quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

JP no Chile (Parte 8 de 13): Em Talca, triunfo dos Diabos Vermelhos


O dia 20 de outubro foi o último dia de descanso que tive durante a maratona de jogos que vi no Chile. Foi um dia tranquilo e absolutamente necessário pensando na segunda metade da viagem. De Concepción, local aonde acompanhei a estreia do Grupo E da Copa do Mundo sub-17 2015, me dirigi até a cidade de Talca, situada 255 quilômetros ao sul da capital Santiago, para a segunda rodada do Grupo D. Viagem de boa, com a Cordilheira dos Andes me acompanhando por todo o caminho.


Além dos outdoors... a cidade de Talca recebeu muito bem a disputa da Copa do Mundo sub-17. Foto: Fernando Martinez.

O hotel que escolhi era afastado do centro e tinha até cassino, então passei a terça-feira me sentindo o James Bond em Casino Royale. Faltou apenas o terno bem cortado, o martini batido (não mexido), a Eva Green e os milhões de dólares no bolso. Independente disso, consegui ganhar alguns pesos que me economizaram uma diária. O cenário me fez lembrar muito dos meus tempos de moleque. Tempos em que viajava até Foz do Iguaçu e ia com meus pais no cassino da então Puerto Presidente Stroessner, atual Ciudad del Este.

Não honrei tanto assim o personagem de Ian Fleming pelo fato de ter ido dormir cedo. Isso porquê na quarta-feira, 21 de outubro, era hora de mais uma rodada dupla na Copa do Mundo sub-17. Saí do hotel de táxi e não demorou muito para chegar no Estadio Bicentenario Fiscal de Talca. Construído em 1937, a cancha é casa do Club Social de Deportes Rangers, o famoso "Rangers de Talca", time que tantas vezes vi em plantões esportivos do rádio e revistas especializadas nos anos 80. A denominação incomum sempre me chamou a atenção.

Diferente do majestoso Estadio Municipal de Collao em Concepción, o Estádio Fiscal é bem tímido e, embora remodelado, não me deixou uma belíssima impressão. A capacidade é de apenas 16 mil torcedores (embora eu ache que não cabe nem a metade disso). As arquibancadas são pequenas e o acesso, pelo menos na parte descoberta, chega a ser tosco de tão simples. Ali tem um imenso terreno de terra, todo descampado e com uma casa (!) construída no meio. Sim, uma casa dentro de um estádio de futebol, um lance inimaginável, ainda mais num torneio oficial da FIFA. 


Detalhe de uma das entradas da cancha chilena. Foto: Fernando Martinez.


Visão geral do Estadio Fiscal de Talca. Se bobear o Nicolau Alayon é maior do que a casa do Rangers. Foto: Fernando Martinez.


A genial casa (!) construída dentro das dependências do Estadio Fiscal de Talca. Surreal demais. Foto: Fernando Martinez.

Isso não fez a jornada ser ruim, pelo contrário. O que complicou de verdade foi o sol na cara durante todo o duelo entre Bélgica e Honduras, abrindo a segunda rodada da chave. Achei que estava frio como dois dias antes e me dei mal, pelo menos nesse encontro de duas seleções que já estavam na Lista desde a Copa do Mundo. Na primeira rodada da competição, os Diabos empataram com Mali sem gols e os centro-americanos foram derrotados pelo Equador por 3x1, se tornando lanternas do grupo. Essa foi a segunda participação belga no certame e a quarta hondurenha.


Seleções perfiladas antes do confronto válido pelo Grupo D do Mundial. Foto: Fernando Martinez.

Um público total de 4,721 pessoas viu o selecionado europeu começar melhor e dominar a peleja em boa parte do primeiro tempo. Aos 10 minutos aconteceu a primeira chance quando Laurent Lemoine tocou para Matthias Verreth. O camisa 18 chutou da entrada da área, com curva, direto na trave esquerda do goleiro. O camisa 1 Michel Perello nem se mexeu. Aos 21, numa falta pela direita, a bola foi levantada, escorada pro meio da área e sobrou pro camisa 19 Jorn Vancamp. Ele matou, tirou do zagueiro e chutou no canto esquerdo para inaugurar o placar.

Três minutos depois, num chute forte da intermediária de Vuelto, camisa 9 centro-americano, e que tinha endereço certo, o goleiro belga Jens Teunckens fez belíssima defesa e mandou pela linha de fundo. A molecada da terra do Tintin retomou as rédeas após esse lance, porém mesmo com as oportunidades criadas, não conseguiu ampliar sua vantagem parcial. No intervalo, o belo placar eletrônico do Estadio Fiscal de Talca mostrava o placar de Bélgica 1-0 Honduras.


O camisa 8 da Bélgica, Dante Rigo, cabeceando a pelota sob o olhar atento de dois atletas hondurenhos. Foto: Fernando Martinez.


Ataque belga pela lateral direita do gramado. Foto: Fernando Martinez.


Bola alçada na área de Honduras e Michael Perello saindo para fazer a defesa. Foto: Fernando Martinez.


Mathias Verreth cruzando com a marcação de Denil Maldonado. Foto: Fernando Martinez.

No tempo final os queridos hondurenhos retornaram com o ânimo redobrado e logo aos quatro minutos deixaram tudo igual. Num ataque que parecia inofensivo, a bola foi rolada na esquerda para Jafeth Leiva. Com a marcação distante, o camisa 10 arriscou. O chute cruzado bateu na trave esquerda e morreu no fundo do gol de Teunckens. O camisa 1 mandou aquele famoso golpe de vista de forma bisonha e se deu mal. Na sequência quase a virada azul. Numa bola enfiada na área, o zagueiro deixou pro goleiro e este deixou pro zagueiro. O camisa 9 Vuelto tocou entre os dois e a pelota tirou tinta da trave.

Aos poucos a Bélgica foi retomando seu melhor futebol, mas ainda assim Honduras estava bem postada no gramado. Vimos chances dos dois lados, só que aos 33 os europeus voltaram a ficar em vantagem. Os vermelhos tiveram nova falta marcada pela direita, quase em cima da linha de fundo. A bola foi cruzada, passou pelos defensores adversários, bateu no goleiro e sobrou pro camisa 8 Dante Rigo, que tocou na boa e fez o segundo. Pouco depois, aos 42, quase o terceiro. Numa cobrança de falta primorosa de Rigo, o arqueiro centro-americano fez uma das defesas mais difíceis dos últimos tempos, evitando o tento que parecia certo. No escanteio que se seguiu, Janssens cabeceou na trave.


Dante Rigo arriscando de longe. Foto: Fernando Martinez.


Investida centro-americana no tempo final... pena que David Sanchez estava impedido. Foto: Fernando Martinez.


Visão bucólica atrás de um dos gols do Estadio Fiscal de Talca. Foto: Fernando Martinez.


Lance de perigo dentro da área de Honduras. Foto: Fernando Martinez.

O placar final de Bélgica 2-1 Honduras eliminou o alvi-azul da América Central e deixou os Diabos Vermelhos em cômoda situação, pois, dependendo de uma combinação de resultados, poderiam até perder na rodada derradeira que estariam entre os classificados. E foi exatamente isso que aconteceu, pois mesmo tomando 2x0 do Equador no último confronto da chave, se garantiram nas oitavas. No fim, eles terminaram o certame na inédita terceira colocação.

Depois da preliminar era a hora de colocar mais uma seleção na Lista. Uma daquelas que certamente serão um "super trunfo" durante muito tempo.

Até lá

Fernando

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