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quinta-feira, 30 de junho de 2016

JP na Argentina 17 (9/9): A despedida com Ferro x Villa Dálmine

Texto e fotos: Fernando Martinez


Na gélida noite do último dia 19 de abril, a minha 12º longe do Brasil, encerrei com chave de ouro a minha Magical Mystery Tour de 2016 com meu décimo jogo, nono estádio e o 14º time novo na Lista. A despedida não foi numa cancha inédita, mas só o fato de ter ido outra vez no Estadio Arquitecto Ricardo Etcheverri para uma apresentação do sensacional Club Ferro Carril Oeste já valeu a pena. O adversário dos Verdolagas foi o Club Villa Dálmine com sua belíssima camisa lilás. A peleja foi válida pela 12ª rodada do Campeonato de Primera B Nacional.

Como foi meu último dia inteiro em Buenos Aires fiz algumas coisas que ainda não tinha feito, como visitar alguns sebos na Avenida Corrientes. Estava garoando e fazia bastante frio, logo, foi delicioso andar pelas ruas do centro. Dai fui pelo Subte - o metrô deles - até a região do Caballito garantir meu ingresso com antecedência, mesmo sabendo que o público não seria alto. Aproveitei e visitei a genial lojinha do Ferro e, como a camisa oficial era caríssima, comprei um moletom com o primeiro escudo da história da agremiação. Já é vestimenta obrigatória em dias de frio.


Ingresso da minha última partida na Magical Mystery Tour de 2016. Foram dez jogos em dois países e muita história pra contar

Ainda consegui fazer um bate-volta no hotel e deixei minhas coisas lá antes do cotejo. Cheguei cedo e fui dar uma volta no clube, algo que não consegui fazer em 2009 nas duas vezes em que estive na praça de esportes (Ferro 1-2 Belgrano de Córdoba e Chacarita Juniors 4-2 Unión Santa Fé). Muitos sócios estavam passeando pelas alamedas e também aproveitando as várias quadras do local, além do belo ginásio. Falando do estádio em si, ele é majestoso e foi construído no terreno que tinha o campo do Flores Rugby Club. A inauguração oficial aconteceu em 1905, fazendo com que seja a mais antiga cancha do país e a segunda das américas, perdendo o primeiro lugar para o Parque Central em Montevidéu (estive lá também nessa viagem no duelo Nacional e Rosario Central pela Libertadores), que foi inaugurado em 1900.

O adversário do Ferro foi o genial Villa Dálmine. Em 1957 a fábrica Dálmine SAFTA, sediada em Campana, resolveu fundar um time para a prática do esporte entre seus funcionários. Em 1961 eles se filiaram à AFA e fizeram uma campanha avassaladora na Primera D, conquistando o título. Desde então, mais de 50 participações entre a Primera B, Primera B Metropolitana e Primera C. Podemos dizer que é uma agremiação vitoriosa, pois também tem na sua sala de troféus as conquistas da Primera C em 1963, 1975, 1982 e 2011/2012, além da Primera B em 1988/1989. O Villa ocupava a 19ª posição antes desse encontro.

O retrospecto meia bomba em 2016 não indicava que o Ferro tinha chances de voltar à elite. Desde que caiu da principal divisão do nacional na temporada 1999/2000, o alviverde nunca retornou. Eles ocupam minhas memórias de infância muito pelo nome, que é espetacular, e também pela participação na Libertadores de 1985. A maior preocupação dos hinchas na noite, além da campanha claudicante, era o estado do gramado. No sábado anterior rolou um grande show ali e a multidão que lotou o evento deixou o relvado num estado deplorável.

Cerca de 3,500 torcedores pagaram ingresso e assistiram, na opinião dos especialistas, a pior performance do onze mandante em toda a competição. Num confronto que foi transmitido ao vivo pela TV, o limitado Villa Dálmine mostrou serviço e foi superior aos donos da casa. Todo mundo sabe da animação constante das torcidas portenhas, porém nessa partida específica eles trocaram a cantoria pelos apupos, vaias e xingamentos direcionados a atletas e dirigentes.


O nome oficial do Caballito pintado nas cabines de imprensa


Os lugares mais caros do estádio são identificados por esse azulejo com o escudo e o nome do Ferro Carril Oeste, um dos times mais legais da Argentina


Ferro Carril e Villa Dálmine em campo na minha despedida futebolística de Buenos Aires


Ataque aéreo do Villa Dálmine

Uma coisa é fato: os atletas do Ferro tiveram uma atuação super homogênea. Todos foram mal, sem exceção. A defesa falhou direto, o meio-campo não fez nada e o ataque deixou a desejar quase todas as vezes em que foi acionado. O escrete lilás foi tranquilo e não sofreu sustos para consolidar uma importante vitória. Renso Pérez se tornou o dono da noite com dois gols. O primeiro aos 12 minutos num chutaço de longe. O segundo aos 42 num toque de classe que encobriu o goleiro Limousin.

Eu estava de boa na tribuna do Caballito, já que a temperatura era sensacional e porquê em menos de 24 horas estaria de volta ao Brasil. A ideia era curtir tudo da melhor forma possível. No intervalo fui fazer aquela boquinha com os panchos na pequena e concorrida lanchonete e voltei bem alimentado ao meu assento. No tempo final o Ferro tentou emplacar alguma reação, só que os visitantes estavam bem postado.

A insistência deu resultado aos 30 minutos quando o camisa 7 Díaz finalmente conseguiu vencer o goleiro Carlos Kletnicki e diminuiu. O tento animou momentaneamente os hinchas em busca do até então improvável empate. Foram três minutos de pressão até que os presentes tomaram um grande banho de água fria. A zaga da casa falhou e a finalização visitante tinha endereço certo. Teria se o zagueiro Frontini não tivesse feito uma defesa incrível como se fosse um goleiro. O árbitro expulsou o jogador e marcou pênalti. O camisa 4 Alvarez cobrou com categoria e fez o terceiro, matando a esperança da Locomotora del Oeste.


A equipe da casa atacando pela esquerda


Chance muito perigosa do Ferro depois de escanteio na área


A visão que temos da parte coberta do Caballito é essa. A região em que fica o estádio é bastante interessante


O time visitante fez uma bela partida e conquistou um triunfo importante fora de casa

O placar final de Ferro Carril 1-3 Villa Dálmine derrubou El Expreso de Caballito para a 15º posição com os mesmos 15 pontos ganhos enquanto os Campaneros subiram ao 17º posto com 13 pontos. Apesar de terem xingado seus atletas durante os 90 minutos, quando eles saíram de campo foram aplaudidos por todos os presentes. Como foi a minha despedida futebolística, fiquei ali até os simpáticos integrantes da PFA informarem, com toda a educação do mundo, que precisava ir embora.

Passei a última noite em Buenos Aires indo pela terceira vez comer um maravilhoso bife de chorizo num ótimo restaurante da Corrientes e depois passear pela 9 de Julio e sentir o incrível clima de outono. No dia seguinte acordei cedo e, antes de voltar pra casa, fui numa loja e comprei quatro camisas para a coleção. Além delas, na bagagem eu trouxe muitas guloseimas, dez jogos em dois países diferentes, 14 times novos, nove estádios inéditos visitados, alguns perrengues, muita chuva, um tornado no Uruguai e muita história. Não sei quando terei condições de repetir a dose, mas é fato que a segunda Magical Mystery Tour na América do Sul foi especial demais.

¡ Hasta la próxima !

© 2019

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