sábado, 2 de novembro de 2019

JP na Copa do Mundo sub-17 (parte 7): No sufoco, Angola vence e se classifica

Texto e fotos: Fernando Martinez


A segunda metade da viagem mágica e misteriosa pela Copa do Mundo sub-17 começou no dia 29, terça-feira passada, ainda na capital federal. De todos os seis dias da programação esse seria, pelo menos numericamente, o mais importante, já que foi o único com mais de uma seleção nova. Foi também o dia de ver em ação a seleção da casa em busca do tetra. Mas antes, a pedida foi curtir o genial encontro entre Canadá e Angola, abrindo a segunda rodada do Grupo A do torneio. O palco foi novamente o Estádio Walmir Campelo Bezerra, o Bezerrão.

Pela primeira vez na viagem não precisei ficar acordado até altas horas ou cair da cama para pegar ônibus ou avião. Esse descanso foi fundamental para conseguir levar de boa os 50% restantes do mundial. Sem nada planejado antes da rodada, o que fizemos foi dar um pequeno passeio por Brasília, levando o amigo Bruno para conhecer alguns endereços famosos da capital. Andamos muito e visitamos um monte de lugares que eu mesmo não conhecia. Também paramos num shopping ótimo perto do lago Paranoá para aquele almoço que sempre assusta nove entre dez nutricionistas.


Viaduto na entrada da cidade-satélite do Gama


A majestosa fachada do Bezerrão com a decoração da Copa do Mundo sub-17 do Brasil

Chegamos na cidade satélite do Gama novamente sem percalços e com tempo de sobra para todos os trâmites pré-jogo. Passei na confortável sala de imprensa antes de seguir até o gramado. Por conta da peleja de fundo o público já era bem maior do que o presente na segunda-feira. Os voluntários e os engravatados da FIFA estavam mais ligadinhos e conseguiram ser mais simpáticos do que foram na véspera. Acompanhei boa parte do aquecimento das seleções e não demorou para que toda a cerimônia oficial começasse.

Das 24 seleções que se vieram à Copa do Mundo sub-17 oito ainda eram inéditas na minha Lista (seriam nove, mas tive a sorte de ver o Tadjiquistão jogando em Osasco na semana que antecedeu o pontapé inicial do torneio). Cada grupo teve uma seleção nova, menos o Grupo A. A chave do Brasil contou com três, logo, o duelo entre canadenses e angolanos foi o único em que "matei" dois times de uma vez. Melhor cenário impossível levando em conta também que é um confronto bem difícil de acontecer.

O escrete norte-americano já é um velho conhecido na competição e atua pela sétima vez. A seleção alvirrubra carrega um incômodo recorde negativo de nunca ter vencido uma peleja sequer na história. Parece absurdo, mas é verdade. Foram 19 jogos disputados - incluindo a estreia contra o Brasil - e nenhum triunfo. Contando os 20 times que nunca venceram na Copa do Mundo sub-17 é disparado o que tem a pior performance: quatro empates e quinze derrotas, um assombro.

Na primeira fase do sub-17 da CONCACAF ficou atrás dos Estados Unidos no Grupo F e na frente de Guatemala e Barbados. Nas oitavas eliminaram Curaçao (!) e decidiram a vaga contra a Costa Rica. Gosto dos costa-riquenhos, mas torci muito a favor do Canadá. O jogo terminou empatado em 1x1 e a vaga foi decidida nos pênaltis. Felizmente a seleção da terra de Neil Young, Jim Carrey e Bryan Adams foi melhor na marca de cal e venceu por 4x3.

Do outro lado estava a simpática seleção de Angola, país que faz sua estreia na competição. Antes, chegaram perto da vaga em 1997, 1999 e 2017. Na disputa da Copa das Nações sub-17, eles caíram na chave da poderosa Nigéria e das geniais Uganda e Tanzânia. Por terem vencido os dois últimos, se classificaram para um torneio de campo da FIFA pela terceira vez em todos os tempos (em tempo: jogaram o mundial sub-20 em 2001 e a Copa do Mundo da Alemanha em 2006).



Angola e Canadá posando para as fotos oficiais. Foi o único jogo com dois times novos que vi na Copa do Mundo sub-17

E vejam só, na estreia o selecionado africano derrotou a Nova Zelândia por 2x1, conseguindo algo que os canadenses não foram capazes de conquistar em dezenove duelos. Eu não sou especialista e não sei como os norte-americanos atuaram em todos esses compromissos na história, mas uma coisa eu sei: contra Angola eles perderam boa oportunidade para quebrarem a incômoda marca. Não que tenham tido uma atuação soberba, porém chegaram perigosamente perto da meta defendida pelo goleiro Geovani.

Antes mesmo do primeiro minuto, o Canadá mandou uma bola na trave com chute de longe de Habibullah. Pouco depois foi a vez de Ralph Priso finalizar bem e o arqueiro africano defender com classe. Aos 20, no primeiro ataque de perigo de Angola, a árbitra marcou pênalti quando Demian colocou o braço na bola dentro da área. Pena para eles que dois minutos depois o lance foi anulado por impedimento na origem da jogada.

Aos 27, novo bom momento dos canadenses com Jayden Nelson cobrando falta para boa defesa de Geovani. Na base do "quem não faz toma", Angola abriu o marcador contando com a preciosa ajuda do goleiro Marc Kouadio. A bola foi lançada da direita e o camisa 1 saiu todo estabanado, deixando a meta desguarnecida. Zini se adiantou e tocou de cabeça, marcando seu segundo gol no certame. Antes da etapa inicial terminar, cada seleção criou um bom momento, porém o marcador não foi alterado.


Porfirio (2) cortando lançamento para Deandre Kerr (16)


Boa finalização do Canadá dentro da área africana


Deandre Kerr (16) sendo desarmado sob o olhar de Porfirio (2)


Jayden Nelson (11) avançando pelo lado direito


Zini (20) se esticando para cortar cruzamento canadense

Continuei acompanhando o ataque africano no tempo final e com quatro minutos achei que tinha feito besteira pois o Canadá deixou tudo igual. Ralph Priso deu um passe açucarado para Russel-Rowe na entrada da área. O camisa 9 avançou e mandou um chutaço no alto, sem chance de defesa. Dos dez aos vinte minutos os alvirrubros criou três ótimos momentos em sequência e jogou fora a chance de virada. Aos 32, nova chance quando Kerr ficou cara-a-cara dentro da área e chutou em cima de Geovani.

O gol canadense estava maduro e o time vermelho e preto só se segurava na defesa. É, só que o panorama da peleja mudou de repente. Num ímpeto ofensivo que ainda não tinha sido visto em todo o segundo tempo, o time de Maestro, Capita e companhia foi heroico. Aos 45 minutos, a bola foi lançada em profundidade para Zito. O camisa 10 foi ligeiro, entrou na área e tocou com classe para vencer Kouadio. As arquibancadas do Bezerrão ficaram em festa pois a grande massa presente torcia em peso a favor dos angolanos... isso até a árbitra uruguaia Claudia Umpierrez anular o tento por impedimento.

Foi um enorme balde de água fria para todos e apesar disso os atletas não desanimaram. A pressão continuou e aos 49 minutos Beni cobrou falta pela esquerda do ataque. No levantamento Mino tocou na direita, Zini tentou completar na pequena área e o goleiro defendeu no susto. No rebote, ele rolou para trás. David aproveitou a sobra e colocou no canto mesmo com três canadenses em cima da linha do gol. Agora os atletas, a comissão técnica e a torcida puderam comemorar o tento da vitória sem moderação.


Jacen Russell-Rowe (9) deixando tudo igual aos quatro minutos do segundo tempo


Gianfranco Facchineri (5) de olho na pelota em jogada na linha lateral


David (9) fazendo malabarismo com a bola sob o olhar de Kobe Franklin (2)


Kobe Franklin (2) tentando desarmar Capita (7)


Detalhe do gol de Zito (10) anulado pela arbitragem por impedimento



A jogada que resultou no segundo tento de Angola, marcado por David (9) aos 49 do tempo final


A comemoração dos jogadores africanos após a bela vitória contra os canadenses


O placar final de Angola x Canadá. O triunfo classificou o selecionado africano para as oitavas do Mundial

O resultado final de Angola 2-1 Canadá, além de ampliar o gigantesco tabu dos derrotados para 20 compromissos sem triunfo, também deixou a equipe beirando a eliminação. Já para o selecionado africano significou a incrível classificação para as oitavas de final com uma rodada de antecedência. Se não criaram o mesmo número de chances de gol do que o adversário, eles foram mais efetivos e na hora H foram melhores. Como o futebol não vive do "quase", a classificação foi merecida.

Encerrada a preliminar, tinha chegado a hora de acompanhar de perto a atuação do time da casa na rota do quarto título. Foi o primeiro jogo da Copa do Mundo sub-17 que vi com o estádio realmente cheio, uma raridade durante toda a competição. Se não foi o jogo dos sonhos, foi legal ver os meninos do Brasil bem de perto.

Até lá.

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Ficha Técnica: Angola 2x1 Canadá

Local: Estádio Walmir Campelo Bezerra (Brasília/DF); Árbitra: Claudia Umpierrez (Uru); Público: 1.232 pagantes; Cartões amarelos: Domingos, Keesean Ferdinand; Gols: Zini 31 do 1º, Jacen Russell-Rowe 4 e David 49 do 2º.
Angola: Geovani; Porfirio, Afonso, Pablo e Gege (Mimo); Maestro (David), Domingos, Beni e Zini; Capita (Abdoul) e Zito. Técnico: Pedro Gonçalves.
Canadá: Marc Kouadio; Kobe Franklin, Gianfranco Fachhineri, Nathan Demian e Keesean Ferdinand; Damiano Pecile (Julian Altobelli), Ralph Priso (Tomas Giraldo) e Deandre Kerr; Kamron Habibullah, Jacen Russell-Rowe (Mamadou Kane) e Jayden Nelson. Técnico: Andrew Olivieri.
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