quinta-feira, 23 de maio de 2019

Massacre palmeirense contra o Porto Velho na A2 Feminina

Texto e fotos: Fernando Martinez


Fazia tempo que eu não ia ao interior ver um jogo de futebol e eu tinha esquecido como isso é legal. Na quarta-feira emplaquei uma mini-caravana da coragem até a cidade de Vinhedo para acompanhar de perto as oitavas de final do Campeonato Brasileiro Feminino da Série A2. No simpático Estádio Nelo Bracalente, nunca antes mostrado aqui no Jogos Perdidos, Palmeiras e Porto Velho de Rondônia duelaram em busca de uma vaga nas quartas de final.

Tinha visitado a simpática cidade apenas uma vez, isso em meados dos anos 90, e desde então não tinha voltado. Ela fica a 75 quilômetros da capital e possui cerca de 70 mil habitantes. Possuem um IDH muito alto, o sexto do estado, e também um dos maiores do país. O Nelo Bracalente é o palco futebolístico mais famoso pois foi a casa do falecido Estrela quando este deixou Porto Feliz e se abrigou ali na virada do século. Desde a extinção da equipe, o local, que tinha acanhadas arquibancadas de madeira, sumiu do cenário.

Há cerca de dez anos a prefeitura construiu arquibancadas de concreto após grande reforma. Pelo Google soube que a capacidade é de 4.200 pessoas, mas creio que efetivamente seja menor, logo, não atende os critérios da FPF para a disputa de futebol profissional. Preciosismo demais, pois creio que a cancha possa tranquilamente abrigar jogos da Segundona. Em 2016 o Grêmio Barueri disputou alguns compromissos do sub-20 ali, assim como a Ponte Preta feminina no ano passado. Na atual temporada, passou a ser a casa das meninas do Palmeiras.


Fachada do Estádio Nelo Bracalente, em Vinhedo


Detalhe da arquibancada principal da bonita cancha interiorana

Já estava de olho no cronograma de partidas do alviverde esperando a chegada de uma peleja que realmente valesse a pena acompanhar. Quando a primeira fase da Série A2 nacional acabou e os confrontos foram definidos vi que era a hora de aproveitar a deixa. A ideia de ver o Porto Velho Esporte Clube, novíssimo time do Norte fundado há menos de um ano, na sua primeira visita ao estado de São Paulo pareceu uma ótima chance de colocar um novo estádio, o 198º, na Lista.

A ideia era ir de ônibus, porém de última hora pintou a chance de uma pequena e animada caravana com a presença do Renato Rocha e também do Caio Buchalla, o mago das Copas do Mundo, que foi apresentado a mim pelo próprio amigo-abelha. Pegamos a estrada cedo e fizemos um pit-stop de categoria numa loja de camisas em Campinas. Retomamos o caminho um pouco mais falidos, mas bastante felizes pelas aquisições.

Chegamos no destino final em cima da pinta e, apesar de tudo, não demorei a pisar no glorioso relvado. Deu tempo de sobra para captar as fotos oficiais das duas equipes, com destaque para o belo fardamento visitante. Falando do confronto, as palmeirenses venceram o duelo de ida por 4x0 e somente uma catástrofe as deixaria fora das quartas de final. Aliás, a campanha verde até então era belíssima: seis jogos, seis vitórias, 24 gols marcados, nenhum sofrido e a segunda melhor campanhas entre todos os participantes, atrás apenas do São Paulo.

O Porto Velho estava perto da eliminação pois nem o mais ferrenho torcedor imaginava que a equipe pudesse fazer 5x0 jogando fora de casa. Mesmo assim, o que fica é a marca da superação do elenco durante a primeira fase. A campanha começou com um 9x2 (!) sofrido contra o 3B/AM e revés em casa para o Pinheirense. A partir dali, não perderam mais. Venceram o São Raimundo/RR, o Atlético Acreano e decidiram a vaga contra o Operário/MT longe dos seus domínios. O triunfo heroico foi conquistado nos acréscimos e colocou a equipe entre as 16 melhores do certame. Só por isso elas já são vitoriosas.


Sociedade Esportiva Palmeiras (feminino) - São Paulo/SP


Porto Velho Esporte Clube (feminino) - Porto Velho/RO


Quarteto de arbitragem composto pelo árbitro Thiago Luis Scarascati, as assistentes Amanda Pinto Matias e Veridiana Contiliani Bisco e a quarta árbitra Regildenia de Holanda Moura junto com as capitãs dos times

Imaginando que somente as locais atacariam, me postei junto ao ataque verde e quando o árbitro apitou pela primeira vez na tarde, não rolou absolutamente nenhuma surpresa. O domínio do Palmeiras foi amplo, avassalador e irresistível. As esforçadas rondonienses não conseguiram criar nenhuma chance importante. Nesse cenário, o primeiro gol saiu logo aos 10 minutos com Carla Nunes. A camisa 10 recebeu um belo passe da direita, matou no peito e tocou com estilo, encobrindo a goleira Milena.

O clube paulistano enfileirou vários momentos de perigo, porém o segundo tento saiu apenas aos 29 minutos. Camila tocou na área, Bianca matou e rolou para a chegada de Marissa. A camisa 8 chutou forte no canto direito e começou a se tornar a artilheira da tarde. Aos 33, ela desperdiçou rebote da arqueira com a meta vazia. Aos 38, Carla Nunes acertou um chute na trave e aos 49 ela deu uma assistência primorosa para Thais fazer o terceiro gol. No intervalo, triunfo parcial por 3x0.


Ataque palmeirense pela esquerda no começo da partida


Visão da arquibancada oposta do Nelo Bracalente


Atletas apostando aquela corrida atrás da bola na direita


Detalhe do terceiro gol, marcado por Thaís, camisa 3


Chute de longe que passou perto do gol defendido pela arqueira Milena

Na segunda etapa ficou claro que as atletas do Porto Velho sentiram o cansaço e aí o domínio palmeirense foi ainda maior. Aos dez minutos, após cobrança de escanteio curto pela esquerda, Marissa levantou no segundo pau e encontrou Carla Nunes. A jogadora matou no peito com classe e encheu o pé, fazendo o quarto tento (foi uma das primeiras vezes que vi uma cobrança curta de escanteio dar resultado). Aos 19, Juliana recebeu um belo passe na esquerda, dominou com estilo e colocou no ângulo esquerdo de Milena. Um golaço.

Sem deixar as defensoras recuperarem o fôlego, as palmeirenses chegaram ao sexto aos 22 minutos com Maressa. A atleta recebeu bola enfiada em profundidade, ganhou da marcadora e finalizou no canto direito. Aos 26, foi a vez de Luana deixar o dela em novo lançamento longo. A camisa 11 matou na marca do pênalti e mesmo com duas zagueiras no cangote, chutou na saída da camisa 1. Não perca a conta: nesse momento o placar marcava 7x0. Aos 37 Maressa fez o terceiro da tarde completando de cabeça uma bola alçada da direita. Ela mesma fechou a contagem aos 41 minutos num lance que pareceu replay do gol anterior.


Quarto gol local marcado pela camisa 10 Carla em chute cruzado


Boa marcação de Paulinha, camisa 19 do Porto Velho, em cima de Juliana


Aqui o sexto gol, marcado pela camisa 8 Maressa


O oitavo gol foi marcado de novo por Maressa sem nenhuma marcação


Fechando o massacre, Maressa fez o nono gol, seu terceiro na tarde, e colocou o Palmeiras nas quartas da A2 feminina

No fim, o marcador terminou num inapelável Palmeiras 9-0 Porto Velho. Uma vitória com "V" maiúsculo que mostra a força das meninas alviverdes na competição. Na próxima fase, que acontece só depois da Copa do Mundo, elas pegam a Chapecoense na disputa direta pelo acesso à Série A1 em 2020. Não precisa ser um especialista para saber que elas são favoritas a isso. Mostra que o trabalho feito em Vinhedo vem dando resultado.

Pelos lados do escrete de Rondônia fica o gosto ruim da goleada sofrida mas também a certeza de que fizeram bonito e honraram o nome do estado na competição. Não é nada fácil fazer futebol feminino nesse país, logo dirigentes, comissão técnica e atletas merecem muitos aplausos. O destaque após o apito final foi o papo que eu e o Renato tivemos com a veterana Nenê. Ela fez parte da seleção brasileira nas Olimpíadas de 1996 e 2000 e abandonou a carreira em 2001. Ano passado resolveu voltar à ativa para auxiliar o Porto Velho com sua experiência. Deixo um abraço especial a ela pela simpatia e pela conversa.


A simpática Nenê, atleta do Porto Velho e veterana da seleção brasileira nos Jogos Olímpicos de 1996 e 2000

Ainda ficamos um bom tempo no gramado do Nelo Bracalente antes de pegarmos a estrada de volta à capital bandeirante. Jornadas assim que dão um tempero especial na nossa lista. Falando nisso, no final de semana não deve pintar nenhuma cobertura. Na pauta livre do JP temos um compromisso do Brasileiro sub-17 na outra quarta-feira.

Até lá!

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Ficha Técnica: Palmeiras 9-0 Porto Velho/RO

Competição: Campeonato Brasileiro Série A2; Local: Estádio Nelo Bracalente (Vinhedo); Árbitro: Thiago Luis Scarascati; Público e renda: Portões abertos; Cartões amarelos: Adriéli, Rosinha (Por); Gols: Carla Nunes 10, Maressa 29 e Thais 49 do 1º, Carla Nunes 12, Juliana 18, Maressa 22, Luana 26, Maressa 37 e 41 do 2º.
Palmeiras: Jully; Isabella (Letícia), Thais, Camila e Mônica; Nicoly (Karla), Juliana, Maressa e Carla Nunes (Samara); Bianca e Luana. Técnica: Ana Lúcia Gonçalves.
Porto Velho/RO: Milena; Adelaine, Vanda, Adriéli e Japinha; Rosinha, Laira (Paulinha), Angra (Josiane) e Monique; Flavinha e Kamila (Erika). Técnico: Reginaldo Filho.
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