Procure no nosso arquivo

terça-feira, 19 de agosto de 2014

JP no histórico "não-jogo" entre Grêmio Barueri e Operário/MT

Opa,

A rodada desse final de semana aqui no JP foi sensacional. Vimos jogos de categorias de base, futebol profissional e até de masters, num cronograma corrido mas altamente gratificante. Foram oito pelejas de todos os níveis que contaram com a nossa presença. Bom, oito não, sete, já que o jogo Grêmio Barueri x Operário-VG, válido pelo Campeonato Brasileiro da Série D, não aconteceu e vimos de camarote um momento histórico para o futebol tupiniquim.


Placar da Arena Barueri mostrando o jogo que não aconteceu. Foto: Fernando Martinez.

Todo mundo que acompanha futebol sabe que um pouco da história do GRB. A equipe surgiu no profissionalismo em 2001 na disputa da extinta Série B3. De 2002 até 2006 a equipe engatou uma antológica sequência de cinco acessos seguidos - com destaque para os títulos da A3 de 2005 e A2 de 2006 - e chegou na principal série do estado num percurso sem escalas.

Também em 2006 a equipe fez seu debut em âmbito nacional jogando a Série C. De primeira aconteceu o acesso para a Série B e depois de dois anos a equipe subiu para a elite nacional. Tudo corria maravilhosamente bem na superfície, com os dirigentes fazendo um belo trabalho e a torcida marcando presença na moderna Arena da cidade, erguida pela prefeitura sob os escombros do velho Orlando Baptista Novelli.

Mas no fim de 2009 aconteceu a mudança totalmente inesperada: por conta de desentendimentos em várias frentes e atraídos pela promessa de dias mais azuis no oeste paulista, os "donos" do time fizeram as malas e se mandaram para a longínqua Presidente Prudente. Esse foi o maior tiro de pé já dado por um clube de futebol no país em todos os tempos. 

Agora chamado de Grêmio Prudente, a equipe naufragou fragorosamente e menos de um ano depois da mudança voltou mansinho ao antigo lar. Só que agora o panorama era completamente diferente, pois o time não tinha mais apoio da prefeitura e nem da torcida barueriense.

A partir de 2011 começou o declínio, a chavinha virou e o Barueri passou a fazer performances risíveis nas competições que disputou. A equipe foi rebaixada na A1 em 2011, fez duas campanhas fracas na A2 em 2012 e 2013 e em 2014 ficou em 17º lugar e caiu para a A3 em 2015.

Se em São Paulo a coisa já ficou ruim, nacionalmente então ficou muito pior. Rebaixamentos inapeláveis em 2010, 2012 e 2013 - todos como lanterna - e chegada para a disputa da Série D na atual temporada. Nessa quarta divisão, a equipe havia somado até então três derrotas em três jogos e nenhum gol marcado.

Como não há nada tão ruim que não possa piorar, quem assina o cheque no GRB armou uma pindureta e os jogadores ficaram com dois meses de salários e mais quatro meses de direito de imagem atrasados. Os atletas estão passando por vários tipos de dificuldades por conta dessa lamentável situação.

Cansados de tantas promessas com o famoso "amanhã eu pago", o elenco do GRB deu um ultimato ao presidente do clube no começo da semana: caso o salário não fosse pago, EM DINHEIRO, até sexta-feira à tarde, eles não iriam para o estádio e, óbvio, a peleja não aconteceria.



Fotos exclusivas do JP com o Operário posado e o quarteto de arbitragem da partida. Só faltou o time da casa. Fotos: Fernando Martinez.

O presidente foi prometendo dia após dia acertar as pendências, mas mesmo sob as constantes ameaças dos jogadores deixou tudo para o último dia. O cartola foi até a concentração por volta das 16 horas da sexta, conversou com seus contratados, assinou um cheque no valor total devido - cerca de 400 mil reais - e deixou a critério dos verdadeiros donos do espetáculo a decisão final. 

Calejados por tantas promessas não cumpridas, e também sem ter a certeza que o cheque não era um daqueles bem borrachudos, exatamente às 18:30 todo o elenco do Grêmio Recreativo Barueri decidiu que não haveria a partida. Na Arena, fiscalização da FPF, arbitragem, advogados do sindicato e o Operário de Várzea Grande ficaram sabendo da notícia pouco antes das 19 horas.



O único bate-bola no gramado da Arena foi dos jogadores mato-grossenses. Foto: Fernando Martinez.

Como de praxe, os mato-grossenses foram a campo e esperaram os trinta minutos regulamentares para o árbitro declarar a partida como não-realizada, num clássico "WO". O time rubro-verde, se confirmada a vitória por 3x0 no STJD, viraria líder do Grupo A6 com nove pontos ganhos e quatro gols de saldo.


Banco de reservas do Operário. Fotos: Fernando Martinez.

Esse sem dúvida foi o ponto mais baixo da curta história do Grêmio Barueri no futebol profissional nos seus 13 anos de existência. Uma situação humilhante, melancólica, vergonhosa para uma equipe que chegou a alçar voos relativamente altos no futebol paulista e brasileiro. Nós, que acompanhamos a equipe desde sua primeira competição, ficamos tristes com o que aconteceu.



Ao término dos trinta minutos regulamentares, os onze jogadores do Operário se deitaram no gramado para simbolizar a "morte do futebol brasileiro" e dar apoio ao elenco do Grêmio Barueri. Fotos: Fernando Martinez.

Vale registrar porém que esse sentimento cabe principalmente para os vários dirigentes e empresários que mataram o time com gestões desastrosas e lamentáveis nos últimos anos. Em relação aos jogadores, cabe aplaudi-los de pé pela corajosa decisão, até então inédita no "país do futebol".

Num país aonde não pagar salários virou algo normal, esperamos que essa atitude possa encorajar a outros atletas fazerem o mesmo. Sabemos de vários casos aonde jogadores passaram um campeonato inteiro sem ver a cor do dinheiro. Também somos testemunhas de presidentes que falam claramente que o jogador "tem que entrar na justiça" para receber os salários, pois o pagamento não será feito por vias normais.

Para fechar a noite histórica, o pós-"não"-jogo reservou um papo com o meia Ruy Cabeção, uma das vozes mais ativas conectadas ao sensacional movimento Bom Senso FC. Veiculamos parte da entrevista no FATV da última segunda-feira e em breve estará disponível para todos assistirem também no Youtube. O melhor é que o papo foi exclusivo.


Ruy Cabeção sendo entrevistado pelo JP e também pelo amigo Ricardo Espina. Foto: Fernando Martinez.

Voltei para São Paulo triste por não ter visto 90 minutos de futebol mas ao mesmo tempo feliz por ter feito parte desse momento inédito. Torço para que tenha sido o primeiro de vários, pois as coisas não podem mais ficar como estão.


Fim da noite histórica na vazia Arena Barueri. Foto: Fernando Martinez.

Até a próxima!

Fernando

Nenhum comentário:

Postar um comentário