terça-feira, 11 de setembro de 2012

A difícil missão de assistir um jogo do Brasil no estádio

Opa, 

Depois de sair de Guarulhos, segui via ônibus-metrô-ônibus até o bairro do Morumbi, local da segunda parada no dia de aniversário de 190 anos da independência do país. Mas essa presepada de "vou comemorar a data da minha querida terra vendo um jogo da seleção do Brasil" não é algo que combine comigo, e fui mesmo ao Estádio Cícero Pompeu de Toledo somente para colocar na minha Lista a seleção da África do Sul, meu 543º time em todos os tempos. 

Antes de falar da peleja em si, vale registar que se fosse depender do ingresso para saber o adversário da seleção canarinho eu ficaria numa dúvida cruel. O mesmo mostra os escudos da CBF e da "South African Cricketers Association", e não da "South African Football Association". Isso mesmo, o responsável pela confecção do layout do ingresso escolheu o escudinho da seleção de críquete (!) da África do Sul e não da seleção de futebol. Um erro primário e grosseiro, feito provavelmente por algum figura que não sabe sequer fazer uma pesquisa decente pelo Google. 


Ingresso do amistoso entre a seleção de futebol do Brasil e a seleção de críquete da África do Sul no Morumbi. Reprodução: Fernando Martinez. 


Escudinhos das seleções de futebol e da seleção de críquete do país africano. Nota 0 para o figura que pesquisou o escudo errado na internet. Reprodução: Pesquisa na internet.

Bom, a seleção sul-africana (de futebol) veio pela primeira vez ao país e esse foi somente o segundo time da minha Lista vindo do continente (o primeiro foi o Raja Casablanca do Marrocos, no Mundial da FIFA de 2000), então não tinha como perder a peleja. Depois de perder o Uruguai em 2007 e a Romênia em 2010 por não conseguir um mísero ingresso, dessa vez a minha presença era questão de honra. 

Chegamos então ao Morumbi e nos assustamos com uma inexplicável fila que dava a volta no estádio e achamos que estávamos ferrados. Menos mal (para nós) que aquela era a fila para a retirada de ingressos dos torcedores que compraram suas entradas pela internet. Em qualquer país que seja pelo menos um pouquinho sério, uma situação dessas seria caso de polícia. Infelizmente ainda somos obrigados a ver pessoas sem capacidade nenhuma (vide o figura que errou o escudo no ingresso) administrando grandes eventos. A fila era tão grande que teve gente entrando no jogo somente nos 15 minutos do segundo tempo (!). 


Um fotógrafo que deve ter conseguido burlar o antiquado esquema local e conseguiu entrar de bermuda em campo para captar as imagens da peleja e a presença de Chabangu no amistoso. Pena que o pessoal que curte a bebida não paga royalties para a equipe da zona oeste carioca. Fotos: Fernando Martinez. 

Aguardamos um tempo fora do Morumbi e então entramos para buscarmos nossos lugares nos respectivos setores. Fiquei sozinho na arquibancada vermelha, e logo percebi que os espectadores seriam compostos por 98% de "torcedores" sem a menor noção de como agir num estádio de futebol, o famoso "torcedor de ocasião". Essa massa está acostumada a ver jogos pela TV e quando se aventura a ir num campo de verdade me faz sentir uma vergonha alheia extrema, algo que já havia sentido nos cinco jogos do Brasil que assisti pelas Eliminatórias em 2000/2001 e 2004, além do amistoso de despedida do Romário em 2005 contra a Guatemala. 


Uma iniciativa legal da CBF ao homenagear familiares de atletas que foram campeões do mundo em 1958. Além deles, Moacir e Oberdan, jogadores históricos de Flamengo e Palmeiras, também receberam uma bela homenagem. Ao lado, a orquestra regida por João Carlos Martins tocando o Hino Nacional Brasileiro. Fotos: Fernando Martinez. 

No melhor esquema "tudo pelo social", resolvi ficar na minha. Escolhi um lugar até então tranquilo, tirei a máquina fotográfica da mochila, abri um pacote de bolacha que serviu de almoço, coloquei um fone para ouvir o começo da transmissão da peleja pelo rádio e desencanei de tudo que estava acontecendo ao meu redor. 


Visão do Morumbi com mais de 50 mil pagantes para Brasil x África do Sul. Foto: Fernando Martinez. 

Não demorou muito para que as duas seleções entrassem em campo para disputar esse amistoso internacional. Gostei quando vi que o Brasil jogaria de azul, pois nunca tinha visto a seleção nacional jogando com a sua camisa mais bonita. Além disso, muito legal ver ao vivo um jogo com a presença do maior artilheiro dos "Bafana Bafana" Benni McCarthy ("o jogador tem seios", disse o comentarista PVC na melhor definição sobre o atleta), figuraça do mundo do futebol. 



Formações titulares das seleções posando no Morumbi. Tudo bem, estava longe, mas vale registrar as imagens no JP. Fotos: Fernando Martinez. 

Hinos executados de forma brilhante por uma orquestra regida pelo maestro João Carlos Martins e logo os times já estavam alinhados para o começo da peleja. E nem bem o jogo começou, os torcedores de ocasião já resolveram aprontar. Foi só o atacante Leandro Damião errar um lance na lateral que o Morumbi passou a escutar sonoras vaias direcionadas ao jogador do Inter. Pior, elas vieram com um coro de "Luís Fabiano, Luís Fabiano". 


Neymar atacando pela esquerda. Foto: Fernando Martinez. 

Não vou entrar no mérito da convocação de jogador A ou B, até porquê a linha editorial do JP é outra, mas é chato demais acompanhar um jogo com um monte de xarope vaiando e gargalhando logo em seguida. Vaias com motivo real e em virtude de uma consciência coletiva do ato ou de uma ideia específica em si tudo bem, mas vaia simplesmente pelo fato de "ser engraçado" não dá. 


Ataque brasileiro pelo alto. Foto: Fernando Martinez. 

E para servir como cereja do bolo de tanta barbaridade que vi nas arquibancadas, o Brasil fez uma partida simplesmente assombrosa e não jogou absolutamente nada. A África do Sul, atual 74ª colocada no ranking da FIFA e que venceu apenas um jogo nesse ano de 2012, jogou pro gasto e mesmo assim criou boas chances para abrir o marcador. O selecionado da CBF também criou, mas o jogo chegou no intervalo sem a abertura do placar. 


Chegada do escrete canarinho no primeiro tempo. Foto: Fernando Martinez. 

No segundo tempo o panorama não foi nada diferente, e foi fraco demais o futebol apresentado no gramado do Morumbi, estádio aonde eu não via um jogo desde abril de 2008 (período em que acompanhei sete shows). De bom mesmo, só a vinda dos amigos ao setor em que me encontrava e o gol do atacante Hulk, num isolado lance de felicidade do time durante toda a peleja. 


Zaga sul-africana se preparando para jogar a bola pra longe da sua área. Foto: Fernando Martinez. 

No final, o marcador ficou mesmo em Brasil 1-0 África do Sul e os jogadores saíram de campo sob uma das maiores vaias que já vi num estádio de futebol. Com esse panorama, dificilmente seremos campeões da Copa 2014. E apesar das várias reclamações que fiz durante esse post (foi mais forte do que eu, me desculpem) saí feliz do Morumbi, pois tinha colocado uma seleção legal e bastante difícil de se ver na minha Lista. 


Placar final do jogo no Morumbi e o 543º time incluído na minha Lista em todos os tempos. Foto: Fernando Martinez. 

Saímos dali para enfrentar a dura tarefa de voltar para casa sem tanto aperto. Eu e o Nílton demos sorte novamente, pois pegamos um ônibus com lugares para se sentar e um metrô sem quase ninguém no vagão. Perfeito! Mas o feriadão prolongado estava apenas começando, e o sábado me reservou uma rodada dupla no ABC paulista. 

Até lá! 

Fernando

2 comentários:

  1. Fernando, o símbolo da protea (aquele da flor) não é o distintivo da South Africa Cricket, que é esse: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Southafrican_criclogo.jpg

    O distintivo da protea é um símbolo nacional, presente nos uniformes das seleções de diversos esportes, não só a de críquete:
    - Futebol: http://www.footballkitnews.com/wp-content/uploads/2011/06/Puma-New-South-Africa-Jersey-2011-2012.jpg
    - Basquete: http://www.basketballsouthafrica.co.za/sites/default/files/imagecache/bsa-gallery-view/gallery/superadmin/dsc_0312.jpg
    - Hóquei: http://www.sahockey.co.za/images/phocagallery/thumbs/phoca_thumb_l_justin-reid-ross.jpg
    - Rúgbi de Sete: http://www.rugby15.co.za/wp-content/uploads/2010/02/Springbok-Sevens-Squad-for-George-and-Dubai-1024x6181.jpg

    Existe hoje uma controvérsia sobre "macular" a camisa dos Springboks, a adorada seeção de rúgbi deles, com esse distintivo.

    Era mais adequado que tivessem usado o distintivo da SAFA, concordo, mas acho que não foi um erro tão grosseiro assim.

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    1. Fala, Paulo. Parabéns pela sua perfeita explicação, e achei vários uniformes do time de críquete com esse logo, inclusive com o próprio nome de "SA Cricket" como coloquei no post. No mais, ainda continuo achando que foi um erro grosseiro. Explico: o cara simplesmente colocou um escudo que não tem absolutamente nada a ver no ingresso. O figura deve ter feito uma pesquisa bunda no Google, achou esse desenho em primeiro lugar e mandou confeccionar o ingresso desse jeito. Faltou cuidado em ver qual era o escudo da SAFA. Faltou prestar atenção que eu, você e mais alguns que gostam mesmo de esporte teríamos prestado. Abração e valeu a visita, como sempre!

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