segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

JP no Chile (Parte 13 de 13): A despedida com Unión Española x O'Higgins


O ano é 1994. O São Paulo era bi-campeão da Libertadores e tentava o tri. No dia 3 de agosto daquele ano, uma semana depois de empatar fora de casa na ida das quartas-de-final, o tricolor recebeu o genial Unión Española no Morumbi buscando uma vaga na semi. Pensando em encher a sua casa, a diretoria colocou o ingresso a R$ 2 e, mesmo não torcendo pro time, marquei de ir no jogo com os amigos que estudavam comigo pelo passeio e também por ser um time com um nome muito legal.

Debaixo de muita chuva, mais de 85 mil pessoas também tiveram a mesma ideia que eu. Resultado: uma muvuca absurda e boa parte dos presentes não conseguiu sequer alcançar as bilheterias. Cerca de 15 mil azarados, eu incluído, não conseguiram entrar. Fiquei bem chateado, primeiro pelo perrengue em vão e depois por ter perdido a chance de ver os chilenos ao vivo. Foi a última apresentação do clube da capital na capital bandeirante.

Corta a cena. Volta para 2015.

O dia 24 de outubro amanheceu nublado em Santiago. Me restavam poucas horas na capital chilena e queria aproveitar ao máximo os últimos momentos da viagem mágica e misteriosa. Acordei cedo e fui num hiper mercado próximo ao hostel em que estava fazer uma compra substancial de itens que não existem em São Paulo, mandando brasa naquela muamba marota de salgadinhos, doces e refrigerantes.

Pelo cronograma original essa seria a minha última atividade na cidade, porém tudo mudou dias antes quando divulgaram os horários da 10ª rodada do Torneo Apertura do Campeonato Nacional de Primera División, Abrindo a jornada, o já citado Unión Española e o genial O'Higgins de Rancágua jogariam no Estadio Santa Laura-Universidad SEK com pontapé inicial marcado para 12h30. Como meu voo decolaria somente às 18h00, dava tempo suficiente de assistir meu 13º e último jogo da turnê. Após 21 anos, tiraria uma grande pedra do meu sapato em grande estilo.

Os "Rojos de Santa Laura" foram fundados por um grupo de espanhóis residentes no país e também de descendentes ibéricos com o nome de Centro Español de Instrucción y Recreación em 18 de maio de 1897. Foi refundado oficialmente em 12 de abril de 1934 com a fusão com a Unión Deportiva Española, passando a se chamar apenas Unión Española. Em 2008 se tornaram um clube empresa com a denominação de Unión Española S.A.D.P.. A equipe tem os títulos nacionais de 1943, 1951, 1973, 1975, 1977, Apertura-2005 e o Torneo Transición 2013. É o segundo com maior número participações na elite além de ser o quinto maior campeão nacional. Vale também dizer que é um dos únicos quatro escretes do Chile (sim, é surreal pensar isso) que possuem estádio particular. Os outros são o Colo-Colo, Huachipato e Universidad Católica.

Para deixar o cenário ainda mais legal, do outro lado estava o Club Deportivo O'Higgins. Quando comecei a acompanhar futebol nos anos 80, o clube da cidade de Rancágua disputou suas primeiras Libertadores (precisamente em 1979, 1980 e 1984), então o nome diferente me chamou bastante a atenção. Fundado em 1955 depois da fusão do América com o O'Higgins Braden eles nunca foram grandes, mas praticamente sempre fizeram parte da divisão principal. O único título nacional foi o Torneio Apertura de 2013. O nome, claro, vem do "Pai da Pátria" do país, Bernardo O'Higgins.

Empacotei tudo direitinho antes de seguir até a cancha mais antigo de Santiago pois sabia que não teria tempo a perder. Fui até a estação Einstein, da Linha 2 do metrô, e dali segui a pé por quase dois quilômetros pela avenida de mesmo nome. Até 2009 ele se chamava apenas Estadio Santa Laura. O nome atual foi adotado a partir do momento que a Universidad SEK Chile, uma faculdade particular, recebeu a concessão do complexo pelos 30 anos seguintes. A ideia é a remodelação completa de tudo.


Avenida Eistein, que nos leva do metrô ao Estadio Santa Laura-Universidad SEK. Foto: Fernando Martinez.


A fachada da sede do Santiago Morning, clube que fica praticamente no mesmo quarteirão do Santa Clara. Foto: Fernando Martinez.

O local começou a ser construído em 1922 e foi inaugurado em 10 de maio do ano seguinte com a partida Unión Deportiva Española 0-1 Audax Italiano, um dérbi que reuniu os dois maiores rivais. Em 1933, o Santa Laura foi palco da primeira peleja profissional da história do país: Audax Italiano 3-1 Morning Star. A capacidade atual de público é de 19 mil torcedores, e tirando a parte coberta, os outros três lances de arquibancadas são aqueles famosos tubulares que tanto conhecemos por aqui.


No alto da arquibancada, o nome da cancha desde 2009. Foto: Fernando Martinez.


Visão aérea da bela casa do clube de Santiago. Foto: Fernando Martinez.



As duas torcidas marcando presença para a peleja do Campeonato Chileno da primeira divisão. Fotos: Fernando Martinez.

Assim como em todos os cotejos que vejo em lugares inéditos, fiquei um tempão andando pelas dependências do complexo assimilando a energia. Quando finalmente entrei no estádio em si, me chamou muito a atenção o enorme placar eletrônico. Tudo bem que ele fica num local não muito estratégico, mas impressiona do mesmo jeito. Como tem grade em tudo que é canto, fui lá pro alto para conseguir captar alguns instantâneos com mais qualidade. A visão lá de cima é esplêndida.

Apenas 2.060 pagantes acompanharam o duelo do oitavo contra o sexto colocado do Apertura 2015. Só que a rapaziada que marcou presença viu um jogo bom, principalmente no primeiro tempo. Os dois técnicos colocaram seus times atuando de forma bem ofensiva e em quinze minutos quatro bons momentos já tinham sido criados, dois de cada lado. Os dois primeiros foram dos mandantes respectivamente com Sergio López e Nicolás Berardo no primeiro minuto e aos cinco.


Ataque do Unión no comecinho da peleja contra o O'Higgins. Foto: Fernando Martinez.

O O'Higgins respondeu à altura aos seis e aos sete minutos com as finalizações de Gastón Lezcano e Ramón Fernández, este em chute que a zaga desviou. A equipe visitante não se intimidou com o fato de estar fora de casa e abriu o placar aos 25 minutos. Gastón Lezcano recebeu com passe de Juan Antonio Zuñiga e chutou de direita no canto do camisa 13 (!) Diego Sánchez. Quatro minutos depois Pablo Calandria teve a chance de ampliar, sem sucesso.


Boa chegada do time de Rancágua. Foto: Fernando Martinez.


Ataque local pela direita. Foto: Fernando Martinez.

Aos 31, a hinchada local fez a festa pois o Unión Española deixou tudo igual. Nicolás Berardo aproveitou assistência de Carlos Salom e chutou cruzado de direita, vencendo Roberto González. O que complicou a reação dos Rojos foi a expulsão de Gabriel Sandoval pelo segundo amarelo aos 35 (detalhe: o primeiro amarelo ele recebeu por uma falta dura feita logo aos dois minutos). Estar com um a mais fez o técnico do O'Higgins, Pablo Sanchez, promover mudanças ofensivas pro tempo final.


Zagueiro do O'Higgins fazendo o corte dentro da área. Foto: Fernando Martinez.


Bola que tirou tinta da trave do arqueiro local em cobrança de falta no segundo tempo. Foto: Fernando Martinez.

Aos 10 minutos Oscar Hernández cometeu pênalti e os visitantes tiveram a chance de ouro de virarem o marcador. Miseravelmente Ramón Fernandez bateu mal e mandou a bola pra fora. Os rancagüinos continuaram melhores e a zaga do Unión Espãnola não conseguia acompanhar os avantes adversários. Somente nos minutos finais que os hispanos chegaram perto do segundo com investidas de Carlos Salom e Fabián Saavedra.


Chance clara de gol perdida pelo Unión Española. Foto: Fernando Martinez.


O O'Higgins foi bastante perigoso nas suas investidas no tempo final. Foto: Fernando Martinez.

Quando parecia que a sorte estava definida, aos 46 minutos o Capo de Provincia chegou à virada, para delírio dos adeptos da Trinchera Celeste. Gastón Lezcano deu um belo passe para Emilio Zelaya e o camisa 8, que tinha entrado no tempo final, chutou no meio do gol. Diego Sánchez não foi capaz de defender. Os locais até tentaram assustar no pouco tempo que lhes restava, porém a peleja acabou em Unión Española 1-2 O'Higgins.


Mais um bom momento ofensivo do onze visitante. Foto: Fernando Martinez.


Placar final do meu último jogo da Magical Mystery Tour pelo Chile. Foto: Fernando Martinez.

A derrota manteve os hispanos com 14 pontos na nona colocação do Apertura. O onze de Rancágua subiu aos 19 pontos, dois atrás do líder, na quarta posição. Ao final do campeonato o Unión foi sexto e o O'Higgins o sétimo, ambos muito perto de conseguirem vaga na Liguilla que definiu uma das vagas para a Sul-Americana de 2016. O campeão foi o Colo-Colo, que ficou um ponto à frente do vice Universidad Católica.

Saí da cancha do Unión rapidinho e fiz o caminho de volta sem problemas. Só parei no hostel, peguei minhas coisas e fui de táxi pro Aeroporto Internacional Comodoro Arturo Merino Benítez. Os procedimentos antes da viagem foram feitos e fui comer algo antes de entrar no belo aeroplano. Foi muito legal ver os Andes pelo alto pela primeira vez (na viagem de ida não estava na janela) e me impressionar com a extensão da cordilheira. Inevitável fazer referência ao filme "Vivos" durante todo o tempo, óbvio. Cheguei em São Paulo na noite de sábado já com saudade do Chile.

Não sabia muito o que esperar nessa grande jornada, e no fim fiquei muito feliz por tudo que consegui fazer. Depois de nove dias, quatro cidades visitadas, treze partidas e muitos quilômetros percorridos encerrei minha grande Magical Mystery Tour com o sentimento de dever cumprido. Também pensando que em breve pode rolar outra num destino que, se não é inédito, respira futebol como poucos lugares no mundo.

Espero que tenham gostado dessa série de posts... Até a próxima!

Fernando

sábado, 26 de dezembro de 2015

JP no Chile (Parte 12 de 13): Antológica virada chilena e vaga garantida


Depois da vitória do Brasil em cima da Guiné e da classificação verde e amarela na Copa do Mundo sub-17, o Chile entrou em campo para decidir seu futuro contra os Estados Unidos na derradeira partida do Grupo A. O palco foi o lotado Estadio Sausalito em Viña del Mar, que recebeu 19.321 torcedores confiando na primeira vitória no certame. Se a cancha já estava belíssima de dia, com os refletores ligados ela ficou sensacional. Felicidade total por estar ali naquele momento.

As duas seleções chegaram ao último duelo da primeira fase precisando vencer, se possível por uma boa margem de gols. Você viu aqui no JP que o escrete sul americano empatou com a Croácia na estreia da Copa jogando no espetacular Estadio Nacional de Santiago. Já na segunda apresentação, uma surra aplicada pela Nigéria: 5x1. O time da terra do Tio Sam perdeu seu primeiro jogo contra os africanos, também com cobertura do blog, e ficou no empate contra a Croácia.


Visão geral de um Sausalito já com um ótimo público para a decisão da vaga. Foto: Fernando Martinez.


Seleções perfiladas para a execução dos hinos nacionais. Foto: Fernando Martinez.

Espremido entre a turba alucinada vi mais uma vez a incrível execução do Hino Nacional do país numa versão acapella, com todos os presentes cantando a bela canção a plenos pulmões, assim como aconteceu na abertura da Copa. A torcida esbanjava otimismo, só que a primeira festa da noite foi do selecionado ianque. O camisa 8 Luca de la Torre tentou tocar a bola na esquerda, mas no meio do caminho ela bateu num defensor chileno e sobrou para Brandon Vazquez. Ele entrou na área e bateu na saída de Zacarias Lopez, abrindo o marcador aos 10 do tempo inicial.


Zaga dos Estados Unidos cortando ataque chileno. Foto: Fernando Martinez.

Os presentes não interromperam a cantoria mesmo com a desvantagem. Aos 18 quase aconteceu o empate num chute de Manuel Reyes que passou perto da trave direita. Dois minutos depois a massa foi recompensada com o tento local numa jogada toda bizarra e de raça do camisa 10 Marcelo Allende. Ele tentou uma vez, a zaga tirou e no rebote ele chutou do jeito que dava. A pelota desviou de leve em Danny Barbir, bateu na trave e foi morrer dentro da rede. A tradicional cancha quase veio abaixo com a comemoração.


Cabeçada de Danny Barbir, camisa 15 norte-americano. Foto: Fernando Martinez.

A peleja seguiu em absoluto equilíbrio depois do 1x1. Os Rojos tinham mais iniciativa, porém os Estados Unidos também eram perigosos. Numa escapada perigosa aos 37, quase os norte-americanos passam de novo à frente. O camisa 10 Christian Pulisic invadiu a área pela esquerda e chutou cruzado. O arqueiro fez uma defesa difícil, mandando a pelota pela linha do fundo. Aos 41 foi a vez do Chile assustar de novo com o arqueiro visitante defendendo bem um chute de Manuel Reyes no meio do gol.


A comemoração dos atletas ianques pelo gol marcado aos 10 do primeiro tempo. Foto: Fernando Martinez.

O ambiente no Sausalito era eletrizante. Nem no intervalo a torcida parou de cantar. Talvez empurrada pela energia positiva vinda das arquibancadas, os andinos retornaram ao gramado à milhão e os ianques, que foram bem na etapa inicial, não viram a cor da bola durante a maior parte do segundo período. Aos três minutos, Ignacio Saavedra quase vira o placar num chute de longe que passou perto da meta.


Chile saindo pro ataque em busca da virada. Foto: Fernando Martinez.

O gol da virada era questão de tempo e ele saiu aos sete minutos, fruto de um lance de absoluta raça. Gabriel Manzuela foi lançado dentro da pequena área e dividiu com o goleiro Will Pulisic. O camisa 1 bateu roupa e a pelota sobrou de novo pro camisa 9. Ele se levantou e, sem ângulo, tocou cruzado no canto esquerdo. Tantas pessoas me abraçaram na comemoração que virei chileno por alguns minutos. Aquele tipo de coisa que faz o futebol ser o esporte fascinante que é.


Joe Gallardo e Fabian Monilla apostando corrida no gramado do Sausalito. Foto: Fernando Martinez.

A virada não sossegou os locais. Dos 10 aos 23 minutos eles emendaram seis (!) momentos perigosos. Luciano, Diaz, Yerko Leiva, Gabriel Mazuela, Marcelo Allende, Eric Calvillo e Ignacio Saavedra foram os responsáveis pelas oportunidades. Seis atletas, cada um criando uma boa chance cada, mostrando como toda a seleção estava bem. Depois dos 25, os norte-americanos conseguiram colocar a cabeça no lugar e passaram a se aventurar timidamente pelo campo de ataque. Apesar da animação geral, pintou uma óbvia preocupação, já que o empate eliminaria os sul-americanos.


O arqueiro Will Pusilic saindo da sua meta para cortar cruzamento. Foto: Fernando Martinez.

Aos 26, 32 e 35 minutos a rapaziada do norte da América deixou o Sausalito em inédito silêncio em três ataques importantes. Primeiro com Hugo Arellano, depois com Christian Pulisic obrigando Zacarías López e fazer grande defesa e por fim uma conclusão de Eric Calvillo que passou perto. Para alívio da torcida, da comissão técnica e de todos os aspones presentes na cancha em Viña del Mar, aos 41 saiu o terceiro. Gonzalo Jara, que entrou no tempo final, recebeu na entrada da área, cortou o zagueiro e tocou com uma curva espetacular no ângulo direito do camisa 1. Uma pintura de gol.


Simpático cachorro que ficou perambulando pelo estádio, também torcendo muito para o Chile. Foto: Fernando Martinez.

Claro que os visitantes sentiram o golpe e, jogando com uma facilidade incrível, o escrete rojo fechou a fatura aos 48 minutos num gol típico de video-game. Manzuela avançou pela direita e tocou pro meio da área. O camisa 13 Camilo Moya surgiu livre e chutou no canto direito, longe do alcance do guarda-metas. Clima de apoteose completa e definitiva no Estadio Sausalito.


Bola viajando dentro da área local no fim do jogo. Foto: Fernando Martinez.

O placar final de Estados Unidos 1-4 Chile foi suficiente para a classificação, mas não como segundo colocado do Grupo A por conta da inesperada vitória da Croácia em cima da favorita Nigéria. La Roja foi para as oitavas como a melhor terceira colocada e acabou sendo eliminada depois de tomar um 4x1 contra o México. Os discípulos do Tio Sam foram eliminados na primeira fase pela primeira vez desde o mundial de Trinidad & Tobago em 2001.

Depois de acompanhar treze partidas da Copa do Mundo do ano passado, foi genial ver outro um torneio da FIFA pouco tempo depois. Foram oito jogos com quatro rodadas duplas em quatro cidades diferentes e mais de 1.200 quilômetros percorridos dentro do país. Não imaginava que fosse capaz de fazer algo assim um dia e a sensação que ficou foi de felicidade total. Se pintar algum novo Mundial perto de casa, vamos ver se rola repetir a dose.


Na Rodoviária de Sausalito o pessoal estava ligado em tudo que acontecia no estádio perto dali. Foto: Fernando Martinez.

Saí do Sausalito sabendo que voltar ali alguma vez será bem difícil, então ainda fiquei alguns minutos admirando a beleza do lugar. Já sob a luz artificial peguei o caminho de volta, agora felizmente na descida, até a rodoviária de Viña del Mar para pegar o último ônibus com destino a Santiago. Além de mim, apenas quatro pessoas estavam no coletivo. Pena que entre elas, um casal de peruanos com uma caixa de som tocando uma música chatíssima num volume bem alto. Como se não bastasse, eles brigaram durante boa parte da viagem.

Cheguei na capital bem tarde e, como na noite anterior, fiz uma boquinha no boteco do lado do hostel em que estava. Foi a minha última noite em território chileno, já que retornaria ao Brasil na tarde do sábado. Mas não foi a minha despedida futebolística, pois na manhã do dia 24 deu tempo de fazer a minha estreia num cotejo do campeonato nacional.

Até lá!

Fernando
© 2019

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

JP no Chile (Parte 11 de 13): No histórico Estádio Sausalito em Viña del Mar


O dia 23 de outubro, penúltimo da minha viagem mágica e misteriosa pelo Chile, reservou um dos momentos mais especiais da minha carreira futebolística. Esperava com ansiedade por dois jogos decisivos nos Grupos A e B da Copa do Mundo sub-17 por vários fatores. O primeiro deles pois era a minha última viagem dentro do país sul-americano, a quarta em cinco dias. Depois, a genialidade dos duelos, a chance de colocar uma equipe nova na Lista e a presença num local com enorme carga histórica pro futebol penta-campeão do mundo. A parada final era Viña del Mar, cidade localizada a cerca de 120 quilômetros da capital Santiago.

Saí do meu hotel por volta do meio-dia e exatamente uma hora depois estava num coletivo tendo como destino o município fundado em 1878. Foram duas horas de uma viagem tranquila e com uma paisagem de primavera sensacional. Os Andes das minhas viagens anteriores deram lugar a um cenário repleto de flores e um céu super azul. Às três da tarde já me encontrava na rodoviária da cidade de pouco mais de 300 mil habitantes. Por ser uma tarde de sexta-feira as ruas estavam cheias e, como sempre, foi genial sentir o dia-a-dia em outra realidade.


O céu estava maravilhoso no caminho entre Santiago e Viña del Mar. Esta foi a vista de toda a viagem. Foto: Fernando Martinez.

Desde que a tabela do mundial saiu, fiquei com a ideia fixa de acompanhar uma rodada no emblemático Estádio Sausalito, casa do Brasil no bi-campeonato de 1962. Cresci vendo as imagens do Garrincha correndo atrás do cachorro contra a Inglaterra, do pênalti de Nílton Santos não marcado contra a Espanha, da contusão de Pelé contra a Tchecoslováquia e não queria perder a chance de me fazer presente nessa cancha repleta de mística e simbolismo para o futebol tupiniquim.

Por conta de estar adiantado no horário e de também querer curtir a cidade, não peguei um táxi e decidi percorrer o caminho a pé. Percorri os 3,5 quilômetros (em subida) sem pressa, curtindo o passeio pelas belas ruas da região. O campo fica situado em uma bela área verde e foi construído ao lado da Lagoa Sausalito, detalhe que torna a paisagem do complexo simplesmente incrível e única. Logo que cheguei troquei meu ingresso, passei pelos portões monumentais e fui dar uma volta.


Detalhe da enorme entrada da torcida no Sausalito. Foto: Fernando Martinez.


Fachada do Sausalito, cancha de várias lembranças histórias para o futebol brasileiro. Foto: Fernando Martinez.


A bela Lagoa Sausalito, que fica do lado do estádio. Foto: Fernando Martinez.

O local tinha a presença de quase ninguém quando cheguei na arquibancada e assim pude ter a visão completa da casa do Everton. Confesso que foram poucas as vezes na minha vida que me emocionei de uma forma tão intensa ao entrar num estádio. Fiquei alguns minutos apenas assimilando toda a energia do lugar e foi inevitável derramar algumas lágrimas felizes por estar ali. Aproveitei a sensação de alegria e compartilhei o momento fazendo aquele contato telefônico com o decano Milton Haddad. Ele com certeza teria sentido a mesma coisa.

O Sausalito foi inaugurado em 1929 com um jogo entre Santiago Wanderers e Unión Española. Em 1962 chegou ao seu maior momento quando sediou o Grupo C da Copa do Mundo com Brasil, México, Tchecoslováquia e Espanha. Depois recebeu o duelo de Garrincha e companhia contra a Inglaterra nas quartas e a semi entre tchecos e iugoslavos. O selecionado penta campeão do mundo também ficou lá na Copa América de 1991 junto com Colômbia, Uruguai, Equador e Bolívia. Em 2010 parte do local foi destruída num terremoto e em 2012 foram anunciadas as obras de revitalização. Também receberam três pelejas da Copa América no último mês de junho.


Visão da parte coberta do Sausalito sob o maravilhoso céu da primavera chilena. Foto: Fernando Martinez.


Agora a visão da arquibancada oposta do belíssimo estádio de Viña del Mar. Foto: Fernando Martinez.

Com todo o lance histórico na mente fui para a arquibancada achar meu lugar. Ainda com poucos torcedores presentes, resolvi ficar na primeira fileira, bem na beira do campo e acompanhar o ataque brasileiro de perto. Já estou acostumado a ver jogos bem próximo da ação, mas foi a primeira que fiz isso num torneio da FIFA (na Copa fiquei perto, mas não tanto) e a experiência foi espetacular. A jornada que iniciou os trabalhos foi uma das que definiu a situação do Grupo B da Copa do Mundo sub-17. Tudo bem que era um time juvenil, mas foi absolutamente genial ver a seleção penta-campeã mundial com seu uniforme tradicional no relvado. O adversário do onze verde e amarelo, e um dos motivos da minha presença, foi a genial seleção de Guiné e seu maravilhoso uniforme.

Nas duas rodadas iniciais da chave o escrete canarinho perdeu da Coreia do Sul de forma surpreendente e depois se recuperou e venceu a Inglaterra. Os guieanos empataram com os ingleses e também foram derrotados pelos asiáticos. A rapaziada tupiniquim tinha que vencer para não depender dos resultados dos outros grupos. Já a rapaziada da Guiné precisava conquistar os três pontos e um empate significaria a eliminação na primeira fase.


Seleções perfiladas para a execução dos hinos nacionais. Foto: Fernando Martinez.



Foto posada do Brasil e de Guiné, estes num estilo absolutamente genial. O ângulo não é muito favorável, mas vale o registro. Fotos: Fernando Martinez.

Falando da parte histórica, o Brasil joga o torneio pela 15ª vez, tendo ficado de fora somente de uma edição - 1993 - desde a criação da competição em 1985. Fomos campeões em 1997, 1999 e 2003, vice em 1995 e 2005, terceiro colocado em 1985 e quarto em 2011. Apenas os nigerianos ganham no retrospecto. Guiné participa do seu quarto mundial e tem como melhor colocação um quarto lugar na primeira edição. Desde já é um dos times mais legais e raros a fazer parte da minha Lista.

No sol a temperatura estava alta, mas felizmente na sombra o vento frio cortava a alma. Nesse clima delicioso acompanhei o aquecimento das duas seleções e a entrada oficial em campo. Pela primeira vez ouvi o Hino Nacional fora do país e, mesmo sem ligar muito, foi emocionante também por todo o contexto escutá-lo sob essa nova perspectiva. Alguns chilenos vaiaram o hino e eu, dentro de um patriotismo inédito, quase descolei um incidente diplomático com os figuras. Desrespeito não, pô.

Quando o árbitro alemão Deniz Aytekin apitou pela primeira vez no Sausalito ficou claro que o Brasil não queria dar sopa pro azar e a molecada começou com tudo infernizando a zaga da Guiné. Aos 15 minutos Leandro recebeu bola lançada pela direita e o goleiro africano o derrubou dentro da área. Pênalti. Lincoln bateu bem e abriu o marcador. Pouco depois a pelota foi lançada na esquerda de novo para Leandro. O camisa 7 entrou na área e tocou por cobertura. A finalização saiu pela linha de fundo, tirando tinta da trave.


Yamadou Touré, 14 da Guiné, dominando a pelota sob o atento olhar de Éder Militão e Rogério. Foto: Fernando Martinez.


Leandro em chegada pela direita. Na sua marcação, o capitão Mohamed Kourouma. Foto: Fernando Martinez.

Só dava o escrete canarinho e aos 32 minutos, numa tentativa de jogada individual, Kleber sofreu falta na direita. Lincoln cobrou a falta milimetricamente na cabeça de Leandro, de novo ele, que fez o segundo. A zaga de Guiné parou pedindo impedimento, porém um dos zagueiros comeu mosca e deu plenas condições. Com os 2x0 contra, os africanos viram que a vaca estava indo pro brejo e tentaram emplacar algum bom ataque tentando diminuir o prejuízo. Num dos últimos ataques eles foram prejudicados pelo senhor juiz. Jules Keita avançou pela direita e foi derrubado pelo camisa 6 Rogério dentro da área. Pênalti não marcado.


Aboubacar Touré fazendo o desarme em cima do camisa 9 Luís Henrique. Foto: Fernando Martinez.

Quando os times estavam saindo do gramado em direção aos vestiários Lincoln foi juvenil no pior sentido da palavra e se envolveu numa discussão desnecessária com Morlaye Sylla, camisa 7 de Guiné. O jogador tupiniquim deu um empurrão no africano e conseguiu a proeza de ser expulso sem a bola rolando. Tudo bem que o escrete africano não era nenhuma Brastemp, mas a chance de termos problemas com dez em campo no tempo final era grande.


Boa chegada de Luís Henrique pela esquerda. Foto: Fernando Martinez.


Mohamed Kourouma se preparando para mandar a bola longe do seu campo de defesa com o camisa 19 Arthur na cola. Foto: Fernando Martinez.

No intervalo continuei com minha missão de exploração do estádio e fui fazer uma boquinha numa lanchonete. Pro segundo tempo resolvi subir até o alto da arquibancada e ali fiquei até o final da jornada. O primeiro lance perigoso dos últimos 45 minutos foi do onze africano. O camisa 17 Aboubacar Toure avançou pela esquerda e chutou firme. O goleiro Juliano fez brilhante defesa e impediu o primeiro gol adversário. Guiné tentava se aproveitar da vantagem numérica, só que a limitação técnica do grupo deixou a reação apenas no sonho.


Ataque da Guiné no tempo final com direito a poses plásticas dos atletas da duas seleções. Foto: Fernando Martinez.


Detalhe, meio de lado, do placar eletrônico do Estadio Sausalito. Foto: Fernando Martinez.

Os sul-americanos apostavam nos contra-ataques e num deles, aos 22 minutos, a fatura foi fechada com sucesso. Num ataque pela direita de Dodô, a bola foi cruzada pro meio da área. Aboubacar Toure e o goleiro Moussa Camara deixaram a pelota passar e ela sobrou para Arthur, que, com o gol aberto, fez o terceiro, A Guiné fez o gol de honra aos 38. A bola foi tocada da esquerda pro camisa 7 Morlaye Sylla na entrada da área. Ele se aproveitou e chutou com classe no canto esquerdo de Juliano... pena (para eles) que tarde demais.


Seleção brasileira atacando pela direita. Foto: Fernando Martinez.


Bola no fundo das redes de Juliano no único gol de Guiné. Foto: Fernando Martinez.


O colorido das camisas deu um contraste sensacional à partida. Foto: Fernando Martinez.

O placar final de Guiné 1-3 Brasil classificou os canarinhos como segundos colocados do Grupo B, atrás da surpreendente Coreia do Sul. Os coreanos foram eliminados pela Bélgica nas oitavas-de-final, enquanto o Brasil, depois de derrotar a Nova Zelândia, tomou 3x0 da futura campeã Nigéria nas quartas, repetindo a eliminação de dois anos atrás no mundial dos Emirados Árabes Unidos. Já faz um tempo que a rapaziada daqui não faz uma campanha digna de registro.

Quando a preliminar terminou o Sausalito já estava tomado pelos torcedores chilenos. A peleja de fundo foi decisiva para a continuidade dos donos da casa na Copa do Mundo sub-17. Foi uma sessão futebolística de arrepiar.

Até lá!

Fernando

© 2019

domingo, 20 de dezembro de 2015

JP no Chile (Parte 10 de 13): A visita ao Monumental David Arellano


Seguindo com o genial cronograma da minha viagem pro Chile, acordei na manhã de 22 de outubro botando o pé na estrada pela terceira vez em quatro dias pois o show não podia parar. Saí do genial hotel cassino em que me hospedei em Talca e pouco tempo depois cheguei na humilde e simpática rodoviária da cidade. Dali, segui cerca de 250 quilômetros até Santiago, o meu retorno à capital do país depois de pouco mais de 72 horas de ausência.


A pequena e simpática rodoviária de Talca. Foto: Fernando Martinez.

Dessa vez não fiquei no magnífico hotel ao lado do Palácio de La Moneda e sim num hostel distante do centro. Bem menor, ele era todo estiloso, só que eu senti saudade dos meus primeiros dias em Santiago. A cama era boa, o chuveiro bem honesto, porém não tinha vista (fiquei no térreo e a janela/porta dava acesso apenas a uma área comum do local) e era longe de tudo. Como o esquema é tudo pelo social, consegui curtir mesmo assim. Nem bem cheguei e só deu tempo de deixar as malas antes de partir pro décimo jogo na turnê.

Peguei o metrô e desci na Estação Pedrero, que fica entre a San Joaquín e a Mirador, todas da Linha 5. A 600 metros dali, temos a entrada do genial Estadio Monumental, também conhecido como Estadio Monumental David Arellano. A belíssima cancha é casa do Club Social y Deportivo Colo-Colo, figurinha carimbada de competições sul-americanas desde sempre. Na noite daquela quinta-feira o onze local duelaria contra o genial Club de Deportes Copiapó no duelo de volta das quartas de final da Copa Chile.


Parece imagem daqueles quebra-cabeças de 5 mil peças, mas é apenas a visão de quando estamos chegando no Monumental David Arellano. Foto: Fernando Martinez.

Todo mundo conhece o campeão da Libertadores de 1991. Mas poucos já ouviram falar no escrete visitante, que tem sede na região do Deserto do Atacama. A equipe foi fundada em 1999 e nunca participou da primeira divisão local, tendo como único título a terceira divisão de 2002 . Eles entraram para a história por terem sido a primeira sociedade anônima fundada no Chile. São os sucessores do Club de Deportes Regional Atacama. O DRA disputou o profissionalismo de 1980 a 1998 e quebrou por conta de dívidas.

O "pequeno" detalhe é que eu não tinha ingresso. Fiquei sabendo no caminho que, assim como alguns grandes do Brasil, eles não vendem entradas no dia dos jogos e encerram a venda sempre horas antes via internet. Não quis voltar pro hotel e perder a chance de colocar um time tão genial na minha Lista, então me mantive firme e forte na base da teimosia. Fui num portão, depois em outro, e nada de encontrar alguém vendendo um mísero ingresso.

Ainda levou um tempo para encontrar um cambista metido a Gardelón que fez um preço camarada - paguei menos do que o valor facial pois o jogo estava prestes a começar - sabendo que eu era brasileiro. Só fiquei preocupado com a chance do ingresso ser falso, porém quando passei pela catraca felizmente tudo deu certo. Em tempo: não gosto de cambistas, mas numa situação extrema como essa não me restou alternativa. Como os clubes não pensam na hipótese de ter alguém visitando o estádio só naquele dia, fui obrigado a apelar.

Logo quando entrei vi que o "monumental" do nome faz todo o sentido. Os acessos são largos e uma estátua do cacique dá as boas vindas aos torcedores que chegam na parte nobre. Subimos uma pequena escada e antes de chegar ao setor das cadeiras, há um enorme hall com lojas, lanchonetes e muito da história do clube fundado em 1925. Quando seguimos pelo caminho nos assentos... aí a coisa fica séria. O visual com a Cordilheira dos Andes ao fundo é absurdamente espetacular. Não há como não se emocionar com o cenário que parece saído de um quadro. De todas as canchas próximas dos Andes, essa sem dúvida é uma das mais belas.



Entrada do Estadio Monumental, casa do Colo-Colo e o detalhe do Cacique que fica logo acima das escadas. Fotos: Fernando Martinez.


Detalhe de todos os escudos do "El Popular" no hall de entrada da parte nobre da cancha. Foto: Fernando Martinez.


O enorme hall da arquibancada coberta do Monumental. Foto: Fernando Martinez.


Sem dúvida essa é uma das mais belas vistas de um estádio de futebol que já vi. Os Andes transformam qualquer paisagem em algo espetacular. Foto: Fernando Martinez.

Como o JP é cultura, vale contar que o majestoso estádio começou a ser construído em 1958 com intuito de ser utilizado na Copa do Mundo de 1962. Depois do terremoto de 1960, o comitê organizador resolveu usar apenas canchas já existentes no país, e com isso a construção se arrastou por longos anos até a esperada (e demorada) inauguração oficial meio nas coxas em 1975. Depois de apenas seis jogos, o Colo-Colo deixou de usar o estádio pois viu que ele não era seguro para os torcedores. Foi somente em 1989 que o "El Popular" passou finalmente a utilizá-lo com frequência.

O local foi palco da grande final da Libertadores de 1991 (triunfo do Cacique contra o Olimpia) e da Copa Interamericana do ano seguinte (outra conquista do alvinegro, agora contra o Puebla). Também recebeu duas pelejas da Copa América disputada em junho deste ano: a derrota brasileira contra a Colômbia e o triunfo em cima da Venezuela. Além disso, já foi palco de onze compromissos da seleção nacional. Planejado para receber 120 mil pessoas (!), foi construído com capacidade de 62 mil. Por questões de segurança, hoje cabem 47 mil pessoas.

Apesar da enorme capacidade, somente oito mil pagantes se aventuraram a acompanhar de perto a tentativa do Colo-Colo alcançar a semi-final da Copa Chile. Na partida de ida realizada na semana anterior longe dos seus domínios, o time da capital venceu por 3x2 e precisava de apenas um empate para se garantir entre as quatro melhores agremiações da competição. Na fase anterior, a equipe eliminou o Coquimbo Unido com um triunfo e um empate.


Festa da torcida do Colo-Colo com a entrada da equipe em campo. Foto: Fernando Martinez.


Times se cumprimentando antes da peleja decisiva pela Copa Chile. Foto: Fernando Martinez.


A fiel torcida do Deportes Copiapó marcando presença no Monumental. Foto: Fernando Martinez.

Sentado confortavelmente numa das cadeiras de ferro - que lembrava muito as do antigo Palestra Itália - vi um jogo bem movimentado que teve o escrete local passando um sufoco totalmente desnecessário. O começo até que foi bom e os 21 minutos Emiliano Vecchio abriu o placar com um chute forte do meio da área depois de rebote da zaga. Só que o Copiapó não se abateu e deixou tudo igual aos 29. Num escanteio da esquerda, a bola passou por todo mundo, mas não por Sebastián Villegas, camisa 20, que finalizou bem.

Dois minutos depois, mais uma vez o Colo-Colo ficou em vantagem. Esteban Paredes chutou com o pé esquerdo de fora da área no canto esquerdo do gol defendido por Ignacio González. Novamente os visitantes tentaram e quase empataram por dois momentos aos 41 e 42. Quando o tempo inicial chegou ao fim, o triunfo parcial de 2x1 a favor do Cacique estava garantindo a classificação.


Ataque do Copiapó no começo do jogo. Foto: Fernando Martinez.


Investida do Colo-Colo pela direita. Foto: Fernando Martinez.


Bola viajando dentro da área local. Foto: Fernando Martinez.

O Leão de Atacama retornou pro tempo final sabendo que precisava de dois gols para pelo menos levar a decisão aos pênaltis. Eles conseguiram encurralar o Colo-Colo no campo de defesa e foram responsáveis por momentos de muito perigo, deixando os torcedores bastante preocupados. Primeiro Luis Bevacqua quase empatou aos três, depois foram boas chances aos 10, 13 e 18 minutos. De tanto insistir, Muriel Orlando fez o segundo aos 25 de cabeça, fazendo a esperança renascer.

Esse tento sofrido deixou o Copiapó animado e os atletas se lançaram ao ataque sem nenhuma preocupação defensiva. Passamos a ver um Colo-Colo tentando evitar a zebra apostando nos contra-ataques. Foi aquele famoso "toma lá dá cá" com momentos bons dos dois lados. A torcida local sofreu demais até o último trilar do apito do árbitro. No fim, o favoritismo local foi confirmado apesar de todo o sufoco sofrido.


Troca de passes no ataque do clube alvinegro. Foto: Fernando Martinez.


Em toda a cobrança de escanteio alguém com um enorme guarda-chuva ia proteger os atletas. E não eram só do time visitante, como dá pra ver nessa imagem. Foto: Fernando Martinez.


Córner a favor do Colo-Colo já no segundo tempo. Foto: Fernando Martinez.

O placar de Colo-Colo 2-2 Deportes Copiapó colocou o Cacique na semi-final da Copa Chile para pegar o Unión Española. O time eliminou os "hispanos" e chegou na decisão contra o Universidad do Chile. O título acabou ficando com a equipe azul nos pênaltis. Da minha parte, ficou a ótima impressão de ter assistido um cotejo num estádio simplesmente genial. Foi certamente um dos mais legais que visitei nessa Magical Mystery Tour ao país sul-americano.

Saí do Monumental na boa e dali voltei ao hotel. No caminho parei um bar pensando em fazer aquela boquinha esperta e absolutamente necessária. Encontrei ali dois chilenos "muy borrachos" que se diziam corintianos e apaixonados pelo futebol brasileiro (vale registrar que a simpatia dos moradores locais foi um dos pontos altos de toda a viagem). Mandei bala numa pizza ótima e fui pra cama bem cedo. A agenda da sexta-feira marcava um bate-volta genial ao litoral. A Copa do Mundo sub-17 voltou ao cronograma numa rodada que foi um dos pontos altos da minha vida.

Até lá!

Fernando

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