quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Fútbol Argentino, volume VI: San Lorenzo/Deportivo Laferrere

Aupa!

Vamos com mais um volume dessa série Fútbol Argentino, que anda devagar, mas anda. Hoje o destaque é um time grande, mas que eu considero simpaticíssimo, o San Lorenzo de Almagro. O clube tem sua sede social no bairro de Almagro, mas construiu seu estádio, o Pedro Bidegain, em outro bairro, o Nuevo Gasometro, que acabou se tornando o nome popular do estádio.

Ir do Centro de Buenos Aires até lá não é tão complicado, mas como eu estava em Flores, onde eu fui visitar o Sacachispas e o Deportivo Espanhol, os caminhos tiveram que ser outros. Bom, o bairro Nuevo Gasometro não é o que poderíamos chamar de lugar tranqüilo, aliás, na verdade, está bem longe disso.


Fachada da entrada principal do estádio do San Lorenzo. Foto: Emerson Ortunho.

Chegando na portaria do estádio fui obviamente tentar entrar no para fotografar. O porteiro foi logo dizendo que era muito difícil entrar lá. Obviamente eu perguntei qual era o impedimento e o que eu deveria fazer para entrar. Sem muitos rodeios o cara disse que eu tinha que pagar a factura.

Aos desavisados pode parecer que eu teria que pagar um boleto bancário para entrar no estádio. Porém, na Argentina, factura é um tipo de pão adocicado muito comum nas padarias e nos cafés, ou seja, o porteiro queria uma boa e velha caixinha. Aí eu simplesmente dizia não entender exatamente o que ele queira e que não tinha dinheiro, estava viajando de ônibus, etc. Por fim ele se encheu e resolveu me levar para visitar o estádio.

Logo na estrada tem o estádio das divisões de base. A arquibancada é pequena, deve caber umas 2.000 pessoas, mas muito bem arrumada e aconchegante. Para divisões inferiores é ótimo, e o gramado também é de exelente qualidade. Para se ter uma idéia, esse estádio é muito melhor que o do Deportivo Riestra, que fica ali vizinho.


Estádio das divisões de base do San Lorenzo. Fotos: Emerson Ortunho.

Falando do estádio principal, ele me pareceu um dos melhores da Argentina. No entanto, percebe-se que a arquitetura, apesar de moderna, não colocou a beleza como foco da construção. O estádio é usual. Ele é grande, bem distribuido, mas acho que ninguém se preocupou se iria ficar bonito, ou feio. No fim, acabou ficando até bonito, ou no mínimo diferente, pois ele fica longe das formas cilíndricas, ou semi-cilíndricas dos estádios mais antigos.


Vista da arquibancada coberta do estádio. Foto: Emerson Ortunho.


Vista lateral da arquibancada coberta. Foto: Emerson Ortunho.

Tudo por lá, além de parecer novo, parece também ser muito bem cuidado, estava tudo limpo e arrumado, áté me surpreendeu o cuidado com o estádio. Agora, notem nas fotos os arames farpados usados para impedir que os barra-bravas não subam nos alambrados. Isso é muito comum na Argentina.


Vista da arquibanca que fica atrás de um dos gols. Foto: Emerson Ortunho.


Arquibancada lateral do estádio, oposta as cobertas. Foto: Emerson Ortunho.

Posso garantir que vale a visita, e poder entrar no campo foi sensacional. No fim das contas, o porteiro até que mereceu a caixinha, mas acabamos batendo um longo papo sobre futebol e ficou tudo por isso mesmo.

Pensaram que o dia acabou, que nada, o duro foi sair dali. Bom, o dia já estava caminhando para o seu crepúsculo e o único ponto de ônibus do pedaço era em frente a uma favela. Sem alternativa, lá fui eu. Como eu não sabia exatamente que ônibus tomar, fiquei ali esperando um que me levasse a alguma estação de trem.

Depois de 30 minutos por ali e já percebendo que estava sendo sondado pela turma de um buteco, comecei achar que era hora de sair dali. Sem muita alternativa resolvi entrar no primeiro ônibus que passasse, e assim o fiz. Detalhe que ali os ônibus não paravam no ponto, somente diminuiam a velocidade para você entrar. Um tanto aliviado, lá estava eu, num ônibus qualquer, com o destino: Laferrere.

Fiquei até tranquilo quando vi no meu guia que em Laferrere tinha estação de trem. Mas minha tranquilidade acabou quando eu olhei pela janela e vi passar o clube Deportivo Laferrere. Não tive dúvida, saltei do ônibus e fui conhecer o local.


Fachada do clube Deportivo Laferrere. Foto: Emerson Ortunho.


Treino das categorias de base no campo do clube. Foto: Emerson Ortunho.

O Deportivo Laferrere disputa atualmente a Primera C (quarta divisão) e manda seus jogos no estádio que fica no centro da cidade homônima, o campo do clube é usado somente para treinamentos. Curiosidade matada, o négócio era continuar meu caminho rumo a uma estação de trem. Enfim, voltei para a estrada e peguei o ônibus mais perdido da minha vida. Sabe aqueles com frente de caminhão Mercedez 1113, e se não bastasse, completamente lotado e com o assoalho todo estourado. Consegui apoiar um pé no chão e o outro ficava em cima de um buraco, por onde eu via o asfalto passar embaixo.

Nessa hora aconteceu o papo mais surreal de toda minha vida. Do nada, um cabeludo que já estava dentro do ônibus, bateu na minhas costas, dizendo que eu tinha que levar o filho dele para jogar no Brasil. Bom, como ele sabia que eu era brasileiro se eu não estava falando com ninguém dentro do ônibus? E como ele sabia que eu tinha algum relacionamento com futebol? Só o fato de eu estar perto do Laferrere já bastou para isso? Sei lá... Só sei que ele e me abraçava e dizia que o filho dele era goleiro do Deportivo Paraguaio, e que eu não iria sair de lá sem ver o filho dele treinar.

Foi difícil, mas só consegui me livrar do cara com a feliz ajuda de um boliviano, que disse que eu era seu amigo e que eu não tinha nada a ver com futebol. Contudo, cheguei no centro de Laferrere já escurecendo e ainda consegui comprar umas camisas da equipe antes de correr para a estação de trem para voltar são e salvo para Buenos Aires.

Saludo!

Emerson

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