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quinta-feira, 5 de novembro de 2015

JP no Chile (Parte 2 de 13): Mais uma abertura de Copa do Mundo, agora sub-17, na Lista


Os amigos que visitam o JP sabem que fizemos uma cobertura bem peculiar da Copa do Mundo (caso não saibam, basta clicar aqui e conferir tudo que fizemos em junho e julho de 2014). Da minha parte, visitei seis sedes e pirei de verdade graças a tudo que vivi. Foi fácil decidir que marcarei presença em outro mundial, mas como 2022 ainda está um pouco longe, resolvi me virar com outra Copa, dessa vez na categoria sub-17.

Os torneios de base da FIFA quase sempre são realizados em países do "submundo" futebolístico, como Finlândia, Trinidad & Tobago, Nova Zelândia e Emirados Árabes Unidos. Para a minha alegria, o Chile venceu a disputa para sediar a Copa do Mundo sub-17 desse ano (derrotando País de Gales, Rússia e Tunísia). Juntei então a fome com a vontade de comer e me preparei por muito tempo para me aventurar pelo país sul-americano durante a primeira fase do certame.

Comprei os ingressos de forma bem tranquila pela internet mesmo ainda sem a lista dos participantes estar completamente definida. Montei um esquema ninja para assistir dez partidas válidas por cinco das seis chaves da competição. Não dei muita sorte no sorteio, pois quatro das nove seleções inéditas da minha Lista acabaram caindo no grupo mais distante de Santiago - Puerto Montt, a mais de 900 quilômetros da capital. As outras cinco estavam devidamente "cobertas" pelo meu cronograma (a programação depois foi alterada e uma rodada foi cortada. Essa história será contada nos próximos posts).

Planejei iniciar as coberturas logo na abertura oficial da competição, marcada para a tarde/noite do sábado, dia 17 de outubro. O legal é que a primeira rodada dupla foi a única marcada para o Estadio Nacional Julio Martínez Prádanos, o histórico Estadio Nacional de Chile, localizado no bairro de Ñuñoa.

Inaugurado em 1938 (com um genial Colo-Colo 6-3 São Cristóvão, duelo digno dos nossos pensamentos non-sense), o estádio sediou alguns jogos da Copa de 1962, 74 jogos da Copa América, onze finais de Libertadores, duas de Copa Sul-Americana e partidas do Mundial sub-20 de 1987. Isso sem contar inúmeros confrontos antológicos da seleção brasileira e dos clubes tupiniquins.

Apesar de ter sido construído com fins unicamente esportivos, não há como não ligar o local com o regime miltar iniciado em 11 de setembro de 1973. Nos dois primeiros meses após o golpe, o estádio foi transformado num campo de concentração e mais de 40 mil pessoas passaram por ali. Várias delas, cerca de 3 mil, não saíram vivas.

Na grande reforma de 2008, o Estadio Nacional foi todo remodelado, mas o portão 8, a única ligação daqueles prisioneiros de 1973 com o mundo exterior, foi mantido intacto e a frase "Un pueblo sin memoria es un pueblo sin futuro” foi pintada para que ninguém esqueça aqueles tenebrosos dias. Um exemplo para outros países que ainda insistem em não contar sua história como ela realmente aconteceu.

Com tanta memória envolvida, eu precisava ir lá de qualquer jeito. O bom é que o acesso ao principal palco do futebol chileno é super fácil. Peguei o metrô na Estação La Moneda (da Linha 1), fiz baldeação na Estação Baquedano (da Linha 5) e então segui até a Estação Ñuble. Um percurso que levou cerca de vinte minutos. Dali andei mais quinze pela Rua Carlos Dittborn até conseguir visualizar o majestoso estádio com a Cordilheira dos Andes ao fundo.


Outdoor nos arredores do Estadio Nacional. Foto: Fernando Martinez.


Os Andes fazem parte do cenário de quase toda cidade de Santiago. Aqui, numa das laterais de todo o complexo que abriga o estádio. Foto: Fernando Martinez.


O Portão 8 preservado como em 1973. Foto: Fernando Martinez.

Enquanto dava a volta no complexo pelas Avenidas Grecia e Pedro de Valdivia até a entrada principal, foi caindo a ficha que estava prestes a assistir outra cerimônia de abertura de um torneio organizado pela FIFA. Obviamente que o clima era muito diferente que vivi no Brasil x Croácia de 2014, mas mesmo assim consegui, guardadas as devidas proporções, matar um pouquinho da saudade.

O público ainda era pequeno quando finalmente passei pelos portões. Algo natural, já que a seleção da casa só entraria em campo no jogo de fundo. Com isso, não foram muitos os que acompanharam desde o início a abertura oficial da Copa do Mundo sub-17 2015 com o confronto da Nigéria, a atual campeã, contra os Estados Unidos pelo Grupo A.

Por conta de tudo que descrevi lá no alto, me emocionei demais ao subir para as arquibancadas e fiquei uns dez minutos simplesmente parado no portão para assimilar de forma completa que realmente todo esforço que fiz por meses e meses havia dado resultado. Com capacidade para 48.665 pessoas, o local parece maior pela televisão. Independente disso ainda é um estádio absolutamente sensacional.

Logo fui para o meu lugar marcado, perto do gramado e também muito perto das numeradas cobertas. A visão dali é única, pois os Andes completam o cenário de forma brilhante. Meio fora do ar, permaneci estático observando cada detalhe possível até africanos e norte-americanos entrarem em campo.


Numerada coberta do Estadio Nacional. Foto: Fernando Martinez.



Tudo bem, não é a foto oficial com a qualidade tradicional do JP, mas impossível deixar de registrar as duas seleções posando para as fotos antes da partida. Fotos: Fernando Martinez.

Falando um pouco da histórias das duas seleções, vale lembnar que a seleção nigeriana nada mais é do que o time que mais chegou em finais do mundial da categoria (sete) e também o maior campeão com quatro títulos (1985, 1993, 2007 e 2013). Os "Super Eagles" se classificaram para seu 11º mundial depois de ficarem em quarto lugar no campeonato sub-17 da CAF. Já a classificação norte-americana foi muito mais complicada e aconteceu somente depois da vitória contra a Jamaica nos pênaltis no torneio da CONCACAF. Essa é a 15ª vez que os EUA jogam a competição. Junto com o Brasil, é a seleção com mais participações na história.

Depois de todo o protocolo da FIFA ser seguido - com direito, claro, a rolar a clássica Thunderstruck do AC/DC no sistema de som - o árbitro alemão Deniz Aytekin iniciou oficialmente a Copa do Mundo sub-17 de 2015. Os torcedores que já estavam no estádio não torceram para ninguém em especial, e assim como eu queriam apenas ver um bom jogo. A atual campeã teve dificuldades durante o tempo inicial, e os Estados Unidos surpreenderam indo bem na defesa e também no ataque.


Lance pelo alto no começo do confronto entre Nigéria e Estados Unidos. Foto: Fernando Martinez.


Campo defensivo da Nigéria densamente povoado em ataque dos Estados Unidos pela esquerda. Foto: Fernando Martinez.


Atacante Josh Perez tentando se livrar da marcação da zaga africana. Foto: Fernando Martinez.

A partida foi muito equilibrada, e a seleção americana foi quem criou a melhor oportunidade para abrir o marcador no primeiro tempo. Eram decorridos 13 minutos quando Pulisic avançou pela esquerda e mandou a bola para o meio da área. O camisa 7 Haji Wright, mesmo com o goleiro fora do lance, chutou pra fora.

O tempo inicial ficou em branco, e no segundo a Nigéria voltou disposta a não dar sopa pro azar. Aos cinco minutos o zagueiro Trusty não foi fiel aos seus princípios defensivos e afastou muito mal uma bola cruzada da direita. A pelota acabou sobrando limpa para o camisa 12 Chukwudi Agor, que chutou forte no canto para fazer o primeiro.

Aos 16 foi a vez do goleiro norte-americano cobrar um tiro de meta bem sem vergonha. O sistema defensivo do time do Tio Sam dormiu no ponto e Victor Osimhen, ligadaço em tudo que acontecia ao seu redor, recebeu, driblou a zaga e chutou forte para ampliar. A seleção norte-americana até que não se abateu, só que não teve tranquilidade suficiente para incomodar a zaga africana durante o resto da peleja.


A Nigéria foi muito melhor no tempo final e conseguiu fazer valer seu favoritismo. Foto: Fernando Martinez.


Bola no fundo das redes norte-americanas no gol de Agor. Foto: Fernando Martinez.


Disputa de bola no meio-campo. Foto: Fernando Martinez.


Os Estados Unidos tentaram fazer o gol de honra, mas não tiveram sucesso. Foto: Fernando Martinez.


Placar final do jogo de estreia da maior campeã da Copa do Mundo sub-17. Foto: Fernando Martinez.

No fim, a maior campeã da Copa do Mundo sub-17 estreou com o pé direito no Chile: Nigéria 2-0 Estados Unidos. Logo depois do apito final, começou a tímida cerimônia de abertura, e a torcida já ocupava boa parte das arquibancadas do Estadio Nacional para a estreia da seleção da casa no Mundial.

Até lá!

Fernando

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