segunda-feira, 26 de abril de 2021

Pelo Brasileiro Feminino, Palmeiras goleia o Cruzeiro e segue invicto

Texto e fotos: Fernando Martinez


Chegamos em outro sábado e de novo pintou uma sessão noturna pelo Campeonato Brasileiro Feminino. Na minha estreia no Allianz Parque na categoria, o invicto Palmeiras recebeu o Cruzeiro pela terceira rodada do turno único da fase inicial. Foi apenas a terceira vez que vi uma apresentação das meninas alviverdes na história, a primeira dentro da sua casa própria.

Nas duas rodadas anteriores as paulistanas empataram com a Ferroviária, as atuais campeãs da América, por 2x2 na capital e fizeram 3x0 no Avaí/Kindermann, o último vice nacional, jogando no Sul. Atuando contra um Cruzeiro que não tinha vencido - empatou com o Real Brasília e perdeu do Grêmio - a ideia era manter a invencibilidade. Vale registrar que a diretoria verde apostou alto tentando quebrar a hegemonia corintiana. No ano passado foram semifinalistas da A1 e acabaram eliminadas pelas maiores rivais.

Durante a semana passada a FPF continuou sem liberar imprensa nos jogos da A1 e A2 do Paulistão. Já a CBF liberou normalmente os profissionais no nacional feminino. Independentemente de quem está certo ou não, é muito bizarro um mesmo estádio poder receber fotógrafos e repórteres em partidas de uma entidade e de outra não. A abstinência de trabalho está tão grande que esse Palmeiras x Cruzeiro contou com 19 profissionais só para captar as imagens, fato incomum no feminino. Boa parte dos que estavam ali foram na base do “quem não tem cão, caça com gato”. Não é o caso do JP, claro.

O caminho do QG até a Pompéia foi rápido e durante o trajeto foi impossível não notar o grande número de pessoas em bares, restaurantes e lojas de serviços como colchões e móveis de casa. Boa parte da rapaziada sem máscara, algo normal se levarmos em conta que a pandemia acabou e estamos vivendo num mar de tranquilidade. Bom, adoraria que as últimas linhas fossem a realidade, pena que não são. É assustador ver boa parcela da população jogar contra e querer encerrar a pandemia na marra. Infelizmente nosso cenário apocalíptico totalmente insuportável ainda vai longe.

Foram alguns quilômetros percorridos em 20 minutos e entrei nas dependências do Allianz faltando quase uma hora e meia para o apito inicial. A ótima biografia do gênio Keith Moon me fez companhia até o duelo começar. Quando tudo começou, as alviverdes tentaram emplacar aquela blitz marota, só que o marcador foi aberto pelas cruzeirenses. Mariana Santos ganhou a dividida no meio-campo, viu a goleira Taty Amaro adiantada e mandou um tirambaço. A pelota encobriu a camisa 1 num daqueles famosos "gols que Pelé não fez". Histórico.

Após fazer 1x0, a postura do Cruzeiro foi totalmente defensiva e no restante da etapa inicial mal conseguiu chegar perto da área adversária novamente. O Palmeiras teve maior posse, porém não foi o bastante para que isso se transformasse rapidamente pelo menos no empate. Somente aos 46 minutos, num lance que parecia sem perigo, que a igualdade foi alcançada. Duda Santos cobrou falta de longe, Mary Camilo pulou atrasada e viu o tiro entrar no seu canto esquerdo.



O início da jogada e a comemoração do gol de Mariana Santos, marcado quase do meio de campo. Uma pintura!



Dois lances pelo lado direito do ataque cruzeirense no tempo inicial

A expectativa era que, com o 1x1, as locais fossem para cima da zaga celeste no tempo final. Surpreendendo um total de zero pessoas, foi exatamente isso que rolou. Aos sete, Bruna Calderan obrigou Mary a trabalhar. Onze minutos depois, saiu a virada. Katrine cobrou falta pela direita dentro da área. Mary saiu mal e Agustina, livre no segundo pau, fez o dela. Na saída de bola o Cruzeiro perdeu o domínio e Bia Zaneratto foi lançada. A camisa 10 meteu um chutaço colocado quase da meia lua e ampliou a vantagem paulistana.

O Cruzeiro até então não tinha atacado, e na primeira chegada teve sucesso. Mariana Santos, ela novamente, investiu pela direita e chutou cruzado. Taty Amaro pulou e não conseguiu evitar o segundo tento azul. Sem dar sopa ao azar, a veterana Chú recebeu ótimo passe de Bia Zaneratto aos 44 minutos, finalizou entre as zagueiras e, mesmo com a arqueira mineira tocando de leve, fez o quarto gol paulista, decretando o placar final.



O Palmeiras continuou atacando bastante nos primeiros minutos da etapa final


Mary Camilo falhou e Agustina, livre no segundo pau, virou o marcador no Allianz


Batida de Chú no último gol da noite. Novo triunfo palestrino no Brasileiro Feminino

O Palmeiras 4-2 Cruzeiro manteve as alviverdes na vice-liderança da Série A1 do Brasileiro Feminino depois de três rodadas realizadas com sete pontos ganhos. O líder é o Corinthians com 100% de aproveitamento. Já as mineiras estão na zona de rebaixamento com um ponto. As palestrinas visitam o lanterna Botafogo no meio da semana e as cruzeirenses recebem o São José.

Voltei ao QG sem pressa e novamente sem saber qual será a próxima cobertura. A Serie A3 Paulista volta amanhã e, como a A1 e a A2, não terá presença de imprensa. Com os campeonatos voltando em ritmo desesperado, com jogos a cada dois dias, clubes obrigados a atuar fora dos seus estádios por conta dos compromissos apenas noturnos, custos bancados por eles próprios e um desequilíbrio técnico grande, eu me recuso a acompanhar as três divisões. Vamos ver quando os times realmente serão respeitados.

Até a próxima!

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Ficha Técnica: Palmeiras 4x2 Cruzeiro

Local: Allianz Parque (São Paulo); Árbitro: Lucas Canetto Bellote/SP; Público e renda: Portões fechados; Cartões amarelos: Bia Zaneratto, Carol Baiana, Bruna Calderan, Vanessinha, Duda; Gols: Mariana Santos 3, Duda Santos 46 do 1º, Agustina 18, Bia Zaneratto 19, Mariana Santos 28 e Chú 44 do 2º.
Palmeiras: Taty Amaro; Bruna Calderan (Carol Santos), Agustina, Thaís e Tainara (Carol Baiana); Camilinha (Ary Borges), Duda Santos, Katrine (Manuela) e Rafa Andrade (Karol Arcanjo); Bia Zaneratto e Chú. Tecnico: Ricardo Belli.
Cruzeiro: Mary Camilo; Rebeca Prado, Pires, Thamirys e Eskerdinha; Capelinha, Duda, Vanessinha e Mariana Santos; Pâmela (Mayara Vaz) (Marília) e Lucero. Técnico: Marcelo Frigerio.
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segunda-feira, 19 de abril de 2021

Tranquila vitória corintiana na abertura do Brasileiro Feminino

Texto e fotos: Fernando Martinez


Após 35 dias quietinho e fechado em casa, encarei os embalos de sábado à noite como se fosse Tony Manero para a gloriosa abertura do Campeonato Brasileiro Feminino da Série A1 em 2021, a nona edição desde que o certame retornou de vez ao calendário. Com duas máscaras e banhado em álcool em gel segui até o Estádio Alfredo Schurig conferir in loco o duelo de campeões da temporada passada: Corinthians x Napoli/SC.

Não há dúvida que as meninas alvinegras entram no nacional como as maiores favoritas. O time do técnico Arthur Elias chegou nas últimas quatro finais do Brasileiro, ganhando as taças em 2018 e 2020 e ficando com o vice em 2017 e 2019. No Paulistão, são as atuais bicampeãs de 2019/2020 e foram vice em 2018. Isso sem contar, claro, o grande título da Libertadores de 2019 ¹. Um clube que vem fazendo história de forma brilhante e que já colocou o nome no rol de grandes equipes da categoria em todos os tempos.

O escrete catarinense, que faz sua estreia na elite em 2021, foi o grande campeão da A2 em 2020 ganhando do Botafogo/RJ na decisão e ostentando com uma campanha sensacional e invicta com nove vitórias e quatro empates. Nas quartas, elas eliminaram o Juventus com triunfo na capital paulista e empate no Sul. Lembrando que elas têm uma parceria operacional com o Avaí/Kindermann, atual vice-campeão nacional, e chegam querendo se manter na A1.

Assim como acontece desde 2019, o nacional será disputado por 16 equipes em turno único e as oito melhores se garantem nas quartas de final. Iranduba, Audax, Ponte Preta e Vitória foram rebaixados em 2020 e no lugar subiram, além do Napoli, Botafogo do Rio, Bahia e Real Brasília. São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Bahia e Minas Gerais estão representados na A1. A maior surpresa em relação ao que vemos no masculino é a presença de duas agremiações da capital federal entre as melhores do país.

Tive a ajuda do glorioso Luciano Claudino, o "amigo do JP", na busca pelo credenciamento. Tudo foi confirmado na sexta-feira bem em cima da pinta. Agora, não tem como não citar a surrealidade que é termos a CBF liberando imprensa nos seus torneios no estado de São Paulo e a FPF impedindo de todas as formas. Ou não pode nada ou pode tudo. Fica claro que as duas entidades não estão falando a mesma língua. Cá entre nós, a ideia é a federação mostrar serviço somente quando os quatro grandes estiverem em ação no Paulistão. Nos demais, deixa quieto.

O metrô estava de boa e estava praticamente sozinho no ônibus que me levou até a Zona Leste. Estranho foi entrar na sede social do alvinegro e ver tudo apagado, fechado e sem nenhum movimento. Já fui ali dezenas de vezes e ver tudo do jeito que vi impressionou. Nada mais justo levando em conta o estágio atual da pandemia. Não demorou e logo estava na numerada do Parque esperando o apito inicial.




Os dois times devidamente posados para as imagens oficiais no gramado da Fazendinha e depois as capitãs com o quarteto de arbitragem

Os cerca de 40 profissionais que estavam por ali acabaram vendo uma peleja que não teve surpresas. Ostentando uma absurda marca de 21 jogos invictos como mandante e 17 no Brasileiro, as locais não sofreram sustos e abriram a competição com uma vitória relativamente fácil. As oito atletas que disputaram amistosos pela seleção não estavam em campo e nem fizeram falta. O Napoli emplacou uma atuação digna, lutou muito, mas não teve nenhum lance efetivo de perigo.

Decorridos cinco minutos, no primeiro ataque que teve, o Timão abriu o marcador. Jheniffer recebeu belo passe de Grazi, dominou e bateu na saída de Gaby. No minuto seguinte foi a vez de Grazi quase ampliar em tiro que passou perto da trave. Aos 41, nova chance da estreante Jheniffer, que mandu na rede pelo lado de fora. A etapa inicial terminou com o triunfo parcial pela contagem mínima.




No primeiro tempo o Timão abriu 1x0 no começo e depois segurou a partida

Aos quatro do tempo final Bianca Gomes finalizou do meio da área e Gaby defendeu. Aos nove, Jheniffer, ela de novo, teve a melhor oportunidade até então em momento cara-a-cara que finalizou por cima. Aos 14 Grazi mandou uma bola com perfeição de fora da área e ela bateu na trave. Minutos depois a mesma atleta completou escanteio da esquerda também no travessão. O 2x0 teimava em não sair.

Somente aos 29 que o grito de gol se ouviu novamente no gramado da Fazendinha. Yasmim cruzou na cabeça de Gabi Nunes e ela, sempre com o seu incrível faro de artilheira, fez o segundo. Aos 37, em novo levantamento de Yasmim, foi a vez de Gabi Zanotti subir entre as zagueiras e fechar a fatura. Vitória fácil, sem sustos e que poderia ter uma diferença maior caso as oportunidades criadas tivessem sido convertidas.




Três lances da etapa final de Corinthians x Napoli


A iluminação está bem ruim no Parque São Jorge. Do lado oposto às cabines, apenas 26 dos 60 refletores estão funcionando. O ataque mandante teve apenas sete (!) das 20 lâmpadas acesas o que gerou uma sombra enorme no setor ofensivo esquerdo. O Corinthians precisa ajudar as atletas e também o pessoal da imprensa pois não está legal



Detalhe do segundo e terceiro gol corintianos, ambos marcados de cabeça por Gabi Nunes e Gabi Zanotti

O placar de Corinthians 3-0 Napoli somado aos outros resultados da rodada colocaram as alvinegras no primeiro lugar da tabela. Apenas o Avaí/Kindermann, o vice de 2020, venceu seu compromisso, os seis restantes terminaram empatados. Agora as corintianas contam 22 jogos sem perder como mandantes, um total de 21 vitórias e um empate (justamente a final de 2019 quando foram derrotadas pela Ferroviária nos pênaltis). Como disse no início da matéria, as adversárias terão que suar bastante se quiserem tirar o tri da equipe de Arthur Elias.


Placar final da boa estreia corintiana na edição 2021 do Brasileiro Feminino, a 12ª vitória seguida como mandante na competição

Sem pressa, saí do Parque São Jorge com a cidade praticamente vazia com destino à Zona Oeste. Peguei uma inesperada chuva somente chegando próximo do QG, felizmente. Na mente, a incerteza de quando será a próxima cobertura. Com a FPF não dando brecha aos profissionais da imprensa, sobra apenas a CBF... e olhe lá!

Até a próxima!


¹ O título da Libertadores-17 não foi citado pois o campeão daquela edição foi o Audax. Faço questão de contextualizar tudo pois o que mais se vê por aí é informação errada. Tudo nasceu dois anos antes, quando o time de Osasco, então comandado por Arthur Elias, foi bem no estadual e ganhou uma vaga na Copa do Brasil do ano seguinte. No começo de 2016, querendo voltar ao futebol feminino, o Corinthians viu uma boa oportunidade e descolou uma parceria com os osasquenses. Ficou definido que no Paulista e no Brasileiro usariam a camisa alvinegra e na Copa, que aconteceria no segundo semestre, usariam a vestimenta do Audax (com o nome “Corinthians” no peito, como se fosse um patrocinador). Foram mal no estadual, no nacional e na última Copa do Brasil de todos os tempos levaram a taça, garantindo uma vaga na Libertadores do ano seguinte.

No começo de 2017 ambos disputaram Paulista e Brasileiro no primeiro semestre simultaneamente, com dois elencos distintos. Na Libertadores, apesar da vaga ser da agremiação da Grande São Paulo, ficou decidido que, por uma questão de visibilidade na mídia, a camisa a ser utilizada seria a do Corinthians. O título veio em final contra o Colo-Colo coroando bela campanha. Aí nasceu toda a confusão, pois nas fotos aparecia o uniforme paulistano (que teve o nome "Audax" no peito, invertendo o "patrocinador" de 2016). Assim, torcida e a maior parte da "mídia especializada" caíram no erro, ignoraram o contexto todo e passaram a considerar o Corinthians campeão, ignorando completamente o que realmente aconteceu. Alguns ainda colocam um "Audax/Corinthians" – denominação que nunca existiu de forma oficial – na lista e contam títulos para duas agremiações (!). Outro absurdo.

A verdade é uma só: a agremiação de Osasco é a campeã da Libertadores de 2017. O painel com o rol dos vencedores da Libertadores Feminina na sede da Conmebol no Paraguai e a taça do certame tem o escudo do Audax como detentor do título em 2017 e nenhuma menção ao mosqueteiro. O prêmio pela conquista foi pago integralmente ao clube da Cidade Trabalho, o real dono da vaga. O argumento definitivo é que, na edição de 2018, foi o alvirrubro quem disputou o torneio de clubes como o “último campeão”. O Corinthians ficou de fora. Apenas outro caso claro de tentar reescrever a história aproveitando o fato que um pequeno não tem voz ou espaço na mídia. Torcedor pode achar o que quiser, mas quem informa tem o dever de repassar a informação correta, sem clubismo ou achismo. Viu alguém falar "o Corinthians é bi da Libertadores Feminina"? Desconfie. :)

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Ficha Técnica: Corinthians 3x0 Napoli/SC

Local: Estádio Alfredo Schürig (São Paulo); Árbitro: Adeli Mara Monteiro/SP; Público e renda: Portões fechados; Gols: Jheniffer 5 do 1º, Gabi Nunes 29 e Gabi Zanotti 37 do 2º.
Corinthians: Kemelli; Paulinha, Katiuscia, Diany e Yasmim; Gabi Zanotti, Bianca Gomes (Pardal), Cacau (Juliete) e Gabi Portilho (Gabi Nunes); Grazi e Jheniffer. Técnico: Arthur Elias.
Napoli: Gaby; Miriam (Yaki Vecca), Vero (Karen), Thays e Thaini; Sara, Treyci, Pâmela (Juliana) e Mariana; Malu e Naiane (Larissa). Técnica: Carine Bosetti.
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