeiro, de Óscar Figueroa, cinco dias antes no levantamento de peso.


Wayde van Niekerk cruzando a linha de chegada em primeiro na final dos 400 metros rasos


Além de conquistar o ouro, o sul-africano quebrou o recorde mundial da prova que durava 17 anos


Classificação final da decisão do salto triplo feminino com a segunda medalha dourada para a Colômbia no Rio-2016

Mesmo com tudo isso, o ponto alto obviamente seria acompanhar a busca de Bolt pelo terceiro ouro olímpico na prova mais nobre do atletismo. Nas semi-finais ele, mesmo se poupando, marcou o melhor tempo. Quando chegou a hora da decisão, o Engenhão foi à loucura quando ele foi anunciado no sistema de som. Toda a gritaria deu lugar a um completo e absoluto silêncio quando os oito atletas se posicionaram nos lugares marcados.

Não se ouvia nada no Estádio Olímpico, absolutamente nada. O clima era de tensão absoluta, e todos que estavam ali dentro, e claro, todos os espectadores ao redor do planeta, sabiam que estavam prestes a ver a história sendo escrita, afinal, ou rolaria um inédito tri ou o maior de todos seria finalmente vencido.

Impossível descrever a sensação de estar dentro do Engenhão naquele momento. Lembrei de todas as vezes que estava em casa acompanhando essa prova, pensando em todos os herois olímpicos que gravaram o nome na história justamente vencendo ou perdendo. Não foi nada fácil segurar a emoção.

Sob um silêncio ensurdecedor os atletas largaram... dez segundos depois, mesmo depois de uma saída não tão boa (algo normal na carreira do atleta), Usain Bolt se tornou o primeiro tri-campeão olímpico dos 100 metros rasos com o tempo de 9.81 segundos. O jamaicano já sabia que havia vencido antes mesmo de cruzar a linha de chegada e a fez sorrindo. Não restou outra coisa a todos os presentes a não ser ovacionar o "Lightning Bolt".


Atletas classificados para a grande final dos 100 metros rasos da Olimpíada 2016


Os oito finalistas momentos antes da largada


Usain Bolt, o único tri-campeão olímpico dos 100 metros desfilando pela pista de atletismo do Engenhão


Não teve recorde quebrado, mas o jamaicano fez história no Rio de Janeiro

Entre lágrimas e uma profunda felicidade por estar ali cheguei ao final da sessão agradecendo a possibilidade de ter presenciado um momento tão grande como esse. Poder falar que estive presente na noite em que saiu o primeiro tri olímpico no momento mais nobre do atletismo vai ser algo legal demais de se fazer.

Até a próxima!

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